Pode ser o proverbial “wishful thinking”, aquele pensamento cheio de esperança que muitas vezes se prova ilusório. Mas democratas e alguns analistas apostam que, desta vez, as mulheres mais velhas, moradoras dos subúrbios (que nos EUA compreendem os bairros ricos), são o eleitorado subestimado e , na visão deles, vão salvar a pátria nas eleições deste ano –da mesma maneira que os homens brancos de baixa escolaridade garantiram a eleição de Trump em 2016.
O combustível para essa previsão (ou esperança) é uma pesquisa de resultado surpreendente divulgada no sábado (2). O levantamento da J. Ann Selzer para o jornal Des Moines Register, de Iowa, mostrou a democrata Kamala Harris liderando no estado com 47% dos votos, diante de 44% do republicano Donald Trump. Iowa nem mesmo é considerado um estado-pêndulo. Deixou de ser na eleição de 2016 para se tornar solidamente republicano. Trump venceu em Iowa por 9 pontos em 2016 e por 8 pontos em 2020.
Então o resultado causou choques –e foi atacado pelo próprio Trump, que chamou a pesquisa de “supressão de votos” e disse que ela “deveria ser ilegal”. Sua campanha apontou para uma outra pesquisa recente, do Emerson College, que mostrava Trump 10 pontos à frente de Harris.
O resultado do levantamento pode ser apenas uma anormalidade ou um erro. Mas o fato é que a pesquisadora que conduz o levantamento, Ann Selzer, tem um histórico de ir contra o consenso e acertar. Sua pesquisa é considerada, no meio, como “padrão ouro”.
Outro sinal de perigo para os republicanos é que o perfil demográfico de Iowa é muito semelhante ao de estados-pêndulo como Wisconsin e Michigan e pode indicar fragilidade de Trump nesse eleitorado.
Em entrevista à BBC, Ann Selzer afirmou que a pesquisa mostrou Kamala vencendo entre mulheres de mais de 65 anos na proporção de 2 para 1 e apontou que os eleitores mais velhos são os mais confiáveis em relação a comparecimento.
“A mídia tem se mostrado muito mais interessada nos homens jovens de centros urbanos do que mulheres do subúrbio. Se a eleição for para Kamala Harris, vamos conduzir várias conversas internas para entender por que passamos tanto tempo falando sobre Joe Rogan (podcaster com grande público masculino jovem)”, disse Ben Smith, editor-chefe do Semafor e crítico de mídia.
A aposta é que, da mesma maneira que os homens brancos de baixo grau de escolaridade foram o eleitorado subestimado de 2016, neste ano serão as mulheres mais velhas.
Mas já vimos esse filme antes. “Para cada trabalhador de classe baixa democrata que perdemos no oeste da Pensilvânia, vamos ganhar dois republicanos moderados no subúrbio da Filadélfia”, previu o senador democrata Chuck Schumer em 2016.
Schumer errou feio.