Um tribunal britânico anunciou nesta segunda-feira (21) a sentença de prisão perpétua para a enfermeira Lucy Letby, 33, condenada pelo assassinato de sete bebês recém-nascidos e por tentar matar outros seis na unidade neonatal em que trabalhava na cidade de Chester, no noroeste da Inglaterra.
Ao proferir a decisão, o juiz responsável pelo caso afirmou que Letby não manifestou sinais de arrependimento. “Foi uma operação cruel, calculada e cínica, com o objetivo de assassinar crianças”, disse o magistrado James Goss. “Havia uma maldade profunda que beirava o sadismo em suas ações.”
Letby se recusou a comparecer ao tribunal para ouvir a sentença. Ao longo do processo, ela se declarou inocente e disse que as mortes foram causadas pelas más condições de higiene do hospital. Familiares das vítimas que foram à corte e políticos criticaram a ausência. O premiê britânico, Rishi Sunak, afirmou que considerava “uma covardia” quando os que cometiam crimes horrendos não enfrentavam as vítimas.
A enfermeira foi detida em 2018, acusada de matar os bebês ao aplicar injeções de insulina e de ar —a segunda pode causar embolia gasosa. Ela também alimentava os recém-nascidos à força com leite. Todas as acusações dizem respeito a crianças com menos de um ano. Os crimes ocorreram em 2015 e 2016.
Letby foi declarada culpada na sexta (18), após um julgamento de dez meses. Durante as investigações, policiais encontraram textos escritos pela enfermeira em que ela incriminava a si mesma. “Eu os matei de propósito, pois não sou boa o suficiente para cuidar deles”, diz uma anotação em um diário apreendido por policiais depois que a mulher foi presa. “Sou má, fiz isso”, afirma, com letras maiúsculas, em outro trecho.
Os detetives ainda encontraram na residência documentos e anotações com referências às crianças envolvidas no caso. Ela também pesquisou na internet dados sobre os responsáveis pelos bebês mortos.
“Ela agiu de maneira totalmente contrária aos instintos humanos normais […] e em flagrante violação da confiança que todos os cidadãos depositam nos profissionais de saúde”, disse o juiz Goss no tribunal de Manchester. Ele acrescentou que não havia atenuantes para a imposição de uma pena menos grave.
A leitura da sentença foi transmitida ao vivo pela televisão. Condenações de prisão perpétua são raras no Reino Unido, e apenas três mulheres já haviam recebido a pena antes de Letby, incluindo Myra Hindley e Rosemary West, também condenadas por assassinar crianças.
Letby foi considerada inocente de duas tentativas de assassinato, e o júri não conseguiu chegar a uma conclusão sobre outros seis ataques suspeitos. Alguns dos bebês assassinados eram gêmeos —em um caso, ela matou os dois irmãos; em outro, matou um e falhou ao tentar assassinar o segundo.
“Não há sentença que se compare à agonia excruciante que sofremos como consequência de suas ações. Minha família nunca mais vai pensar em você. A partir de hoje, você não é nada”, disse a mãe de um bebê assassinado, que não quis ser identificada, depois da divulgação da sentença desta segunda.
As ações de Letby vieram à tona em janeiro de 2015. Na época, médicos do hospital Countess of Chester, onde ela trabalhava, ficaram alarmados com o número de mortes consideradas suspeitas ou descritas como inexplicáveis na unidade em que bebês prematuros ou doentes eram tratados.
Sem conseguir descobrir os motivos das mortes, os médicos acionaram a polícia. Após investigações, Letby, que era responsável pelo cuidado dos bebês, foi apontada como autora dos crimes e descrita pela acusação como uma “presença malévola” no hospital.
Uma investigação sobre a morte de 15 bebês foi iniciada em maio de 2017 e depois expandida. Descrita pela promotoria como calculista, com métodos “intencionalmente discretos para quase não deixar rastros”, Letby teria enganado colegas, fazendo-os acreditar que as mortes eram um “golpe de azar”.
O governo britânico anunciou a abertura de uma investigação independente para esclarecer as circunstâncias por trás dos “horríveis assassinatos”. Já a polícia continua analisando outros casos de mortes de bebês para identificar se houve mais vítimas.