spot_img
HomeMundoDifícil papel dos EUA no mundo ficou muito mais difícil - 20/09/2024...

Difícil papel dos EUA no mundo ficou muito mais difícil – 20/09/2024 – Thomas L. Friedman

Ultimamente tenho começado discursos sobre os desafios da política externa que o próximo presidente dos Estados Unidos enfrentará desta forma:

“Quero falar hoje com todos os pais na sala: mamãe, papai, se seu filho ou filha voltar da faculdade e disser, ‘Quero ser secretário de Estado um dia,’ diga a eles: ‘Querido, seja o que você quiser, mas por favor, não seja secretário de Estado. É o pior emprego do mundo. Secretário de Educação, Agricultura, C omércio —sem problemas. Mas nos prometa que não se tornará secretário de Estado.’”

Conduzir a política externa dos EUA é extremamente difícil devido à necessidade de gerenciar superpotências, supercorporações, indivíduos e redes superempoderados, supertempestades, Estados superfalidos e superinteligência, todos interligados em uma teia complexa de problemas.

Durante a Guerra Fria, Henry Kissinger usou diplomacia de vaivém para negociar acordos de desengajamento depois da guerra de 1973 entre Israel, Egito e Síria, envolvendo o presidente Anwar Sadat, a primeira-ministra Golda Meir e o presidente Hafez al-Assad.

Antony Blinken, 71º secretário de Estado americano desde 2021, junto com Jake Sullivan e Bill Burns, enfrenta um Oriente Médio transformado em comparação ao de Kissinger, agora composto por Estados falidos, Estados zumbis

Estou falando do Hamas na Faixa de Gaza, do Hezbollah no Líbano e na Síria, dos Houthis no Iêmen e das milícias xiitas no Iraque. Praticamente em todos os lugares que Blinken, Sullivan e Burns olhavam quando iniciaram sua diplomacia de vaivém após 7 de outubro de 2023, viam em dobro —o governo libanês oficial e a rede do Hezbollah, o governo iemenita oficial e a rede dos Houthis, e o governo iraquiano oficial e as redes de milícias xiitas dirigidas pelo Irã.

Na Síria, há um governo no comando em Damasco, e o resto do país é um mosaico de zonas controladas por Rússia, Irã, Turquia, Hezbollah e forças dos EUA e curdas. A rede do Hamas em Gaza só podia ser alcançada por meio de mediadores do Qatar e do Egito. E até mesmo o Hamas tinha uma ala militar dentro de Gaza e uma ala política fora de Gaza.

Enquanto isso, o Hezbollah é a primeira entidade não estatal na história moderna a ter estabelecido a destruição mútua assegurada com um Estado-nação.

Hoje, o Hezbollah pode ameaçar de forma crível destruir o aeroporto de Tel Aviv com seus foguetes de precisão tanto quanto Israel pode ameaçar destruir o aeroporto de Beirute. Isso não era verdade da última vez que travaram uma guerra, em 2006.

O que também não era verdade naquela época era que Israel teria tecnologia para matar ou ferir centenas de membros do Hezbollah de uma só vez, como fez na terça-feira (17) usando ferramentas cibernéticas tipo “Matrix” para detonar seus pagers de uma vez —enquanto diplomatas dos EUA trabalhavam febrilmente em um cessar-fogo entre as duas partes.

Então, justamente quando os diplomatas americanos estão tentando acalmar o campo de batalha no espaço físico, o ciberespaço entra em erupção.

Adeus, jogo da velha. Hoje, alinhar os interesses de todas essas entidades de uma vez para garantir um cessar-fogo em Gaza é tão fácil quanto alinhar todas as mesmas cores de um lado de um cubo mágico.

Portanto, há apenas uma coisa clara para mim sobre este novo mundo da geopolítica que nosso próximo presidente americano terá que gerenciar: Precisamos de muitos aliados. Este não é um trabalho só para os EUA. É um trabalho para “EUA e amigos”.

Por isso, a escolha nesta eleição para mim também é clara. Você quer Donald Trump —cujas duas mensagens de adesivo para nossos aliados são basicamente “Saia do meu jardim” e “Pague, ou eu te entregarei a Putin” —como presidente?

O u Kamala Harris, que vem de uma administração Bidencuja maior conquista na política externa foi sua capacidade de construir alianças? Este é o maior legado de Joe Biden, e é substancial.

Na Ásia-Pacífico, a equipe de Biden usou alianças para contrabalançar a China militar e tecnologicamente. Na Europa, usou-as na invasão russa da Ucrânia. No Oriente Médio, usou-as em 13 de abril para derrubar virtualmente 300 drones e mísseis que o Irã disparou contra Israel. E na diplomacia secreta, reuniu nossos aliados para a complexa troca de prisioneiros multinacional que libertou, entre outros, o repórter do Wall Street Journal Evan Gerchkovitch, injustamente preso por Vladimir Putin.

Qual é a principal razão pela qual Rússia, Irã e China querem que Trump seja eleito? Porque sabem que ele é muito oportunista quando se trata de lidar com a Otan e com outros aliados dos EUA que ele nunca pode reunir alianças sustentáveis contra eles.

Não tenha dúvidas: o mundo no qual nosso próximo presidente e secretário de Estado terão que liderar é mais desafiador do que em qualquer momento desde antes da Segunda Guerra Mundial.

Não estamos tão preparados militarmente para o mundo que estamos entrando quanto precisamos estar. A única maneira de lidar com esse problema potencial não é abandonar uma ou mais dessas regiões, mas sim adicionar a força de outros à nossa por meio de alianças, que foi, como aconteceu, a chave para o nosso sucesso nas duas Guerras Mundiais e na Guerra Fria.

Mas Trump ainda pode ter uma vantagem. Ele é honesto sobre suas visões terríveis. Ele sinalizou que não se importa se a Ucrâniavencer ou perder para a Rússia. Infelizmente, quando Kamala foi questionada no debate, “Você acredita que tem alguma responsabilidade na forma como a retirada se desenrolou no Afeganistão que levou à morte de 13 membros do serviço dos EUA?”, ela simplesmente se esquivou da questão. Grande erro. Tenho certeza de que os eleitores indecisos notaram isso —não a favor dela.

A resposta de Kamala deveria ter sido: “Fiquei arrasada com essas mortes. Nunca esquecerei de ouvir a notícia na Sala de Situação, porque é lá que a responsabilidade recai. Mas, acima de tudo, nunca esquecerei o que aprendi com essa experiência. Isso nunca se repetirá em minha Presidência.”

Ela teria ganhado votos com uma resposta assim —de eleitores que se preocupam que ela seja muito mais esquerdista do que deixa transparecer.

Infelizmente, há outra razão pela qual a China prefere Trump. Ele não apenas detesta a imigração ilegal; como presidente, ele reprimiu a imigração legal para atrair nacionalistas de direita. Isso é música para os ouvidos da China. Isso enfraquece a principal vantagem dos EUA sobre a China —nossa capacidade de atrair talentos de todos os lugares.

Tenho certeza de que Kamala está à altura do cargo de presidente. Mas mais franqueza dela agora —para mostrar que tem a determinação necessária para enfrentar os desafios de política externa mais impossíveis e enfrentar sua própria base progressista, se necessário— convenceria mais eleitores indecisos de que ela tem a determinação para enfrentar Putin.

Quanto a Trump, ele é forte e errado nas duas questões-chave de política externa —alianças e imigrantes. Sua opção padrão —EUA sozinho— é uma receita para um país fraco, isolado, vulnerável e em declínio.

Fonte: Folha de São Paulo

RELATED ARTICLES

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Advertisment -spot_img

Outras Notícias