Escolhido para chefiar o Departamento de Justiça por Donald Trump, o ex-deputado da Flórida Matt Gaetz afirmou nesta quinta-feira (21) que vai retirar a indicação para o cargo.
A decisão foi tomada em meio às chances de ele ter a nomeação negada pelo Senado e enquanto enfrenta acusações de má conduta sexual. Trata-se da primeira baixa na equipe anunciada por Trump, que mais tarde nesta quinta anunciou uma nova escolha para o posto: a advogada Pam Bondi, que foi procuradora-geral da Flórida.
“Não há tempo a perder em uma disputa desnecessariamente prolongada em Washington, portanto, retirarei meu nome da consideração para servir como procurador-geral. O Departamento de Justiça de Trump deve estar em funcionamento e pronto no primeiro dia”, escreveu Gaetz na plataforma X.
“Tive reuniões excelentes com os senadores ontem. Agradeço o feedback atencioso deles —e o apoio incrível de tantos. Embora o ímpeto tenha sido forte, está claro que minha confirmação estava se tornando injustamente uma distração para o trabalho crucial da transição Trump/Vance”, continuou.
Após a mensagem de Gaetz, Trump agradeceu o aliado. “Aprecio muito os esforços recentes de Matt Gaetz em buscar a aprovação para ser procurador-geral. Ele estava indo muito bem, mas, ao mesmo tempo, não queria ser uma distração para a administração, pela qual tem grande respeito. Matt tem um futuro maravilhoso, e estou ansioso para ver todas as grandes coisas que ele fará”, escreveu o presidente eleito na Truth, sua rede social.
Nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça é um órgão que desempenha funções semelhantes às do Ministério Público Federal e do Ministério da Justiça —o departamento, por exemplo, é responsável pelo FBI, a polícia federal americana, mas ao mesmo tempo atua como acusação em casos que envolvem crimes federais.
Gaetz renunciou à cadeira na Câmara dias antes de o Comitê de Ética decidir sobre a divulgação de um relatório produzido no âmbito de uma investigação iniciada em 2021, após uma mulher afirmar que teve relações sexuais com ele quando tinha 17 anos. As autoridades também apuram o uso de drogas.
A renúncia foi vista como uma tentativa do ex-deputado de evitar a divulgação das acusações que pesam contra ele.
O Comitê de Ética da Câmara dos Estados Unidos chegou a se reunir na terça (20), mas terminou sem acordo sobre a decisão de divulgar ou não o relatório sobre o suposto caso de má conduta sexual.
Também na terça, uma reportagem do jornal The New York Times informou que uma investigação federal descobriu uma série de pagamentos feitos por Gaetz e um grupo de amigos a mulheres, entre elas uma adolescente de 17 anos, que participaram de festas sexuais de 2017 a 2020. Como o Departamento de Justiça não o denunciou formalmente, o documento ficou em segredo, mas está em posse de integrantes do Comitê de Ética.
Nesta semana, um hacker não identificado ainda obteve acesso a um arquivo de computador que foi compartilhado entre advogados cujos clientes deram depoimentos prejudiciais a Gaetz.
O arquivo contém 24 documentos, incluindo o depoimento juramentado da mulher que disse ter feito sexo com o ex-deputado quando tinha 17 anos, bem como declarações corroborantes de uma segunda mulher que disse ter testemunhado o encontro.
Apesar de os republicanos na Câmara terem atuado para manter o sigilo das informações e evitar ainda mais ruídos em torno da nomeação de Trump, senadores do partido do presidente eleito já expressavam contrariedade com a escolha.
Nesta quarta, Gaetz foi ao Congresso acompanhado do vice-presidente eleito, J.D. Vance, para uma reunião com os parlamentares na tentativa de melhorar o clima. As chances de Gaetz ser rejeitado pelo Senado, porém, eram consideráveis, e o ex-deputado decidiu pela retirada da indicação.
Nos bastidores, assessores parlamentares disseram que ele xingou senadores. Assim, não havia certeza de que os republicanos dariam a totalidade dos votos para aprová-lo. Segundo o New York Times, o próprio Trump sabia disso, mas insistiu em manter a nomeação. O presidente eleito teria participado da ofensiva para garantir apoio ao aliado. Outros republicanos também atuaram para angariar votos.
Mais tarde nesta quinta, Trump anunciou a escolha da advogada Pam Bondi para o cargo de chefe do Departamento de Justiça. Ela foi procuradora-geral do estado da Flórida e ajudou a preparar a defesa do líder republicano quando houve uma tentativa de impeachment contra ele em 2019 —à época Trump estava no primeiro mandato à frente da Casa Branca.
Ao anunciar o nome de Bondi, Trump afirmou que a advogada foi procuradora por quase 20 anos, período no qual “foi muito dura contra criminosos violentos e tornou as ruas da Flórida seguras para famílias”. “Como procuradora-geral [do estado], ela trabalhou para parar o tráfico de drogas e diminuir overdoses”, disse.
“Há muito tempo o Departamento da Justiça é aparelhado contra mim, mas isso acaba aqui. Pam vai redirecionar [a pasta] de volta ao seu propósito de enfrentar o crime e tornar a América segura novamente. Conheço a Pam há muitos anos, ela é inteligente e durona, uma lutadora que coloca a América em primeiro lugar e que será uma ótima procuradora-geral”, disse Trump.
Além da proximidade com o presidente eleito, Bondi comanda a ala jurídica do think tank America First Policy Institute, que tem trabalhado com a equipe de Trump para apresentar propostas de governo. Nesse cargo, ela coordenou uma série de processos com o intuito de judicializar os resultados das eleições presidenciais em estados-pêndulo caso o ex-presidente fosse derrotado.
Se for aprovada pelo Senado, Bondi será apenas a quarta mulher a chefiar o Departamento de Justiça dos EUA.