Estudantes contrários às ofensivas de Israel na Faixa de Gaza continuaram acampados em vários campi universitários dos Estados Unidos nesta terça-feira (23) apesar das prisões em massa que ocorreram nos últimos dias em atos semelhantes. Em algumas cidades, novos protestos foram registrados.
Segundo a polícia, 133 pessoas foram detidas na noite anterior durante uma manifestação pró-Palestina na Universidade de Nova York. Todos foram liberados, e quatro terão de comparecer perante um juiz. As ações das autoridades, porém, não foram suficientes para coibir mais manifestações.
Novos acampamentos foram montados por estudantes da Universidade da Califórnia —instituição conhecida pelo ativismo estudantil durante a década de 1960— em solidariedade aos alunos detidos. No mesmo estado, o campus da Cal Poly Humboldt, uma universidade pública na cidade de Arcata, foi fechado depois que manifestantes pró-palestinos ocuparam um prédio.
Os novos protestos ocorreram após uma série de tumultos nos últimos dias. De um lado, manifestantes defendem sua liberdade de expressão enquanto criticam as universidades e o governo israelense e defendem o fim dos ataques contra os territórios palestinos; de outro, parte dos estudantes judeus se diz temerosa e afirma que protestos contra a guerra se transformaram em antissemitismo.
A situação se agravou na semana passada, quando cerca de cem estudantes foram detidos na Universidade Columbia, em Nova York, em caso que ganhou projeção nacional. Numa tentativa de arrefecer a tensão, a instituição decidiu suspender temporariamente as aulas presenciais e, nesta terça, anunciou que ofereceu aos alunos a opção de assistir às aulas de maneira remota até o fim do período.
Funcionários de Columbia, autoridades estaduais, membros do Congresso e a Casa Branca vêm dizendo que estudantes judeus são alvo de assédio e atos antissemitas nas universidades. Embora os organizadores estudantis tenham reconhecido “incidentes de retórica extremista”, eles sublinharam que parte dos manifestantes é de judeus e alegaram que “indivíduos inflamados” não representam o movimento antiguerra.
O prefeito de Nova York, Eric Adams, disse que as autoridades identificaram pessoas não vinculadas às universidades “causando problemas” nos protestos, em sua maioria pacíficos. “Não podemos permitir que agitadores externos sejam disruptivos”, disse ele em entrevista.
Nesta terça, a polícia desmontou um acampamento no campus da Universidade de Minnesota, na cidade de Saint Paul, depois que a reitoria pediu que às autoridades que tomassem medidas.
As alegações de antissemitismo nos EUA foram tema de uma ligação entre a vice-presidente Kamala Harris e o presidente de Israel, Isaac Herzog. “A vice-presidente condenou esse antissemitismo repugnante [nos EUA], bem como o aumento do antissemitismo ao redor do mundo. Também enfatizou seu compromisso e do presidente [Joe] Biden de se manifestarem contra isso”, disse a Casa Branca após a ligação.
Na segunda-feira, os organizadores estudantis do acampamento de Columbia já haviam rebatido tais críticas. “Nós rejeitamos firmemente qualquer forma de ódio ou intolerância e permanecemos vigilantes contra não-estudantes tentando perturbar a solidariedade forjada entre estudantes —colegas palestinos, muçulmanos, árabes, judeus, negros e pró-palestinos”, disseram os organizadores.
A tensão atual amplia um debate acerca de liberdade de expressão, acusações de antissemitismo e de posicionamentos políticos nas instituições de ensino dos EUA. Em janeiro, a então reitora de Harvard, Claudine Gay, renunciou após reações negativas a declarações suas que foram vistas como complacentes com o antissemitismo.
O Comitê de Solidariedade à Palestina da graduação de Harvard foi suspenso, e a universidade ordenou que o grupo parasse todas as atividades organizacionais ou correria o risco de expulsão permanente, segundo o jornal universitário The Harvard Crimson. Nos últimos dias, o comitê foi uma das várias organizações estudantis a organizar um protesto em solidariedade aos estudantes detidos em Columbia.