Após dedicar sua abertura a Joe Biden, a convenção do Partido Democrata passou para o ataque no segundo dia, escalando seus integrantes mais populares —Michelle e Barack Obama, nessa ordem— e trumpistas arrependidos para seu palco principal.
Caberá ao poderoso casal encerrar a noite, em um discurso que deve funcionar como uma apresentação de Kamala Harris ao eleitor. As falas vão complementar a do marido da candidata, Doug Emhoff, que também discursa nesta noite.
“Kamala é uma alegre guerreira. Está fazendo pelo seu país o que sempre fez pelas pessoas que ama. Sua paixão beneficiará a todos nós quando ela for nossa presidente”, dirá o segundo-cavalheiro, de acordo com trechos do discurso adiantados pela organização.
Em uma estratégia para ressaltar as diferenças entre Kamala e seu oponente, Donald Trump, e tentar conquistar votos para além da sua bolha, democratas também levaram ao palco nomes republicanos.
O principal foi Stephanie Grisham, ex-porta-voz da Casa Branca durante o governo Trump e ex-chefe de gabinete da então primeira-dama Melania Trump. Grisham foi a primeira funcionária do governo a pedir demissão após o 6 de Janeiro, quando o republicano insuflou uma horda de apoiadores a invadir o Capitólio durante a cerimônia que certificava a vitória de Biden na eleição de 2020.
“Atrás das câmeras, Trump zomba de seus apoiadores, chamando-os de ‘habitantes do porão’. Quando as pessoas estavam morrendo na UTI, ele estava bravo porque as câmeras não estavam voltadas para ele. Ele não tem empatia. Não tem moral. Não tem fidelidade à verdade”, disse Grisham na convenção democrata.
“Kamala Harris fala a verdade. Ela respeita o povo americano. E ela tem meu voto”, completou.
Na mesma linha, Kyle Sweetser, que afirma ter sido um eleitor de Trump, também explicou por que mudou de lado. “Votei em Trump porque ele disse que ajudaria trabalhadores da indústria. Mas percebi que ele não estava a meu favor, mas sim a favor de seu próprio bolso.”
“Eu não sou de esquerda, mas acredito que nossos líderes devem despertar o melhor de nós, não o pior. por isso eu vou votar em Kamala Harris”, acrescentou Sweetser diante da plateia em Chicago.
Democratas também aproveitaram para reforçar a ligação —negada pela campanha de Trump— entre o ex-presidente e o Projeto 2025, um calhamaço de propostas conservadoras radicais capitaneado pela Fundação Heritage e impopular entre o eleitorado.
Em um gesto algo cênico, o deputado Malcolm Kenyatta, da Pensilvânia, apontado como o estado mais importante para a eleição neste ano, levou ao palco uma obra com o título “Projeto 2025” na capa. “É interessante, porque geralmente os republicanos estão tentando banir livros, mas este eles estão tentando enfiar goela abaixo.”
“São todas as 900 páginas dele. É um plano radical para nos levar ao passado, falir a classe média, e elevar os preços para as famílias trabalhadoras como a minha e a sua. Sob o Projeto 2025, uma família com dois filhos ganhando US$ 75 mil ao ano vai pagar US$ 1.800 a mais em impostos federais”, afirmou.
Democratas também levaram ao palco dois nepobabies: os netos de Jimmy Carter e John Kennedy.
O segundo, Jack Schlossberg, além de integrar a dinastia política mais famosa dos EUA é um influenciador nas redes sociais. Em seu discurso, relembrou os marcos da carreira de seu avô: o homem mais jovem a ser eleito presidente, o primeiro católico, o que levou o homem à lua. E o comparou a Kamala.
“O chamado à ação de JFK é agora nosso porque, mais uma vez, o bastão foi passado para uma geração mais nova, para uma líder que compartilha a energia, a visão e o otimismo com o futuro do meu avô”, disse.
“Kamala Harris carrega o legado de meu avô”, disse, por sua vez, Jason Carter. “O corpo dele pode estar fraco hoje, mas seu espírito está mais forte do que nunca, e ele não vê a hora de votar em Kamala Harris”, completou, sobre o quase centenário democrata, que tem recebido cuidados paliativos em casa ao menos desde o ano passado.
Na véspera, a primeira noite da convenção democrata, o grande homenageado foi Joe Biden. Ele encerrou a noite —e iniciou sua despedida da política— de maneira enérgica. Em um discurso de cerca de uma hora, elencou as conquistas de seu mandato e passou o bastão para Kamala Harris e Tim Walz como aqueles que darão continuidade ao seu trabalho.
“América, eu dei o meu melhor a você”, disse, citando o trecho de uma música. “Eu cometi muitos erros na minha carreira, mas dei meu melhor a vocês.”
Biden relembrou o cenário do país quanto tomou posse, há quatro anos, depois de derrotar Trump. “Era um inverno de perigos e possibilidades. Agora é verão, o inverno passou, e com um coração grato eu posso dizer a vocês nesta noite de agosto que a democracia prevaleceu. A democracia entregou resultados, e agora a democracia precisa ser preservada.”
Biden não deixou de falar mesmo dos pontos fracos de seu mandato: economia e imigração. Ele disse que a inflação está caindo e que criou um número recorde de empregos. Também culpou Trump pelo fracasso de um acordo bipartidário no Congresso sobre o controle das fronteiras, derrotado após o republicano orientar senadores de seu partido a rejeitarem a lei.
Ele também não deixou de falar sobre a guerra Israel-Hamas. Disse que vai conseguir um acordo para um cessar-fogo e levar a paz ao Oriente Médio. “Os manifestantes nas ruas têm um ponto. Muitos inocentes estão sendo mortos dos dois lados”, disse.
O único momento da noite em que presidente gaguejou foi quando falava sobre o direito ao aborto.