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Coreia do Sul: Foi tudo muito repentino, diz brasileiro – 03/12/2024 – Mundo

O brasileiro Carlos Gorito, 38, mora na Coreia do Sul desde 2008 e conhece bem o histórico de instabilidade política do país asiático. Ele diz ter ficado chocado, porém, com a aplicação repentina nesta terça-feira (3) da lei marcial, uma medida do presidente para amordaçar a oposição com uso do Exército e que em nenhum momento chegou a ser cogitada em debates públicos, por analistas ou opositores, segundo ele.

“Estava em casa, fazendo reunião. Quando terminei, abri as notícias e fiquei chocado. Já passei por momentos de instabilidade política aqui durante os protestos de 2016 e 17, mas há mais de 40 anos não tínhamos lei marcial”, diz ele à Folha. “A minha esposa acordou chorando, dizendo que era uma tragédia.”

Gorito é empresário e apresenta programas na televisão. Logo após a aplicação da medida, por volta das 22h30 no horário local, ele conta ter recebido uma enxurrada de mensagens de colegas e funcionários. Todas manifestavam preocupação. Um de seus conhecidos chegou a perguntar se era necessário estocar alimentos, por exemplo. Outros, se haveria expediente no dia seguinte.

Há mais de uma década no país sul-americano, no entanto, o brasileiro já se considera calejado com a política sul-coreana. Ele mora na região central de Seul, próximo do antigo palácio presidencial, e diz que as ruas permaneceram tranquilas. Logo percebeu que o presidente Yoon Suk Yeol estava isolado.

O brasileiro traça paralelos com os protestos massivos que ocorreram na Coreia do Sul em 2016 e 2017. À época, milhões de pessoas foram às ruas em apoio e rechaço à então presidente Park Geun-hye, acusada de envolvimento em esquema de corrupção e que acabou afastada e alvo de impeachment.

Ela é filha do ditador militar Park Chung-hee, que comandou o país entre 1961 e 1979, um dos nomes mais polêmicos da política sul-coreana. Acusado de torturar e prender oponentes, ele também é considerado o pai do alto crescimento econômico do país nas décadas de 1960 e 1970.

“O núcleo político dela era diretamente ligado a quem controlou a Coreia por vários anos. Essa herança gerava muito mais tensão. E protestos foram graduais, as pessoas foram sentindo até onde poderiam chegar”, afirma. “Hoje foi repentino, mais radical e pegou todos de surpresa. E soou artificial.”

Impopular, o atual presidente, Yoon Suk Yeol, também tem sido alvo de protestos. Para o brasileiro, a lei marcial aplicada pelo líder de direita, que tem a trajetória comparada ao do hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR), soa como uma medida desesperada.

Yoon anunciou lei marcial, aparentemente fracassada, em rede de TV. O ato mobilizou o Exército, suspendeu liberdades civis e motivou a invasão do prédio da Assembleia Nacional.

Horas depois, com uma votação unânime de 190 parlamentares, nenhum deles do governo, a oposição derrubou o decreto, conforme permite a Constituição do país. Mais tarde, Yoon cedeu e suspendeu a medida.

Fonte: Folha de São Paulo

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