Assunto do último debate antes do segundo turno das eleições presidenciais deste domingo (19) na Argentina, a relação comercial entre o Brasil e o país vizinho tem esfriado nos últimos anos. Apesar de ainda ser o nosso principal parceiro na América do Sul, a Argentina tem visto sua participação na economia do Brasil diminuir.
Há dez anos, exportávamos US$ 19,6 bilhões para a Argentina, enquanto as importações somavam US$ 16,4 bilhões. Em 2022, as duas variáveis foram de US$ 15,3 bilhões e US$ 13,1 bilhões, respectivamente. A entrada de novos parceiros como a China explica, em parte, esse processo.
O Brasil é o principal cliente de Buenos Aires e seu segundo maior comprador, atrás apenas de Pequim. Já a Argentina aparece somente no terceiro lugar na lista de destinos das exportações brasileiras, e não consta entre os cinco principais fornecedores.
A balança comercial normalmente é positiva para o lado do Brasil —no geral, o valor exportado para o país vizinho é maior em relação ao importado. Em 2019, de forma incomum, esse equilíbrio pendeu para a Argentina, quando o vizinho teve um superávit na relação econômica com o Brasil.
O cenário, porém, mudou no ano seguinte e, em 2023, a balança comercial deve ser favorável ao Brasil de novo. Atualmente, a indústria que tem mais peso na relação entre os dois países é a automobilística.
A China entrou nessa equação nas últimas décadas, apesar de o Brasil ainda ser o maior parceiro de Pequim na América do Sul considerando os últimos 17 anos —foi o destino de 48% dos investimentos chineses na região entre 2005 e 2022.
No ano passado, a Argentina ficou em oitavo lugar entre os principais alvos de investimento de Pequim ao receber a aplicação de US$ 1,34 bilhão da nação asiática, um montante maior que o Brasil, que caiu oito posições na mesma lista em relação a 2021 e ficou em nono lugar, com US$ 1,3 bilhão injetados pela China.
Naquele ano, os aportes da China no setor de veículos elétricos representou 58% do total
alocado pelo país no mundo em 2022 —e a Argentina, pela presença do lítio em seu solo, foi um dos destinos desse capital, segundo publicação do Conselho Empresarial Brasil-China de agosto deste ano.
Além disso, Buenos Aires tem feito acenos ao gigante asiático. No ano passado, a Argentina passou a integrar a chamada ‘Nova Rota da Seda’ e se tornou a primeira grande economia da América Latina a se juntar à iniciativa. O ambicioso programa, que colocou bilhões de dólares em 149 países e 30 órgãos internacionais, visa expandir as relações comerciais chinesas mediante a construção de portos, linhas ferroviárias, aeroportos e parques industriais.
A despeito das movimentações econômicas dos últimos anos, ambos os países se veem como importantes parceiros comerciais. Em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve a praxe de escolher a Argentina como seu primeiro destino após a posse —em 2002, o país também foi o primeiro local que o petista visitou após eleito.
Naquele ano, o clima político era bem diferente. Na ocasião da visita, o então chanceler, Carlos Ruckauf, afirmou que “as portas do mundo poderão se abrir ao Mercosul graças à vocação para a união aduaneira que demonstra o presidente eleito do Brasil”.
Agora, a sinergia entre os dois países corre o risco de azedar após um ano de boas relações entre Lula e seu análogo na Argentina, Alberto Fernández.
O pré-candidato cujas ideias mais se alinham com as de Lula é o representante do peronismo na disputa, o atual ministro da Economia, Sergio Massa. Na outra ponta está seu adversário, o ultradireitista Javier Milei, que já disse querer acabar com o Mercosul e, no último debate das eleições argentinas, afirmou que não se reunirá com Lula porque ele é “corrupto” e “comunista”, em suas palavras.
“A ruptura com o Mercosul, a ruptura das relações com o Brasil, a ruptura das relações com a China representam 2 milhões de empregos a menos”, afirmou Massa no embate, apelando para a importância do Brasil na frágil economia argentina.