Os americanos estão exaustos. O começo oficial do verão e das férias escolares no hemisfério Norte, em meio à campanha interminável, que reprisa as mesmas candidaturas presidenciais de 2020, são ótima notícia para Donald Trump.
Pesquisas mostram que o eleitor desengajado tem tendência maior a votar em Trump. Em abril, uma pesquisa da NBC News apontou que 15% dos americanos estavam ignorando a campanha deste ano, um segmento da população que prefere o republicano por uma vantagem de 26 pontos.
Em 2020, havia o drama da pandemia, a quarentena e, em junho daquele ano, a explosão dos protestos do Black Lives Matter, o que conferiu um maior senso de urgência ao pleito de novembro. A ironia é que, neste ano, Trump se apresenta como uma opção bem mais perigosa. Faz ameaças diárias de vingança contra adversários políticos, imprensa e empresários. Ele está cercado de uma tropa de choque de jagunços que, se Joe Biden for derrotado, voltarão para Washington quebrando tudo.
Desde 2020, o Partido Republicano deixou de fingir que tem plataforma política para apresentar na convenção de julho. O programa de governo é copiar e colar o que passar pelo cérebro de Trump, em evidente deterioração.
Na semana passada, um grupo de CEOs, salivando por uma orgia da corte de impostos numa segunda Presidência Trump, saiu de uma reunião com ele demonstrando surpresa diante do óbvio: um deles disse que o ex-presidente não tinha a menor ideia do que falava e não conseguia manter uma linha de pensamento.
O jornalista que mais entrevistou Trump e ficou a sós com ele, desde que o fracasso da tentativa de golpe de Estado, lançou um livro nesta semana sobre o reality show sem o qual o empresário não teria chegado à Casa Branca.
O autor, Ramin Setoodeh, acompanhou Trump desde a primeira temporada de “O Aprendiz”, em 2004 e, em longas conversas, nos últimos três anos, testemunhou lapsos de memória e confusão mental que não tornariam Trump apto a tomar conta de uma banca de camelô, muito menos a voltar a controlar os códigos do arsenal nuclear.
Assim, a divisão entre americanos que seguem a campanha e os desinformados vai se tornando mais importante do que diferenças partidárias ou sobre agenda de governo. Quem assistiu à invasão do Capitólio em tempo real não poderia esperar a amnésia coletiva sobre a violência e as centenas de milhares de mortes desnecessárias por Covid, provocadas pelo negacionista-chefe.
O outro racha demográfico é entre os sexos, e os motivos ainda são objeto de discussão. As eleitoras americanas estão cada vez mais liberais, enquanto os homens se mantêm mais estáveis e conservadores nas opiniões políticas, além de terem preferido Trump nas eleições de 2016 e 2020. A repressão à liberdade reprodutiva, sob assalto da Suprema Corte, não é o único fator de uma tendência que precede Trump.
Em fevereiro, o Gallup publicou uma pesquisa que confirma a distância ideológica expressiva entre os sexos especialmente em dois grupos: idosas e eleitoras jovens —estas, um segmento que o democrata Biden precisa urgentemente motivar para ir às urnas.
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