Confrontos entre simpatizantes do presidente da Bolívia, Luis Arce, e do líder indígena Evo Morales foram registrados no domingo (22) perto de La Paz, com um balanço de oito feridos. O chefe de Estado afirmou que não permitirá uma “guerra civil” no país.
Evo, presidente boliviano entre 2006 e 2019, lidera uma caminhada denominada “Marcha para Salvar a Bolívia”, que começou há quase uma semana na cidade de Caracollo, 190 quilômetros ao sul de La Paz, alcançou cerca de 10 mil apoiadores e avança em direção à sede do governo, na capital.
O protesto deve chegar nesta segunda-feira (23) a La Paz, segundo o ex-presidente, em meio a confrontos violentos entre seguidores dos dois políticos, com a crise econômica como pano de fundo.
“Uma guerra civil, como diz um de seus operadores [políticos], é precisamente o que gostariam os inimigos internos e externos do nosso Estado plurinacional da Bolívia”, afirmou Arce em mensagem na televisão, ao lado de seu vice-presidente, David Choquehuanca, sem revelar o nome do colaborador de Evo acusado. “Não permitiremos”
O presidente prosseguiu. “Para que aconteça uma guerra civil, são necessárias pelo menos duas frentes antagônicas e este é um prazer que não te daremos, nossa aposta é na paz.”
Os ex-aliados políticos estão em desacordo sobre a liderança do partido governista e a candidatura presidencial para as eleições de agosto de 2025.
Evo também acusa Arce de bloquear a sua candidatura do ano que vem —o atual presidente ainda não confirmou se concorrerá à reeleição.
Arce, ainda, acusou Evo, seu antigo padrinho político, de apoiar um bloqueio indígena de estradas como parte de uma “tentativa de golpe de Estado”. Na segunda-feira (16), um dia antes de a marcha se iniciar, houve cinco interdições nas rodovias que ligam La Paz ao lago Titicaca, compartilhado por Bolívia e Peru.
No fim de junho, Arce sofreu uma tentativa de golpe militar, de circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas. Ele tem apontado Evo como instigador de setores da sociedade boliviana para causar instabilidade ao governo.
Com pedras, pedaços de paus e fogos de artifício, os seguidores de Arce e Evo se enfrentaram outras duas vezes ao longo da caminhada.
O primeiro confronto aconteceu na quarta-feira (18), na cidade de Vila Vila, um dia após o início da marcha, e deixou 26 feridos, segundo o Ministério da Saúde.
O segundo aconteceu no domingo (22) na região de Ventilla, nas imediações da cidade de El Alto, uma passagem obrigatória da marcha em direção a La Paz, deixando os oito feridos.
“Esta mobilização não tem como finalidade uma reivindicação social, seu objetivo primordial é interromper o atual mandato constitucional”, disse a ministra das Relações Exteriores, Celinda Sosa, em cartas enviadas às Nações Unidas, ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
A interrupção do governo Arce, afirmou ela, aconteceria com a “antecipação das eleições nacionais e a viabilização de uma nova candidatura do senhor Morales, apesar de a Constituição Política do Estado não permitir”.
O governo destaca que a Constituição prevê a reeleição imediata ou consecutiva apenas uma vez, o que impediria Evo de concorrer novamente, embora o ex-presidente insista que está permitida, quando acontece após ao menos um mandato presidencial.