Docentes da Faculdade de Direito da USP foram surpreendidos nesta semana ao chegarem às salas de aula e encontrarem as grandes portas em estilo barroco fechadas com dezenas de cadeiras e mesas empilhadas no local. O motivo é uma greve iniciada por estudantes.
“A maior violência contra o corpo docente da história da São Francisco”, informou um professor de Direito Civil nas redes sociais, citando que a barreira proíbe apenas a entrada dos docentes e simboliza “dias de horror para o Largo de São Francisco”.
A situação é a mesma em outras unidades da Universidade de São Paulo, como a Escola Politécnica (Poli) e a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde a greve dos estudantes começou dia 19 de setembro. Lá, os primeiros a se recusarem a assistir às aulas foram alunos dos cursos de Letras, Geografia e História, de acordo com a Associação de Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp).
Ainda segundo a entidade, a principal reivindicação dos estudantes é a contratação de novos professores, e pelo menos 25 cursos da universidade já aderiram à manifestação ou aprovaram paralisação parcial. Em alguns casos, como na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), os alunos também ocuparam os prédios.
“Só que, por mais legítimas que possam ser as pautas, não há
sentido em greve do tomador de um serviço”, explica a professora de Direito Janaina
Paschoal — ex-deputada estadual de
São Paulo. Segundo ela, “a chamada ‘greve’ dos alunos da USP fica ainda menos
justificada quando se constata que a principal reivindicação é por mais professores”.
Afinal, “eles solicitam mais aulas ao mesmo tempo em que boicotam docentes que querem lecionar aulas já programadas?”, questiona Janaina, pontuando que essa é uma “contradição intrínseca, que precisa ser debatida sem ideologias”. A professora afirma ainda que muitos alunos estão incomodados com a situação, mas são impedidos de se manifestar.
Diálogo entre estudantes e diretores
Em comunicado enviado pela Faculdade de Direito aos professores, o diretor Celso Fernandes Campilongo informou que as atividades de graduação seriam suspensas na universidade devido à ação dos estudantes. “Por cautela, para preservação do patrimônio do prédio histórico e para que se evitem confrontos”, escreveu, pontuando que espera “que os alunos – paradoxalmente, os maiores prejudicados pela paralisação – retornem o quanto antes às aulas”.
Em reunião com a diretoria da Faculdade de Direito, na última segunda-feira (25), a direção informou que aceita as reivindicações, contanto que os alunos respeitem o direito de livre acesso às instalações da faculdade, usem meios pacíficos de manifestação e preservem a integridade do patrimônio público.
De acordo com a unidade, até esta quinta-feira (28), não houve relatos de danos ao patrimônio público na Faculdade de Direito e nem foi relatado conflito entre alunos, docentes e funcionários, embora professores tenham sido impedidos de entrar no local.
Outras unidades também se manifestaram a respeito da greve, mas ainda não há acordo ou data concreta para retorno às aulas. Por enquanto, uma Assembleia Geral da Adusp aprovou paralisação da categoria até a próxima segunda-feira, dia 2/10, quando ocorrerá nova assembleia geral às 16h para deliberar sobre indicativo de greve.
O que os estudantes pedem
Segundo a Adusp, a principal solicitação é em relação ao quadro de
docentes na universidade, que teve redução de aproximadamente 18%, cerca de mil
docentes, desde 2014. Em algumas unidades a falta de professores teria chegado
ao patamar de 30%.
Mas esse não é o único pedido. Além de solicitar a contratação de mais professores, os estudantes fazem solicitações como cotas nos concursos de professores, oferecimento igualitário de aulas optativas entre os turnos, melhorias nos espaços estudantis e também nas condições para intercâmbio e na ouvidoria de estágio.
A Gazeta do Povo entrou em contato com os estudantes que comandam a greve para detalhar suas reivindicações, e aguarda retorno.