Em mais um dia de escalada na violência na região do mar Vermelho, teatro secundário da guerra Israel-Hamas que tem ganhado grande importância estratégica, forças rebeldes houthis e os Estados Unidos voltaram a promover ataques nesta terça (16).
O alvo dos rebeldes que dominam parte do Iêmen numa guerra civil que se arrasta desde 2014, aliados do Hamas e assim como o grupo terrorista palestino bancados pelo Irã, foi um navio grego de bandeira maltesa.
Ele foi alvejado por um míssil de cruzeiro antinavio a 140 km do porto de Salif, dominado pelos houthis em seu país. Segundo o governo grego, não houve danos significativos ou vítimas. Este foi o 29º ataque registrado desde 19 de novembro na região.
O navio, o cargueiro graneleiro MT Zografia, rumava a Israel vindo do Vietnã. Segundo a empresa de segurança naval Ambrey, ele trazia grãos, mas relatos posteriores indicam que ele estava vazio. De todo modo, ao contrário de outros episódios, neste caso há alguma ligação com Israel —justificativa dos houthis para as ações.
Na véspera, o grupo havia dito que alvejaria navios militares e civis americanos na região, declarando guerra naval na prática à maior potência do planeta. Nesta terça, repetiram a ameaça.
Os EUA evitaram entrar no jogo retórico, apesar de estarem em uma escalada constante na crise. “Nós não queremos expandir isso. Os houthis têm a chance de fazer a coisa certa, que é parar esses ataques irresponsáveis”, disse nesta terça o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança, John Kirby.
Ele comentava o fato de que os EUA realizaram, também nesta terça, o terceiro ataque aéreo a posições houthis desde a sexta (12), quando promoveram uma ação grande em conjunto com o Reino Unido e com apoio de alguns aliados.
O alvo foram quatro mísseis de cruzeiro em suas bases de lançamento, segundo o Comando Central das Forças Armadas dos EUA, que cobre a região do Oriente Médio. Foram empregados no ataque mísseis Tomahawk, lançados por navios.
O bastante sofisticado arsenal de mísseis dos houthis é uma cortesia tanto dos estoques antigos que o grupo tomou das Forças Armadas locais quanto dos iranianos, que fornecem os modelos mais recentes. A guerra civil, que opôs o Irã à Arábia Saudita, aliada do governo reconhecido, está em um cessar-fogo instável.
O elemento Teerã é outro motivo para que Washington busque reagir de forma pontual, para não se ver compelida a atacar o país e gerar uma crise regional ainda maior. Mas os sinais de atrito são claros.
Também nesta terça, os EUA disseram ter apreendido na semana passada um carregamento de armas do Irã que seria entregue para houthis. A apreensão, segundo o Comando Central, ocorreu no dia 11 e foi a primeira do tipo nesta guerra.
A crise tem levado ao cancelamento de rotas pela região, responsável por 15% do comércio por navios do mundo. O impacto mais óbvio é no preço de fretes, que pode ter efeito cascata sobre produtos em diversas cadeias produtivas. Ao menos duas fábricas de automóveis na Europa já paralisaram sua produção pelo atraso na chegada de peças.
Especialmente sensível é a o setor energético, dado que aquele é o caminho mais curto do golfo Pérsico para os mercados europeus. O Qatar colocou em suspenso o trânsito de seus navios com gás liquefeito, a diversas petroleiras desviaram suas embarcações para a viagem mais longa em torno da África.
Israel ataca norte de Gaza
Após ter anunciado o fim das operações principais na parte norte da Faixa de Gaza, casa do Hamas desde 2007, Israel voltou a enviar tanques e soldados para a região. Há relatos de combates, agravados pelo fato de que alguns civis que haviam fugido da área para o sul e agora voltaram para escapar das bombas se viram no fogo cruzado.
Na segunda (15), o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, havia dito que as operações mais pesadas iriam ser reduzidas também no sul de Gaza, o que parece ilusório no contexto. A guerra, iniciada quando o Hamas matou 1.200 pessoas e tomou quase 250 reféns em Israel no dia 7 de outubro, já deixou mais de 24 mil palestinos mortos.