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Eleições EUA 2024: Como foi a campanha de Donald Trump – 04/11/2024 – Mundo

Esta era uma eleição para os republicanos ganharem. Só é uma disputa tão acirrada porque o candidato é Donald Trump.

A avaliação de Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco Eurasia, é compartilhada por muitos outros analistas nos Estados Unidos. Joe Biden é um presidente impopular, culpado pelo eleitorado pela disparada da inflação (hoje em desaceleração), por um descontrole da fronteira e pela eclosão de conflitos no exterior. Não fosse a alta rejeição ao empresário entre o eleitorado, qualquer desafiante teria um caminho mais fácil contra um democrata até a Casa Branca.

Ron DeSantis e Nikki Haley tentaram argumentar isso quando disputaram a nomeação republicana nas primárias. A facilidade com que Trump derrubou os concorrentes provou, mais uma vez, o predomínio Maga –a legião de fiéis seguidores do movimento Make America Great Again– sobre o que era a base do partido até 2016.

O fato inédito de tornar-se o primeiro ex-presidente alvo de não apenas um, mas quatro processos criminais, não enfraqueceu sua candidatura. Pelo contrário: a foto tirada ao ser fichado na Geórgia tornou-se um dos símbolos de sua campanha.

O impacto das ações na Justiça na corrida acabou se revelando pequeno –uma estratégia bem-sucedida de protelação de seus advogados, uma juíza nomeada pelo próprio Trump na Flórida e uma Suprema Corte conservadora impediram o avanço de três dos quatro processos antes do pleito.

O maior problema da campanha foi a tensão entre uma mensagem vencedora clara –impulsionar a economia, controlar a imigração e apaziguar o mundo– e a imprevisibilidade e os instintos de Trump.

Enquanto assessores escreviam discursos sobre economia, o empresário desviava o foco para ataques à identidade racial de Kamala Harris. Coube a aliados tentar apagar o fogo provocado por elogios à invasão do Capitólio, promessas de ser um ditador no dia 1, vingar-se de adversários e usar militares contra um “inimigo interno”. Mas Trump não recuou de nada do que disse.

E então veio um estampido. Gritos. Silêncio. Em meio à apreensão, Trump emergiu com sangue no rosto, punho em riste, a bandeira americana tremulando ao fundo. “Lute! Lute! Lute!”.

A tentativa de assassinato do republicano em 13 de julho, ainda não esclarecida totalmente pela investigação, melhorou a visão de americanos sobre ele. Na média das pesquisas, o saldo desfavorável caiu de 12,2 pontos para 8,7 pontos, segundo o FiveThirtyEight.

Na convenção do partido, que aconteceu na semana seguinte ao ataque, Trump emergiu como o escolhido. Delegados usavam orgulhosos um curativo na orelha, imitando o do ex-presidente. Na tentativa de humanizá-lo mais, sua neta Kai, 17, foi escalada para fazer um discurso sobre um vovô.

Para republicanos, a vitória naquele momento era certa. O jovem senador conservador J.D. Vance foi escolhido como vice e potencial herdeiro Maga. A notícia da desistência de Biden, chamada até hoje de golpe pelo ex-presidente, caiu como uma bomba. Toda a campanha havia sido montada tendo em mente o octogenário presidente como alvo.

Conforme a democrata ganhava terreno nas pesquisas, Trump ficava cada vez mais inquieto e indisciplinado. Uma segunda tentativa de assassinato contra ele teve pouquíssimo destaque –Kamala dominava o ciclo do noticiário. Enquanto assessores diziam para esperar e deixar a adversária se desgastar sozinha, Trump dava ouvidos a vozes mais radicais de sua base.

Trouxe de volta o polêmico Corey Lewandowski, associado ao caos de sua campanha de 2016. No trajeto para o debate com a adversária, levou consigo a influenciadora Laura Loomer, conhecida por espalhar teorias da conspiração e fazer comentários racistas nas redes sociais. A indignação de seus assessores e aliados foi tamanha que o republicano cedeu.

Na reta final, suspendeu uma sessão de perguntas e respostas com apoiadores para ouvir uma playlist por quase 40 minutos. Falou sobre o tamanho da genitália de um jogador de golfe em um comício. Chamou seu aguardado evento no Madison Square Garden de um “festival de amor”, sem pedir desculpas pela piada racista feita por um comediante com Porto Rico.

Mas Trump manteve-se coerente do começo ao fim em uma linha central de ataque de sua campanha: imigrantes. O candidato os culpou por uma suposta alta da criminalidade, pela subida de preços de imóveis e de alugueis, por tirarem empregos de cidadãos negros e latinos, por sobrecarregarem serviços de assistência social, saúde e educação, votarem ilegalmente em democratas e, finalmente, por comerem gatos e cachorros.

Se eleito, sua promessa é fazer a maior deportação em massa da história.

A memória de que as coisas eram melhores antes de Biden também foi explorada habilmente na tentativa de superar a rejeição de eleitores mais moderados à personalidade de Trump. A maior parte dos americanos avalia que ele é o melhor candidato para fazer a economia crescer.

O empresário buscou ampliar seu apelo prometendo uma série de isenções tributárias: fim de impostos sobre gorjetas e sobre a aposentadoria, isenções para famílias com filhos pequenos.

Com uma arrecadação menor do que a de democratas e mais despesas –parte do dinheiro foi utilizado para bancar sua defesa nos processos criminais–, a campanha inovou na estratégia. Percebendo o largo apoio a Trump entre homens jovens, mas que costumam votar pouco, um investimento arriscado foi feito em podcasts voltados a esse público.

Outra escolha heterodoxa foi terceirizar a tradicional operação de bater de porta em porta de eleitores. Foi nessa lacuna que Elon Musk entrou de cabeça com seu AmericaPAC, um comitê de arrecadação de fundos criado pelo bilionário para eleger Trump.

O empresário sul-africano chegou a prometer sortear US$ 1 milhão por dia para quem aderisse a um abaixo-assinado. Na órbita de Trump, tornou-se um de seus principais apoiadores, aparecendo em comícios e compartilhando acusações sobre fraude eleitoral em sua rede, o X.

Trump não deixou de colocar em dúvida a lisura do pleito em nenhum momento. Questionado se aceitará o resultado, condiciona reconhecer uma derrota à sua avaliação de que a eleição foi justa.

“Estamos concorrendo contra algo muito maior do que Joe Biden e Kamala, algo mais poderoso. É a máquina corrupta democrata”, disse em seu discurso no Madison Square Garden. “Um grupo amorfo de pessoas, mas eles são espertos e ambiciosos.”

“Dizem: ‘como posso falar do inimigo interno’? Mas é contra essas pessoas que estamos lutando. Teríamos a maior vitória da história do nosso país”, seguiu. “Essa nação não pertence a eles, pertence a vocês.”

Fonte: Folha de São Paulo

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