O rei Charles 3º, do Reino Unido, realizou nesta terça-feira (7) seu primeiro discurso de abertura do Parlamento desde que assumiu o trono. A fala de 10 minutos é uma tradição anual protocolar: quem a escreve é o chefe de Governo —no caso, o premiê Rishi Sunak.
Durante o discurso, Charles elencou aquelas que seriam as prioridades de seu governo. De início, citou os impactos da pandemia de Covid e da Guerra da Ucrânia, que contribuíram para o aumento do custo de vida no país. Mas o que chamou a atenção foi a agenda climática, ou, como disseram os críticos, o recuo nessa pauta.
O rei, que tem como uma de suas bandeiras principais a defesa do meio ambiente, anunciou que o governo pretende avançar com um projeto para ampliar os licenciamentos de exploração de petróleo e gás no mar do Norte. O objetivo seria “reforçar a segurança energética e reduzir a dependência britânica do mercado internacional”.
A medida tem sido defendida pelo Partido Conservador, de Sunak, e alçada como uma das principais bandeiras para se diferenciar dos trabalhistas, contrários à expansão das plataformas offshore.
O “timing” não é sem motivo: Sunak tem pouco mais de um ano para convocar eleições gerais, nas quais todos os 650 membros da Câmara dos Comuns são eleitos, e o cargo de primeiro-ministro, renovado.
Ocorre que as pesquisas de intenção de voto são pouco animadoras para os conservadores. O agregador de pesquisas do site Politico mostra que, fosse hoje o pleito, 45% da população diz que votaria em políticos trabalhistas, ante 26% que votariam nos conservadores.
Tampouco é animadora a taxa de aprovação de Rishi Sunak, em torno de 40%. Ex-ministro de Finanças, ele chegou a Downing Street em outubro de 2022 para substituir sua correligionária Liz Truss, que havia renunciado após fracassar na agenda econômica.
Na outra ponta do discurso do rei Charles, nos minutos finais, houve um aceno ao combate à emergência climática, ofuscado pelo anúncio sobre combustíveis fósseis. “Meu governo seguirá liderando ações para combater as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade”, disse.
De acordo com análise da imprensa local, esse foi o discurso mais longo de um monarca em ocasiões do tipo desde 2005.
Trata-se também do primeiro “Discurso do Rei” em ao menos 70 anos —até então, chamava-se o “Discurso da Rainha”, já que sua protagonista era Elizabeth 2ª, morta em setembro de 2022.
Charles, como esperado fez referência à mãe em sua fala, afirmando estar consciente do legado dela no posto. Ao chegar ao Palácio de Westminster, em Londres, o monarca foi recebido por dezenas de manifestantes anti-monarquia que gritavam frases como “não é o meu rei” e “que desperdício de dinheiro”.
O aceno aos combustíveis fósseis feito pelo monarca ao ler o texto redigido pelo gabinete do premiê Sunak foi criticado por opositores e também por ambientalistas. Chefe da agenda política do Greenpeace no Reino Unido, Rebecca Newson disse que o país, dessa maneira, caminha na contramão de seus pares.
“Todas as superpotências globais estão investindo em infraestrutura verde, em energias renováveis e na tecnologia limpa, porque sabem que isso leva a crescimento econômico, geração de empregos e ajuda o planeja a ‘parar de queimar'”, afirmou ela em um comunicado.
“Em vez disso, nosso premiê decidiu emplacar uma bonança de licenciamentos para seus amigos da indústria do petróleo.”
As críticas já vinham soando desde meados de setembro, quando Sunak recuou em compromissos climáticos britânicos —carros com motor a gasolina e diesel, por exemplo, passarão a ter sua venda proibida em 2035, não mais em 2030.
O discurso do rei Charles 3º também chamou a atenção pelas ausências. Ficaram de fora das propostas lidas, por exemplo, a regulamentação da inteligência artificial e a proibição das chamadas terapias de “conversão” de orientação sexual para pessoas LGBTQIA+.
As eleições gerais no Reino Unido têm de ser convocadas com um intervalo máximo de cinco anos, que começa a contar a partir da data que o Parlamento atual se reuniu pela primeira vez —17 de dezembro de 2019— mais o tempo necessário para realizar a campanha eleitoral. Assim, Sunak tem como prazo máximo o dia 28 de janeiro de 2025.