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Crônica de uma guerra anunciada: Irã ataca Israel – 02/10/2024 – José Manuel Diogo

O ataque de mísseis lançado pelo Irã contra Israel na terça-feira (1º) não surpreende. É apenas mais um capítulo em um longo conflito, uma guerra cujo fim parece estar sempre fora de alcance. Como o próprio primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, descreveu, foi “um grande erro” por parte de Teerã, mas é um erro que, no fundo, ambos os lados parecem dispostos a cometer repetidamente.

O conflito entre Israel e Irã, embora oficialmente não declarado como uma guerra aberta, é uma crônica de hostilidades constantes que ecoam tensões antigas, enraizadas na geopolítica e nas rivalidades religiosas do Oriente Médio.

Israel, diante deste ataque, promete retaliação, e Netanyahu, sem rodeios, disse: “Quem nos ataca, nós atacamos de volta”. A retórica é previsível, como se cada lado seguisse um roteiro conhecido. Não há surpresa nas ameaças de resposta militar, nas promessas de vingança. O Irã sabia que Israel reagiria, e Israel sabia que o Irã, de uma forma ou de outra, voltaria a provocar. São movimentos de um jogo cuja lógica é a perpetuação do conflito, não sua resolução.

Esse ataque recente é, portanto, mais uma tentativa de manter aceso o ciclo da guerra. Uma guerra que, embora declarada por alguns como “guerra fria” entre os dois países, tem se manifestado ao longo dos anos em ataques esporádicos, ações indiretas e ameaças diretas.

O apoio tácito e explícito dos Estados Unidos a Israel, expressado mais uma vez pelo presidente Joe Biden, apenas reforça que a dinâmica da violência não deve cessar. As alianças e os interesses estratégicos internacionais garantem que esse conflito seja muito mais do que uma simples rivalidade entre nações; ela é parte de um xadrez geopolítico de poder.

É impossível falar sobre o Irã e Israel sem reconhecer o envolvimento de outras potências, seja a Rússia, a China, ou a União Europeia, que observam e, em muitos casos, tomam parte indireta nesse embate. A promessa de Netanyahu de fazer Teerã “pagar caro” é tanto uma mensagem para o inimigo quanto para seus aliados, demonstrando que Israel não vacilará em sua posição. O que parece se perder nesse jogo perigoso é a paz.

No entanto, a paz nunca pareceu ser o objetivo principal. Manter a guerra viva, manter o conflito ativo, parece mais importante para as partes envolvidas do que resolver as questões centrais que os dividem.

Assim, os ataques são “crônicas de uma morte anunciada”, tanto para os envolvidos diretamente nos confrontos quanto para as populações que sofrem indiretamente os impactos desse ciclo sem fim. As mortes, a destruição e a incerteza são previsíveis. O que talvez surpreenda é a persistência com que ambos os lados continuam a alimentar a guerra, como se essa fosse a única maneira de existir.

Enquanto as promessas de retaliação são feitas e o ciclo da violência continua, a tentativa de fazer com que essa guerra persista é o verdadeiro objetivo por trás de ataques como este.


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Fonte: Folha de São Paulo

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