A mulher que denunciou o influenciador Kel Ferreti por agressão e estupro, em caso que está sendo conduzido pelo Ministério Público do Estado de Alagoas, deu entrevista àTV Alagoas nesta quarta-feira, 18, e contou a sua versão de como conheceu o empresário e o que teria acontecido em uma pousada no bairro de Cruz das Almas, em Maceió.
“Eu o conheci através do Instagram. Estava muito difícil, precisando de suporte e vi que ele oferecia valores para cadastramento de plataforma do famoso Tigrinho. Entrei no grupo, pegava apenas os links e fazia o cadastro, mas não chegava a jogar. A gente começou a conversar devido a um link que eu fiz e não recebi o pagamento. Falei com o rapaz que gerenciava o grupo. (Quem era?) Era o dono dos grupos. Acredito que ele fazia a contabilidade dos links, eram muitos links de plataformas. Acho que, até por inocência do rapaz, ele nem sabia de tanta coisa, fazia essa contabilidade”, disse ela à TV Ponta Verde.
Veja abaixo os trechos do relato da mulher:
“Ele falou que iria fazer o pagamento, me pediu o Pix e eu passei. Disse que eu era muito linda, começou a me elogiar. E nisso foi iniciando as nossas conversas. A princípio não quis encontrar com ele pessoalmente. Mas, depois, eu fui conversando, acho que umas duas ou três semanas, todos os dias. Daí marcamos de nos encontrar para nos conhecermos pessoalmente. Eu disse a ele que estava de carro, porque eu me sentia mais confortável se fosse no carro que eu estava, pois qualquer coisa estranha, eu sairia. Quando eu já estava arrumada, no Uber, ele me passou uma mensagem daquelas que o Whatsapp apaga e, falando o nome da pessoa que não me recordo, que todos (na pousada) já sabiam que eu iria para o quarto e já estariam me esperando”, contou ela.
“Eu tinha no meu coração que era algo que não sairia bem, sabe? Cheguei e era como se fosse tudo muito combinado. Lembro que era uma senhora que disse: “Pode subir, o ar condicionado já está ligado, lá tem TV”. Era um local, lembro nitidamente assim… Lembro que as escadas tinham uma parte como se fosse um pedaço de construção. Era um dos últimos quartos, mais escondido. O piso era de madeira. Quem subisse e quem descesse, dava para escutar os passos na madeira”.
“Foi num dia em que aconteceu alguma coisa com um carro dele, alguma batida, algo do tipo. Ele tinha que sair para resolver e disse: ‘Estou livre, vou ter que sair de casa e consigo lhe ver’. Eu disse: ‘Então tá’. Eu iria conhecê-lo como pessoa, não ia… Se rolasse, rolou, né. Ele chegou muito apressado, eu deixei a porta aberta. Ele colocou um saco de gelo numa mesinha que tinha.
“Ele levou gelo com duas cervejas. Colocou o gelo lá, disse: ‘Ó, trouxe gelo para bebermos alguma coisa’. E já veio para cima, não chegou a ter conversa”.
Ela conta que durante a relação sofreu muitas agressões, entre socos e tapas, o que a deixou com hematomas no rosto.
“Eu disse: ‘Meu rosto está muito machucado’. Ele me bateu muito. Tenho uma foto que tirei no dia, acredito que esteja com a justiça. A foto que tirei no dia, voltando para casa, porque eu só chorava. Meu rosto muito inchado em vermelho, com muitos hematomas. Na hora, eu chorava de dor e falava a ele. Ele me viu chorando. Me pediu para botar gelo e ter cuidado para não molhar a cama”.
“Eu estava apanhando absurdamente, nunca sofri nada do tipo, nunca me encontrei com alguém assim. Ele me socava, me batia muito no meu rosto. Cheguei a virar o rosto, dizendo que não aguentava mais, pedi para parar e ele disse que depois colocava gelo, que passava”.
O que diz a defesa da vítima – O advogado André Sampaio afirmou na entrevista que a mulher, desde que o processo se tornou público, tem sofrido julgamentos nas redes sociais.
“As pessoas acham que muitas vezes a internet é terra de ninguém, que você pode se esconder atrás de um perfil, dizer todo tipo de coisa que passa pela sua cabeça. Sabemos que não, na internet também há lei. Não é possível você se utilizar da internet como ferramenta para praticar calúnia e difamação, como se a vítima estivesse aqui para algum tipo de julgamento popular. Isso acaba fornecendo a ela o que chamamos de dupla vitimização. Ela foi vítima de algo grotesco e agora está sendo novamente vítima de um julgamento popular descabido”.
Ele informou também que vai trabalhar junto ao Ministério Público como assistente de acusação no processo.
“Não gostaria de me antecipar ao que vamos falar nos autos. O processo está a cargo do MP, que tem toda atribuição necessária para tocar o processo. Nós vamos ingressar como assistentes de acusação para proteger os interesses dela. É importante frisar que a consensualidade do estupro não se dá só quando a vítima dê início ao que é a relação, mas também quando ela quer parar a relação. Se torna muito mais difícil a carga probatória, em virtude de uma vítima que inicia consensualmente e resolve parar no meio do ato. Não deixa de ser estupro por causa disso”.
O que diz a defesa do influenciador – Em nota enviada à imprensa na última terça-feira, 17, a advogada Graciele Queiroz disse que o processo tramita em segredo de Justiça, criticando o vazamento que classificou como ‘espetacularização midiática’. Veja aqui a nota completa.
MP denunciou o caso – O Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) ofereceu denúncia contra o influenciador Kel Ferreti por crime de estupro contra a mulher em junho deste ano. O influencer está preso desde o dia 4 de dezembro, quando foi alvo da Operação Trapaça, que visa combater uma organização criminosa relacionada com lavagem de dinheiro e envolvida com o “Jogo do Tigrinho”, plataforma on-line de apostas que caracteriza jogo de azar.