Nesta semana ficou claro que Elon Musk não tem caráter ou estabilidade mental para pilotar uma plataforma como o Twitter, que ele rebatizou de X.
Assusta imaginar o que teria ocorrido nas semanas seguintes à invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, se o sociopata nascido na África do Sul já estivesse à frente da empresa. O consenso de solidariedade popular em relação aos ucranianos —contrariado por alguns dinossauros em Brasília— que deu suporte a governos para socorrer o país invadido poderia ter sido erodido pelo pornográfico espetáculo de desinformação e antissemitismo a que assistimos nos últimos dias.
Sob risco de acomodar psicobobagens, é difícil não destacar como a masculinidade deformada na infância e adolescência age para destruir a ordem internacional ao adquirir poder planetário. Donald, Vladimir, Kim, a lista é longa.
A nova biografia de Musk descreve como ele apanhava de “bullies” e foi humilhado pelo pai até sair de casa, na capital sul-africana, Pretória, para o Canadá. Um documentário sobre o bilionário que estreou nesta terça-feira (10) na TV americana também ajuda a explicar seu comportamento repulsivo.
Profundamente tímido, rejeitado até a adolescência, Musk não se satisfez em conquistar o mundo com sua figura de empresário brilhante e inovador. Contra os apelos de parentes e amigos, pagou um preço ridiculamente alto pelo Twitter e se empenhou em desmontar o já frágil sistema de garantias de segurança digital da plataforma.
As consequências —difusão de mentiras sobre guerras e a pandemia de Covid e incitação à violência em nome da liberdade de expressão—, que já se mostravam graves em outubro, assim que ele assumiu o comando da plataforma, não podem mais ser toleradas.
Lisa Goldman, uma jornalista veterana da cobertura do Oriente Médio analisou cinco dias de postagens sobre o conflito entre Israel e o Hamas e concluiu que nunca testemunhou um ambiente tão perigoso desde a fundação do Twitter, em 2006. Depois do início das ofensivas, a plataforma foi invadida por imagens de videogames descritas como ataques reais do grupo. Hostilidades e teorias da conspiração postadas na rede de Musk levam os alvos a mudar de endereço e colocam famílias em risco, no melhor estilo trumpista.
Nas palavras de uma interlocutora de mais de 20 anos, até para os padrões de puerilidade do Vale do Silício, Musk é extremo, um bobalhão juvenil cuja fisionomia se ilumina quando conta piadas de pum e de pênis.
Numa das mais citadas aberturas de um romance literário, “Anna Karenina”, Tolstói escreveu que “todas as famílias felizes são iguais, mas as infelizes o são cada qual à sua maneira”. Musk e outros fascistas que ele protege ou admira —ou ambos— mostra que todos os misóginos antissociais emergem de suas famílias infelizes igualmente destruidores.
Walter Isaacson, o autor que teve amplo acesso ao fundador da SpaceX para escrever uma biografia lançada em setembro, tem a palavra final no documentário: “Musk só vive sob uma regra: a de não se submeter a regras”.
Ironicamente, este vândalo boçal –”ele realmente pensa que é o Iron Man,” diz uma conhecida no filme– se apresenta como um messias demente, um Antônio Conselheiro da distopia digital, que repete ter comprado a plataforma para proteger o futuro da civilização.
A civilização é que precisa se proteger deste bárbaro.
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