A líder opositora da Venezuela María Corina Machado afirmou que espera do governo brasileiro o reconhecimento de Edmundo González como presidente eleito no país. A declaração foi feita durante videoconferência ao vivo em audiência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (3).
A principal líder da oposição foi convidada por deputados da comissão junto de González, que foi candidato da oposição na eleição venezuelana e afirma ser o vencedor do pleito. Ela vive na clandestinidade na Venezuela; ele, exilado na Espanha.
“O que esperamos é que o Brasil reconheça Edmundo como presidente eleito, para que dessa forma seja exercida pressão sobre Maduro e ele perceba que a sua melhor opção é uma transição organizada”, disse María Corina.
“O regime está mais fraco do que nunca, com a liderança legitimada e a oposição unida. Este não é um tema de direita ou esquerda, mas de liberdade e respeito aos direitos humanos”, disse María Corina.
Parte da comunidade internacional crítica a Maduro não reconhece o ditador como vencedor do pleito e indica González como eleito; outra parte, na qual se enquadra o governo brasileiro, não reconhece a vitória de nenhum dos lados da contenda, e demanda a divulgação total das atas eleitorais pelo regime, algo que Caracas ainda não fez.
A relação entre Lula e Maduro se deteriorou desde o pleito, até então defendido pelo governo brasileiro apesar de denúncias da oposição de perseguição e obstáculos criados para dificultar desafios à ditadura nas urnas.
Lula e o presidente colombiano, Gustavo Petro, os dois vizinhos mais relevantes da Venezuela no continentes e ideologicamente próximos do chavismo, dizem manter abertos os canais de diálogo, muito embora tentativas anteriores não tenham surtido efeito no processo eleitoral venezuelano —e, por outro lado, gerado críticas aos dois países por não serem enfáticos o bastante com o ditador.
Enquanto isso, a ditadura Maduro segue com medidas que perseguem opositores. Em entrevista à Folha três meses após a eleição, María Corina —impedida pelo regime de concorrer— afirmou que Maduro engana e zomba de líderes como Lula e Petro.
Atualmente, há seis opositores do regime asilados na embaixada da Argentina em Caracas, que está hoje sob cuidados do Brasil. Eles denunciam cortes de energia e cerco de agentes de segurança à embaixada.
González usou seu tempo de fala para ressaltar perigos de nova lei aprovada pela Assembleia Nacional venezuelana, aliada do regime, que criou penas de até 30 anos para quem apoiar sanções internacionais contra o país, além de banimento de cargos públicos por até 60 anos.
A nova lei estipula pena para “toda pessoa que promover, instigar, pedir, invocar, apoiar, facilitar, respaldar ou participar da adoção de medidas coercitivas”. Ainda prevê multas de mais de US$ 1 milhão para pessoas físicas, US$ 50 milhões para empresas, e o fechamento de emissoras de rádio e televisão que apoiarem sanções.
A participação dos dois na comissão é mais um passo do esforço da oposição à ditadura de Nicolás Maduro de obter apoio internacional para a defesa de que foi a verdadeira vencedora da eleição realizada no dia 28 de julho —da qual Maduro diz ser o vencedor.
Na semana passada, Gustavo Silva, membro da equipe técnica eleitoral da oposição, que vive nos Estados Unidos, reuniu-se no Senado Federal com parlamentares da oposição ao governo Lula para apresentar amostras das atas eleitorais reunidas pela oposição durante o pleito.
A oposição possui 85% dessas atas, análogas aos boletins de urna brasileiros, cujos resultados mostram vitória de González por ampla margem —suficiente, inclusive, de acordo com a oposição, para matematicamente garantir o líder opositor como novo presidente a despeito dos 15% das atas restantes.