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EUA: Democratas fazem aposta fatal ao escolher Biden – 21/09/2023 – Ross Douthat

No final da décima entrada do sexto jogo do World Series de 1986, com o Boston Red Sox liderando o New York Mets por 5 a 3, o técnico do primeiro time, John McNamara, enviou Bill Buckner —um grande rebatedor que lidava com terríveis problemas nas pernas que o faziam mancar ao redor da primeira base— de volta para jogar na defesa, em vez de escalar Dave Stapleton, seu substituto. Meia dúzia de rebatidas depois, uma jogada rasteira de Mookie Wilson passou pelas pernas trêmulas de Buckner, levando o World Series para o sétimo jogo e um certo torcedor de 6 anos do Red Sox para a cama, em lágrimas.

Essas lágrimas foram meu primeiro encontro com a dura verdade de um aforismo do beisebol: a bola sempre vai te encontrar. Se você colocar um jogador onde ele não deveria estar, tentar disfarçar sua incapacidade deslocando-o para longe da ação provável ou dar a ele a chance de permanecer em campo por tempo demais por razões sentimentais, o risco que você assume eventualmente o alcançará, provavelmente no pior momento possível.

Obviamente, esta é uma coluna sobre a idade do presidente Joe Biden. Mas não apenas sobre Biden, porque os Estados Unidos tem realizado muitos experimentos como o de Buckner ultimamente.

Considere o terrível desfecho da carreira de Ruth Bader Ginsburg para os progressistas.

Ninguém pôde dizer a uma juíza vitalícia da Suprema Corte que havia sobrevivido a um câncer que era hora de se afastar, e os democratas foram deixados falando com esperança sobre sua rotina de exercícios enquanto ela tentava resistir a Donald Trump. E ela quase conseguiu —mas, no final, seu legado foi remodelado e até desfeito pela decisão de permanecer tempo demais no campo político.

Considere a própria presidência de Trump, na qual os eleitores confiaram a um líder manifestamente inadequado os poderes da Presidência. Durante todo o seu mandato, vários republicanos tentaram gerenciá-lo, enquadrá-lo e mantê-lo longe de problemas, enquanto Dave Stapleton —quero dizer, Mike Pence— aquecia o banco.

Esse esforço teve sucesso suficiente para que, no início de 2020, Trump parecesse potencialmente encaminhado para a reeleição. Mas, com uma série de jogadas de um rebatedor amador, o último ano de seu mandato o deixou implacavelmente exposto —pela pandemia (quer você pense que ele era muito libertário ou muito fauciano, Trump obviamente foi dominado); por uma revolução cultural progressista (à qual ele se opôs, mas foi impotente para impedir); pela campanha presidencial de Biden; e, finalmente, por seus próprios vícios, que resultaram no dia 6 de janeiro.

Naturalmente, os republicanos estão prontos para colocá-lo em campo novamente.

Essas experiências moldaram minhas expectativas sobre o que está acontecendo com os democratas e Biden agora. A crescente ansiedade em relação aos péssimos números de pesquisa de Biden gerou uma resposta defensiva de seus apoiadores. O argumento é que o declínio do presidente está sendo exagerado; que sua administração está indo bem e ele merece mais crédito do que está recebendo; e que, como sugere Ian Millhiser, da Vox, a imprensa está repetindo seu erro com o escândalo dos emails de Hillary Clinton e fazendo com que a questão da idade pareça terrível quando é apenas, bem, “subótima”.

Eu não acho que o declínio de Biden esteja sendo exagerado pela mídia —talvez por alguns republicanos, mas a imprensa em geral está, no mínimo, pisando com cautela em torno da realidade evidente. Mas eu acho que os defensores de Biden estão corretos ao afirmar que o efeito de sua idade na Presidência tem sido apenas levemente negativo, no máximo. Limitou seu uso do púlpito e prejudicou seus números nas pesquisas, mas sua administração aprovou legislações importantes, gerenciou uma crise de política externa e teve mais destreza do que a de Trump.

Minhas críticas ao Bidenismo são as que um conservador normalmente teria de qualquer presidente progressista, não associadas ao caos ou à incompetência criados pelo declínio cognitivo.

Mas ao arriscar a reeleição, os democratas estão fazendo uma aposta fatal de que esse gerenciamento bem-sucedido pode simplesmente continuar correndo dois riscos: as altas apostas da próxima eleição, na qual uma crise de saúde ou apenas mais declínio podem colocar Trump de volta na Casa Branca; e os desafios diferentes, mas também substanciais, de mais um mandato de quatro anos.

“A bola sempre vai te encontrar” não é, claro, uma verdade invariável. É totalmente possível que Biden possa mancar para outra vitória; que seu segundo mandato não tenha consequências piores do que, digamos, o de Ronald Reagan; que, tendo gerenciado as coisas até agora, seus assessores, cônjuge e gabinete possam levar os próximos cinco anos adiante.

Mas a era Trump foi um daqueles períodos em que a providência ou o destino se vingaram mais rapidamente do que o habitual. Foi quando a liberdade de longa data de contornar pontos fracos e erros de que os partidos e líderes americanos desfrutam em virtude do nosso poder e preeminência foi substancialmente reduzida.

Até mesmo a analogia proposta por Millhiser para a fixação na idade de Biden, o escândalo dos emails de Clinton, se encaixa nesse padrão.

No final, eles prejudicaram Clinton porque eles se conectaram brevemente com o escândalo sexual de Anthony Weiner. Isso foi substancialmente injusto, já que nada resultou das mensagens de Clinton encontradas no laptop de Weiner. Mas foi dramaticamente adequado —uma reviravolta quase shakespeariana. Depois de sobreviver a todos os escândalos sexuais de Bill Clinton, a dinastia seria desfeita em seu momento de quase triunfo por um predador diferente e patético.

Portanto, sendo certo ou não, não consigo deixar de esperar uma punição igualmente dramática pela tentativa de manter Biden na Casa Branca a despeito de sua decadência.

O fato de eu também esperar alguma forma de punição aos republicanos por renomearem Trump, apesar de sua inadequação, não me torna inconsistente, porque a política presidencial não é exatamente a mesma coisa que o beisebol. Ao contrário do World Series, não precisa haver um vencedor simples: todos podem ser punidos; todos nós podemos perder.


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Fonte: Folha de São Paulo

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