A Coreia do Sul exibiu com pompa nesta terça-feira (26) dezenas de tanques de guerra e mísseis balísticos em seu primeiro desfile militar em grande escala da década. A demonstração de força ocorreu num momento de tensão crescente na península coreana e um mês após a Coreia do Norte simular um ataque nuclear contra Seul.
O desfile na capital sul-coreana marcou o Dia das Forças Armadas, cujas celebrações nos últimos anos haviam sido discretas, em contraste com as paradas militares organizadas pelo regime de Kim Jong-un.
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, justificou a mobilização desta sexta com menções diretas ao rival do Norte. Em discurso numa base aérea de Seul, o líder prometeu aumentar o apoio à defesa e alertou Pyongyang contra o uso de armas nucleares. “Se a Coreia do Norte usar as armas, o regime terá uma resposta esmagadora”, disse ele, enfatizando a aliança militar de seu país com os Estados Unidos.
O evento em Seul reuniu milhares de soldados que desfilaram em tanques e exibiram drones, mísseis e artilharias autopropulsadas produzidas pela Coreia do Sul. Cerca de 300 dos 28,5 mil soldados americanos baseados no país asiático também participaram, segundo o Ministério da Defesa sul-coreano.
Uma série de eventos marcou a data. O destaque foi o desfile de 2 km que partiu do principal distrito comercial e empresarial de Seul e terminou na movimentada praça de Gwanghwamun. Ao longo de todo o trajeto, multidões foram às ruas apesar da chuva para ver de perto a rara exibição de equipamento militar.
“Armas como os drones não tripulados mostram o quanto o nosso país se desenvolveu”, disse Cho Kyu-bok, 75, que mora em Goyang, a cerca de 30 km de Seul, e foi à capital só para acompanhar o desfile.
Enquanto parte do público aplaudia as tropas, grupos de ativistas protestavam contra o que dizem ser uma escala das tensões desnecessárias. Próximo do local do desfile, um homem crítico ao governo segurava uma faixa com a mensagem “Parem a corrida armamentista”.
O último desfile militar de rua na Coreia do Sul havia acontecido em 2013. O evento desta sexta foi reforçado pela postura dura que o presidente Yoon vem adotando contra o vizinho do Norte. Na semana passada, ele reagiu à aproximação entre Kim e Vladimir Putin, chamando o encontro dos líderes de provocação direta.
O presidente russo recebeu o ditador norte-coreano em Vladivostok, no extremo leste da Rússia, em encontro que Seul e aliados ocidentais, como os Estados Unidos, trataram com preocupação diante da possibilidade de que os laços estreitados entre os dois fossem também militares.
Embora não tenham sido feitas menções sobre o assunto, analistas acreditam que o objetivo central da reunião na Rússia foi o acesso do Kremlin ao arsenal de munição pesada norte-coreana para emprego na Guerra da Ucrânia. Moscou, por sua vez, poderia retribuir com tecnologias aeroespacial e nuclear.
No final de agosto, Pyongyang falhou em sua segunda tentativa de lançamento de um satélite espião —Japão, Coreia do Sul e EUA repudiaram a ação. Antes do início do encontro, Putin foi questionado sobre o fornecimento de tecnologia de foguetes e satélites à Coreia do Norte. “Foi para isso que viemos aqui”, afirmou, referindo-se ao cosmódromo.
Em resposta às críticas, Kim Jong-un chamou o presidente Suk-yeol de “fantoche traidor” e “idiota diplomático”. Há um mês, o ditador já havia protestado contra a série de exercícios militares liderados por Washington na península —as forças norte-coreanas lançaram mísseis balísticos numa simulação de ataque nuclear contra os sul-coreanos.
Pyongyang tem reiterado suas críticas à agressiva militarização promovida por Seul e pelos EUA. Os dois países firmaram um pacto de compartilhamento de estratégias nucleares para o evento de uma guerra com o Norte, jogando para o menor nível da história recente as relações entre o governo comunista apoiado pela China e pela Rússia e o sul capitalista.
Aliada de Pyongyang, a China disse nesta terça que Japão e Coreia do Sul concordaram em realizar uma cúpula de líderes para discutir a segurança na região. Os países teriam concordado com a necessidade de novos progressos e contribuições para a paz e estabilidade, segundo o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Wang Wenbin. A data do encontro, porém, não foi divulgada.
O desfile de terça-feira começou na base aérea nos arredores de Seul, onde mísseis Hyunmoo, interceptadores de mísseis L-SAM e drones de reconhecimento estavam entre os equipamentos militares em exibição. Um voo de caças F-35 teve de ser cancelada devido ao mau tempo, segundo autoridades.
O Hyunmoo é um dos mais recentes mísseis da Coreia do Sul, que, segundo analistas, é parte integrante dos planos de Seul para atacar o Norte durante um eventual conflito, enquanto o L-SAM foi concebido para atingir mísseis em altitudes de 50 km a 60 km.