São poucas as opções que o presidente do Equador tem para controlar a situação de violência em seu país. As cartas que possui em mãos são, essencialmente, duas. Curiosamente, as referências vêm do México, país que não resolveu seu problema nessa área, mas é dos que há mais décadas enfrentam um problema similar —não à toa que é ele quem hoje exporta franquias de seus principais cartéis às Américas Central e do Sul.
O chamado “príncipe da banana”, Daniel Noboa, 36, jovem azarão numa já conturbada eleição para um mandato tampão de 15 meses, não tem experiência política. É filho de um milionário do ramo das bananas, e isso é menos folclórico do que parece. Denúncias se acumulam há tempos de que a empresa da família Noboa é cúmplice do narcotráfico ao exportar não apenas suas deliciosas bananas, mas usar seus caixotes para levar cocaína à Europa.
Entre as alternativas do presidente está atuar como fez o PRI (Partido Revolucionário Institucional) mexicano ao longo de suas sete décadas no poder, e também boa parte dos políticos da América Central pós-guerras civis: negociar com os cartéis, “Vocês matam pouco, e eu [os EUA e a comunidade internacional] faço vista grossa ao tráfico de drogas.”
Muitos atuaram assim nas últimas décadas, incluindo vários países que compunham a chamada “maré vermelha”, Bolívia, próprio Equador de Correa, e também os governados por regimes linha-dura, como Guatemala, Honduras e El Salvador.
A outra opção é tentar chutar o tabuleiro, como fez Felipe Calderón, em 2006, quando assumiu como segundo presidente não pertencente ao PRI (após Vicente Fox). Ele determinou o fim desses tratados de bastidores e apostou no enfrentamento direto aos cartéis.
Nascido em Michoacán, então um dos estados mais violentos do México, Calderón incentivou as chamadas “autodefensas”, milícias civis que, ao longo dos anos, foram deserdando aos cartéis ou formando cartéis de exportação de drogas como os que supostamente deveriam combater.
Está claro que nem as negociações ilegais de bastidores —que alguém como Nayib Bukele tentou, antes de ir à guerra contras as maras em El Salvador— nem o confronto direto são a solução.
Ninguém tem a fórmula, claramente, mas o certo é que a transnacionalização do crime organizado internacional está se expandindo na região. O Equador não é nenhum “caos” isolado, como dão a entender muitos títulos da mídia internacional.
O fato é que cartéis e grupos criminosos internacionais hoje são muito mais fortes e estão muito mais integrados do que os governos.
Por isso já é errado partir da premissa de que cada país tenha um modelo. Elogia-se muito hoje o modelo de Nayib Bukele em El Salvador, com suas grandes prisões e com os abusos de direitos humanos que já causaram a morte de 300 detentos sob custódia do Estado, muitos sem ter nem uma acusação formal.
As fronteiras estão abertas a gangues de muitos lados. No Arco Mineiro colombiano atuam iranianos; no Equador há uma máfia dos Balcãs, com uma espécie de Pablo Escobar albanês que dá ordens de uma prisão em Guayaquil.
Na Venezuela, nos últimos anos, surgiu um dos mais poderosos grupos de narcotráfico que atua em diversos países, inclusive no Brasil. O Tren de Aragua é hoje uma das principais dores de cabeça de países como Equador, Venezuela, Colômbia e Chile.
Em conversa recente, o promotor argentino Luis Moreno Ocampo, que atuou ao lado de Julio Strassera nos anos 1980 no Julgamento das Juntas argentinas e que depois partiu ao exterior para analisar genocídios no Tribunal Penal Internacional, disse-me: “Os cartéis hoje conectam com uma facilidade e rapidez grupos delitivos da Colômbia com cartéis mexicanos e facções brasileiras. São conexões melhor armadas do que as que têm os governos e suas cúpulas.”
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