Em uma das mais curtas missões de que se tem notícia da chamada Força-Tarefa de Bombardeiros, os Estados Unidos retiraram da Romênia dois bombardeiros B-52 após apenas uma semana de operação.
Com isso, fica evidente que a primeira ação dos aparelhos, 1 dos 2 que são usados para ataques com armas nucleares estratégicas dos EUA, visava apenas dar uma demonstração de força à Rússia, em crise aguda com o Ocidente desde que invadiu a Ucrânia em 2022.
Os B-52, que não carregavam armas nucleares nem faziam parte da frota autorizada para isso, ficaram em uma base a 110 da fronteira da Ucrânia. Com efeito, os russos bombardearam duas vezes na semana passada o principal porto de Kiev no rio Danúbio, em Izmail, dando o seu recado na crise.
Para completar o caráter de alerta da missão, a Força Aérea dos EUA permitiu que uma equipe da rede de TV CNN acompanhasse o voo de volta do gigantesco avião, que levou 33 horas com escoltas e reabastecimento aéreo até a base em Barksdale (Lousiana).
Esta foi a quarta Força-Tarefa do ano, e a primeira na Romênia. A anterior, baseada no Reino Unido, durou pouco mais de um mês, enquanto agora os aviões chegaram no dia 21 e deixaram o país europeu no domingo (28).
Operação mesmo ocorreu só de segunda (22) a sexta (26), e nenhuma foi especialmente provocativa das defesas russas no mar Negro, particularmente em torno da Crimeia anexada há dez anos por Vladimir Putin. A ideia foi de sinalizar, mas evitar uma escalada.
Ainda assim, houve os ataques a Izmail, que podem ter acelerado o processo de saída dos B-52, embora ninguém irá confirmar isso. Na blogosfera militar russa, o fim prematuro da missão foi celebrado como uma vitória tática de Moscou, mas analistas mais sóbrios preferiram olhar para a demonstração de prontidão do deslocamento das aeronaves.
Como disse o Comando de Ataque Global da Força Aérea dos EUA em seu site, o envio dos bombardeiros foi preparado e executado em apenas 48 horas, incluindo aí o longo deslocamento. No voo de ida, os aviões ainda testaram as defesas russas no Ártico, sendo interceptados por dois caças.
Esses entrechoques ocorrem quase toda semana nos céus disputados do mundo. Na semana passada, russos e chineses fizeram voar quatro bombardeiros com capacidade nuclear perto do Alasca, mobilizando caças americanos e canadenses, por exemplo.
O risco, de resto claro, é o de que algum acidente leve a uma escalada imprevisível, ainda mais no ambiente carregado de tensões geopolíticas atuais. Em 2022, um caça russo quase derrubou um avião-espião britânico no mar Negro, e no ano seguinte, um drone americano caiu após ser abalroado por uma aeronave de Putin.
A inserção do elemento nuclear, ao exibir os ameaçadores B-52, deu sequência à troca de ameaças desde que os russos entraram na Ucrânia.
Até este ano, a maior parte delas era da parte russa, mas o governo de Joe Biden passou a responder: primeiro, anunciando a instalação de mísseis ofensivos em 2026 na Alemanha, depois com os bombardeiros. A Otan, aliança militar liderada por Washington, estuda acionar mais armas atômicas, do tipo tático (de uso mais restrito), na Europa.
No domingo (29), Putin voltou a dizer que irá reagir de forma igual à presença das armas a 10 minutos do espaço aéreo russo. Antes, o vice-chanceler Serguei Riabkov havia dito que provavelmente a resposta será com mísseis nucleares.