A filmagem de um policial militar jogando um homem do alto de uma ponte na região de Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, levantou a discussão sobre a violência policial na atual gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Uma das várias agressões protagonizadas por policiais desde janeiro do ano passado, esta causou reações imediatadas tanto de autoridades quanto da população. Veja abaixo o que se sabe sobre o caso.
O QUE ACONTECEU?
Um policial militar foi flagrado jogando um homem do alto de uma ponte no bairro Vila Clara, do distrito de Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, após perseguição.
A ação ocorreu na rua Padre Antônio de Gouveia e foi registrada em vídeo divulgado na noite de segunda-feira (2) pelo Jornal da Globo e pela GloboNews.
Segundo moradores, os agentes estavam na região para dispersar um baile de funk. Quando o motociclista entrou na rua e viu os policiais fazendo bloqueio, ele teria perdido o controle e caído do veículo. Nesse momento, segundo testemunhas, o rapaz teria começado a xingar o policial.
As imagens, então, mostram quatro policiais na ocorrência. Um dos policiais é visto levantando a moto do chão. Na sequência, mais dois agentes se aproximam, e o primeiro PM encosta o veículo perto da ponte. Um quarto agente então se aproxima segurando o homem, que vestia uma camiseta azul, e, quando chegam perto do muro de segurança, o PM o levanta pela perna e arremessa para fora da ponte, em direção a um córrego.
QUANDO OCORREU O CASO?
Em algum momento na noite de domingo (1º) ou na madrugada de segunda-feira (2). Ainda não se sabe o horário exato.
QUEM É O HOMEM JOGADO NO RIO?
Ele não foi identificado, mas sabe-se que é um homem de 25 anos que mora no bairro de Americanópolis, vizinho da Cidade Ademar, bairro da zona sul de São Paulo onde ocorreu o episódio. Em entrevista à Globo, o pai disse que o filho trabalhava como entregador e não tem passagem pela polícia.
Vizinhos disseram que o homem e sua família deixaram a cidade após a repercussão do caso.
O HOMEM SE MACHUCOU NA QUEDA?
Testemunhas disseram tê-lo visto no momento em que saía andando do córrego. Uma delas, que não quis se identificar, afirmou à Folha de S.Paulo que o homem caiu na parte de concreto e saiu com a cabeça machucada, com a testa sangrando. Se tivesse batido a parte de trás da cabeça, tinha morrido, disse. A Polícia Militar confirmou que o homem estava vivo após a queda.
Testemunhas dizem também que um grupo de pessoas que estava indo ajudar o jovem arremessado da ponte foi dispersado por policiais.
DE ONDE SÃO OS POLICIAIS ENVOLVIDOS?
Os agentes de segurança envolvidos na perseguição pertencem à Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) do 24° Batalhão de Polícia Militar, com sede em Diadema, na Grande São Paulo.
O QUE ACONTECEU COM OS POLICIAIS ENVOLVIDOS NA AÇÃO?
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, dois sargentos e 11 cabos e soldados foram afastados das atividades por envolvimento com o caso. No vídeo no qual o homem é jogado da ponte, quatro PMs podem ser vistos. Não está claro qual a participação dos outros nove agentes.
A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo pediu a prisão preventiva do soldado de primeira classe Luan Felipe Alves Pereira, 39, que jogou o homem no rio. O pedido de prisão preventiva ocorreu após pressão do governador, como forma de tentar estancar a crise de segurança. A decisão da prisão, no entanto, caberá ao Tribunal de Justiça Militar de SP.
A Folha de S.Paulo apurou que o pedido de prisão é a primeira medida do comando da corporação para indicar à tropa que comportamentos violentos e fora dos previstos pelas diretrizes não serão mais tolerados.
Luan Pereira tem oito anos de corporação e já respondeu anteriormente ao menos a dois Inquéritos Policias Militares (IPM). Um dos casos ocorreu me 2019 e outro em 2020, conforme publicações oficiais, ambos quando ele estava em uma unidade da zona sul da capital.
O Tribunal de Justiça Militar de São Paulo informou que o PM foi indiciado em um inquérito relativo ao homicídio de Maycon Douglas Valério. Conforme informações do processo, ele teria efetuado 12 disparos contra um motoqueiro que, após tentativa de fuga, acabou caindo e fugindo a pé. Pereira seguiu o suspeito a pé, e, ao alcançá-lo, houve confronto, na versão do PM. Neste ano, o Ministério Público entendeu que o policial agiu em legítima defesa e pediu o arquivamento do processo, que foi aceito pela Justiça.
Conforme policiais ouvidos pela Folha de S.Paulo, todos os policiais foram colocados à disposição da Corregedoria, mas apenas Pereira prestou depoimento. Ele teria dado uma versão considerada pouco crível pelos superiores, de que teria tentando fazer uma revista pessoal no suspeito e acabou se desequilibrando. O restante dos PMs afastados teria ficado em silêncio.
APENAS A JUSTIÇA MILITAR ESTÁ INVESTIGANDO O CASO?
Não. O episódio também é apurado pela Polícia Civil, por meio da Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 2ª Seccional. “Diligências estão em andamento para a oitiva da vítima e o esclarecimento dos fatos”, diz a SSP.
OS POLICIAIS USAVAM CÂMERAS CORPORAIS?
Sim. As imagens dessas câmeras serão utilizadas na investigação para entender o que aconteceu.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES?
Governador Tarcísio de Freitas, em seu perfil no X (ex-Twitter):
Policial está na rua pra enfrentar o crime e pra fazer com que as pessoas se sintam seguras. Aquele que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda. Esses casos serão investigados e rigorosamente punidos. Além disso, outras providências serão tomadas em breve.
Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública, em vídeo nas redes sociais:
Essa ação não encontra respaldo nenhum nos procedimentos operacionais da Polícia Militar. Ações isoladas como essa não podem denegrir a imagem de uma instituição que tem quase 200 anos de bons serviços prestados para a nossa população no Estado de São Paulo. Não vamos tolerar nenhum tipo de desvio de conduta de nenhum policial no Estado de São Paulo.
Coronel Cássio Araújo de Freitas, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo:
Eu considero um erro básico. Um erro emocional de jogar o rapaz ali. Aquilo era quase infantil um negócio daquele. Comete um erro básico, vai ser julgado por aquilo.
O QUE DIZEM OS MORADORES DO BAIRRO?
Moradores da Vila Clara afirmam que abordagens violentas de policiais militares são corriqueiras na região principalmente quando há bailes funk. Por isso, eles temem represálias e pediram para não serem identificados.
Uma pessoa afirmou que são usadas até seis viaturas, que ficam posicionadas próximas aos bailes. Em determinado momento, os agentes correm em direção a onde está a multidão, para dispersar os grupos.
Segundo esse morador, até três meses atrás era comum o uso de bombas de gás lacrimogêneo e gás de pimenta nessas ações, mas isso não tem mais acontecido.