Com a ascensão de Nikki Haley como a principal aposta de alternativa dos republicanos a Donald Trump, pré-candidatos do partido partiram para cima da ex-embaixadora americana nas Nações Unidas no quarto debate das primárias, nesta quarta (6).
Haley, no entanto, falhou em aproveitar os ataques para se firmar diante de seus adversários, e teve um desempenho nesta noite muito mais fraco do que nos debates anteriores.
Dos 8 postulantes que participaram do primeiro embate, em agosto, restam agora apenas 4. Além de Haley, participaram o governador da Flórida, Ron DeSantis, o empresário Vivek Ramaswamy e o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie. Trump, que lidera as pesquisas de intenção de voto pela nomeação, mais uma vez não compareceu.
Vivek, que vem travando confrontos acalorados com a candidata desde o primeiro debate, chegou a dizer que Haley “é a única pessoa mais fascista do que [Joe] Biden” por defender a proibição de que usuários de redes sociais postem anonimamente. Sobrou ainda para Dick Cheney ser chamado de fascista pelo empresário.
Ele a acusou de usar “política identitária”, por ressaltar ser mulher na campanha, não ser autêntica –como Vivek, Haley é de origem indiana, e se converteu ao cristianismo adulta– e a chamou de corrupta, mostrando um bloco de papel com as palavras “Nikki = Corrupção”. O gesto foi vaiado pela plateia, e Nikki disse que não valeria a pena perder seu tempo respondendo.
DeSantis, por sua vez, disse que o próximo presidente precisa acabar com o ESG (sigla para boas práticas sociais, ambientais e de governança), e que Haley não é a pessoa para fazer isso, aludindo aos apoios recebidos por ela de doadores bilionários.
A ex-embaixadora, que também foi governadora da Carolina do Sul, despontou em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto e conseguiu o apoio de doadores relevantes, como os irmãos Koch e Reid Hoffman, o bilionário co-fundador do LinkedIn, que historicamente apoia candidatos democratas.
Pouco antes, o presidente-executivo do banco JPMorgan, fez um apelo para que doadores democratas fortaleçam a candidatura de Haley, para dar uma alternativa a republicanos em vez de Trump.
“Eu amo toda essa atenção, amigos, obrigada por isso”, disse Haley em resposta aos ataques de Vivek e DeSantis.
Ela, no entanto, ficou em silêncio quando o debate se voltou sobre Trump e sua capacidade de exercer a presidência. Citando falas recentes do ex-presidente sobre deportações em massa e que não seria um ditador “exceto pelo dia 1” de um novo mandato, as moderadoras questionaram a opinião dos pré-candidatos.
Christie foi o único a responder diretamente a pergunta, dizendo que Trump é inapto para ser presidente. O ex-governador de Nova Jersey afirmou que o empresário é um “homem zangado e ressentido” que pretende voltar à presidência para se vingar.
“Ele não se importa com o povo americano, para ele é Donald Trump em primeiro lugar”, disse, sob vaias. Ele ainda relembrou que, caso o empresário seja condenado em algum dos quatro processos criminais que tramitam contra ele antes da eleição, não poderá votar.
Christie relembrou que os seus três colegas de palco afirmaram no primeiro debate que apoiarão o empresário caso ele seja a nomeação do partido, acusando-os de terem medo de ofender o ex-presidente.
Ele ainda pressionou DeSantis a dar sua opinião sobre a aptidão de Trump, após o governador da Flórida fugir da pergunta. Em vez de dizer sim ou não, ele respondeu que acredita que o nome do partido deve ser alguém mais jovem, que seja capaz de servir dois mandatos.
Sobre o temor dos arroubos autoritários do ex-presidente, DeSantis deu a entender que não acredita nesse perigo porque Trump não cumpriu diversas promessas, como a construção de um muro com o México, em seu primeiro mandato.
Mais cedo, Christie havia sido o único a criticar diretamente Trump, a quem comparou ao vilão da saga Harry Potter, Voldemort, chamado nos livros “como aquele que não deve ser nomeado”, em alusão a resistência de seus adversários em falarem sobre Trump, na esperança de conseguir conquistar seus apoiadores.
Mantendo a postura agressiva, Vivek acusou os demais candidatos de “lamberem as botas” de Trump nos últimos anos. Em seguida, ele citou uma série de teorias da conspiração, inclusive de que o ataque ao Capitólio em 6 de Janeiro teria sido um “trabalho interno” do governo e que a eleição de 2020 “foi roubada pela big tech” –não para refutá-las, mas sim para difundi-las. Ao final do debate, ele repetiu que a crise climática é uma farsa.
Haley foi mais direta sobre Trump apenas em sua fala final, acusando o ex-presidente de gerar mais caos aos EUA, e defendendo que sua abordagem é diferente: “sem drama, sem vinganças e sem mimimi”.
Com os confrontos em Gaza e na Ucrânia, política externa foi mais uma vez um dos enfoques do debate. Haley afirmou que o governo Biden age como uma mentalidade de “10 de setembro”, ignorando as ameaças ao país, e igualou manifestantes anti-Israel a antissemitas.
Questionados pelos moderadores, os pré-candidatos também repetiram as críticas à situação fiscal americana, admitindo que não apenas Biden, mas também Trump e republicanos no Congresso são culpados pelo aumento da dívida.
Mas, entre os temas novos, os pré-candidatos discutiram criptomoedas.
Vivek foi questionado por apoiar a desregulamentação dos ativos, após investigações apontarem seu uso por grupos criminosos e terroristas, como o Hamas. DeSantis, por sua vez, disse que vai encerrar os estudos sendo feitos pela administração Biden para criação de uma moeda digital porque, em sua visão, isso seria um ataque à privacidade dos americanos.