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EUA: Apoio latino a um republicano é o maior desde 1976 – 06/11/2024 – Mundo

O apoio conquistado por Donald Trump entre o eleitorado latino é o maior já obtido por um republicano desde 1976, início da série histórica das pesquisas de boca de urna nos Estados Unidos. O bom desempenho ocorreu após uma campanha marcada por ataques a imigrantes, acusados pelo republicano de “envenenar o sangue da nação”.

O resultado coloca em xeque a ideia de que existiria um sólido viés democrata entre o grupo, o que favoreceria o partido conforme a participação desses eleitores aumenta. Ao mesmo tempo, mostra a ampliação do apelo de republicanos a um público mais diverso.

Kamala Harris ainda obteve a maior parte dos votos de eleitores latinos (52%), segundo a empresa de pesquisa Edison Research, mas sua vantagem despencou em comparação com a performance de Joe Biden há quatro anos: de 33 pontos percentuais para apenas 6.

Quando considerados apenas homens latinos, que equivalem a 6% do eleitorado americano, o republicano conseguiu virar o jogo. Depois de perder o grupo por uma margem de 23 pontos em 2020, ele agora venceu com uma folgada diferença de 12 pontos percentuais.

“Essa mudança de 33 pontos na margem é uma alteração bastante extraordinária em um período de quatro anos”, destaca análise da Edison Research. “Embora seja necessário mais pesquisa para entender completamente essa mudança, vale notar que 40% dos eleitores hispânicos/latinos citaram a economia como sua questão mais importante em uma lista de cinco possibilidades, nove pontos a mais que a população votante em geral”, completam.

A insatisfação com Biden, especialmente com a inflação, está sendo apontada como o principal motivo para explicar o avanço de Trump sobre esse eleitorado. Preços dispararam para a maior alta em 40 anos durante o mandato do democrata.

Uma pesquisa recente do Pew Research Center apontou que a economia era a prioridade para 85% dos eleitores latinos. Saúde e violência vinham em seguida, apontados por 71% e 62% do grupo, respectivamente.

“Os latinos se importam mais com a economia e o emprego do que com qualquer outro fator. A preservação da democracia e a segurança vêm em seguida”, diz à Folha Marie Arana, autora de “LatinoLand”, obra lançada em fevereiro que retrata a comunidade nos EUA, valendo-se de sua própria experiência —sua família é de origem peruana.

“Os democratas têm jogado o jogo da política identitária com os latinos —as questões de diversidade, equidade e inclusão. Esse caminho estava fadado a falhar se eles não o corrigissem”, completa.

Em Nevada, por exemplo, um estado-pêndulo que sofreu um forte baque econômico nos últimos anos, o comparecimento de latinos às urnas foi maior do que a média, e sua preferência, igualmente dividida entre Trump e Kamala: 47% a 47%.

É a evaporação da vantagem de ao menos 21 pontos que os democratas tiveram em todas as eleições no estado desde 2000.

Na crucial Pensilvânia, a margem de apoio aos democratas foi reduzida de 42 pontos na última eleição para apenas 15. Democratas estavam confiantes com o apoio latino no estado após a piada racista feita por um comediante com Porto Rico, chamado de “ilha flutuante de lixo”, em um comício de Trump.

“O Partido Democrata tem um grande problema com eleitores da classe trabalhadora. Isso começou há uma década como um problema da classe trabalhadora branca. Agora ficou ainda pior e se espalhou por diferentes grupos raciais”, disse um deputado do partido, em condição de anonimato, ao Washington Post.

Trump também explorou o conservadorismo de parte desse eleitorado, especialmente daqueles cujas famílias migraram para os EUA para escapar de governos autoritários de esquerda na América Latina, como cubanos e venezuelanos. Esse fator ajuda a explicar a vitória retumbante do republicano na Flórida, um estado que concentra essas diásporas.

Organizações latinas conservadoras assumiram a função de engajar esse eleitorado em prol de Trump, como o Libre. Em um vídeo lançado no meio do ano, por exemplo, um narrador diz que “muitos de nós acham que a política é para pessoas especiais. Elas são aquelas que fazem as leis e promovem as mudanças, porque nos países de onde viemos, na maior parte do tempo, é isso o que acontece. Mas na América é diferente”.

Pode parecer contraintuitivo, a princípio, que uma ampla fatia do eleitorado hispânico apoie o republicano —cuja retórica violenta anti-imigração foi central para sua campanha. Mas essa preferência é ainda mais pronunciada justamente em outro tema importante para o grupo: imigração.

“Eles pensam ‘estamos aqui, somos americanos agora, não somos como aqueles que acabaram de cruzar a fronteira’. Muitas pessoas estão caindo nessa mentira de que existem os latinos bons e os ruins”, disse em junho, à Folha, Domingo Garcia, então presidente da Liga dos Cidadãos Latino-Americanos Unidos (Lulac, na sigla em inglês), a maior e mais antiga organização hispânica dos EUA.

Entre republicanos, o avanço de Trump sobre o grupo está sendo comemorado como a confirmação de que a coalizão do partido, historicamente dependente do eleitorado branco com diploma superior, está tornando-se mais plural.

O apoio conquistado entre brancos sem formação universitária, latinos e, em menor grau, negros, traduz-se em uma força eleitoral que até há pouco tempo era vista como monopólio democrata.

“Os latinos são previsíveis como grupo apenas em sua tendência de rejeitar o binarismo. Muitos mudaram de Trump (2016) para Biden (2020) e para Trump (2024) sem hesitação”, relembra Arana. “Eles têm mais probabilidade de serem independentes ou de mudar de lealdade dependendo das questões. Eu definitivamente não os descartaria como uma facção persuasível e crucial na política americana.”

Fonte: Folha de São Paulo

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