A rede CCTV e a agência Xinhua, os dois principais meios estatais da China, noticiaram a vitória de Donald Trump assim que ela foi anunciada pelo próprio —sem esperar as projeções dos meios tradicionais americanos. No título do jornal Pengpai Xinwen (The Paper) para o despacho da Xinhua, “Trump declarou vitória”.
“O ex-presidente dos EUA Donald Trump fez um discurso anunciando que venceu”, leu o apresentador da CCTV no final da tarde, em Pequim, reproduzido por plataformas como Douyin, o TikTok original. Por volta das 23h30, 12h30 no Brasil, a chancelaria soltou uma nota no site em chinês: “Respeitamos a escolha do povo americano e congratulamos o sr. Trump por ter sido eleito presidente dos EUA”.
O registro breve à tarde, da rede de TV e da agência, já havia aberto o caminho para Trump ocupar o alto dos tópicos da rede social Weibo e de canais como Ifeng (Phoenix), que abrange a chamada Grande Área da Baía, de grandes cidades como Cantão, Shenzhen e Hong Kong.
No Weibo, em que o tom agressivo lembra plataformas americanas como X, usuários criticaram a divulgação do resultado supostamente antes da hora, “Sério, CCTV?”, e partiram para comentar sobre o presidente eleito, tanto positiva como negativamente.
“Os tempos felizes de Trump estão de volta”, escreveu uma, de Hubei. “Vai terminar Rússia–Ucrânia em 24 horas?”, ironizou outro, de Guandong. Houve cobranças para “não interferir na reunificação da China com Taiwan” e lamentos porque “a situação [dos EUA] em relação à China não vai mudar”. Também atenção para Elon Musk, da Tesla e da SpaceX, que só “aposta para vencer”.
Entre os seguidores do controverso jornalista e influenciador Hu Xijin, que acaba de sair de uma suspensão de três meses em mídia social, um comentário conclamava Trump, com sarcasmo, a “aproveitar o momento e iniciar a guerra civil ou a guerra mundial”.
Mais séria, a análise imediata no Ifeng projetou as “grandes mudanças” de Trump. Entre outras, deve iniciar a “guerra mundial de tarifas”, intensificar a crise climática, revirar a Guerra da Ucrânia e tornar mais urgente aquela no Oriente Médio. “Pobre Gaza, pobre Líbano“, anotou o veículo.
O fascínio com Trump nas plataformas chinesas não começou com a vitória. Vídeos dele em campanha ou de sua família, sobretudo os filhos Barron e Ivanka, ocupam há semanas tanto o Douyin como o concorrente Kuaishou.
A mobilização em torno da eleição americana alcançou também os pesquisadores das principais instituições chinesas. Tang Shiping, professor da Universidade Fudan, de Xangai, onde dirige o Centro para Análise de Decisão Complexa, anunciou dois dias antes da votação que havia projetado vitória de Trump, com probabilidade de mais de 60%.
Após a confirmação do resultado, surgiu em mídia social se dizendo “orgulhoso da equipe” e prometendo um relatório aprofundado do exercício. Foi saudado como “o Nate Silver da China”, o analista americano de estatísticas eleitorais e esportivas, hoje na plataforma Substack.
As Bolsas de Valores de Xangai, Shenzhen, Hong Kong e Pequim, assim como a cotação do yuan em relação ao dólar, começaram a cair ainda pela manhã, no horário chinês, quando a vantagem de Trump começou a se desenhar.
Já as ações no Japão e na Coreia do Sul subiram, embora suas moedas também tenham se desvalorizado, como a chinesa. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, foi um dos primeiros a congratular Trump pela vitória.
Dias antes da votação, foi publicada uma entrevista em que seu assessor de política externa, Takashi Kawakami, afirmou que as manifestações de 6 de janeiro de 2021, após a derrota de Trump para Joe Biden, poderiam ter alcançado uma “revolução”, que sublinhou estar prevista na Constituição dos EUA. Disse também que uma vitória de Trump permitiria ao Japão “finalmente se tornar independente”, porque resultaria em menos atenção aos aliados asiáticos.
Segundo a agência de notícias Reuters, o escritório presidencial da Coreia do Sul declarou, ainda antes da confirmação da vitória de Trump, que construirá uma parceira de segurança “perfeita” com o novo governo americano. E o de Taiwan disse querer continuar trabalhando em proximidade com os EUA, como seu “parceiro mais confiável”.