Menos de três dias após Alejandro Giammattei deixar a Presidência da Guatemala e dar lugar a Bernardo Arévalo após um enorme imbróglio que despertou inclusive ameaças de tentativa de golpe, o agora ex-líder foi acusado pelos Estados Unidos de minar o Estado de Direito e a transparência no país da América Central.
Em nota publicada na noite desta quarta-feira (17), o Departamento de Estado americano afirma que dispõe de “informações confiáveis” que indicam que Giammattei, que assumiu como presidente em 2020, aceitou subornos em troca de favores durante todo o seu mandato.
Por conta dessa acusação, Washington incluiu o guatemalteco e seus três filhos (Ana Marcela, Alejandro Eduardo e Stefano) na lista de cidadãos que estão impedidos de ingressar em território americano. “Os EUA deixaram claro que apoiam os guatemaltecos que procuram responsabilizar os atores corruptos”, diz trecho do comunicado.
Figuras próximas a Giammattei ligadas ao Ministério Público foram acusadas por diversos organismos internacionais —e inclusive pelo governo Biden— de tentarem impedir que Arévalo, eleito em segundo turno no ano passado com 58% dos votos, fosse empossado presidente.
A Guatemala tem um longo histórico de corrupção estatal e, por alguns anos, conseguiu se tornar exemplo global de combate a esse crime. De 2013 a 2019, atuou no país a Cicig, a Comissão Internacional Contra a Impunidade da Guatemala, órgão estruturado em parceria com a ONU e responsável por jogar luz sobre os maiores escândalos de corrupção.
Mas, desde a saída do organismo ligado às Nações Unidas, o combate à corrupção degringolou e escalaram as denúncias de que autoridades avançavam contra a independência do Judiciário guatemalteco.
Sob Giammattei, político conservador que chegou a encontrar eco no ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro com uma agenda contra o direito ao aborto na região, a Guatemala regrediu em índices globais que medem indicadores democráticos e entrou na órbita das autocracias, hoje colocadas de pé com táticas como cooptação do Judiciário e cerceamento da imprensa.
A situação interrompeu um cenário de desenvolvimento democrático na América Central desde as décadas de 1980 e 1990, quando países como Guatemala, Nicarágua e El Salvador deixaram para trás guerras e ditaduras e começaram a erguer instituições independentes.
Giammattei foi substituído pelo sociólogo de centro-esquerda Bernardo Arévalo na liderança da Guatemala na última segunda (15) após um atraso de cerca de 9 horas na cerimônia de posse do novo líder devido a conflitos e disputas internas no Congresso local.
Era grande a expectativa em torno do dia da passagem de bastão devido ao contexto que se deu no país após as eleições, nas quais de azarão Arévalo passou a favorito e a eleito.
O Ministério Público guatemalteco buscou inviabilizar a posse dele, e seu partido, o Semilla, teve a personalidade jurídica cassada —tanto que seus deputados eleitos assumiram como independentes.
A sequência de acontecimentos fez com que órgãos como a OEA, a Organização dos Estados Americanos, afirmassem ver risco de uma ruptura institucional —golpe— no país.
O Brasil foi representado na posse de Arévalo pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que nas redes sociais saiu em defesa do rito democrático na nação centro-americana. “A democracia mostrou sua força na Guatemala, e o respeito pelo resultado sufragado nas urnas beneficia toda nossa região”, escreveu ele no X.