Por semanas, amantes da música eletrônica esperavam ansiosamente pelo festival ‘Universo Paralelo’, realizado no deserto do sul de Israel para coincidir com o festival judaico de Sukkot.
“Chegou o momento em que toda a família está prestes a se reunir novamente”, escreveram os organizadores nas redes sociais antes de começar. “E como vai ser divertido!”
Agora, as mesmas páginas nas redes estão cheias de comentários de pessoas desesperadas tentando encontrar entes queridos. Muitos desapareceram depois que militantes palestinos invadiram o festival e abriram fogo como parte de um grande ataque surpresa a Israel.
Entre os desaparecidos, de acordo com o Itamaraty, estão três brasileiros binacionais que participavam do evento. Um quarto, também binacional, foi hospitalizado.
Uma participante da festa chamada Ortel disse que o primeiro sinal de que algo estava errado foi quando uma sirene tocou ao amanhecer – um alerta de foguetes.
Testemunhas oculares disseram que os foguetes foram rapidamente seguidos por tiros.
“Desligaram a eletricidade e, de repente, do nada, eles [militantes] entraram atirando, disparando em todas as direções”, disse ela ao Canal 12, uma emissora de Israel.
“Cinquenta terroristas chegaram em vans, vestidos com uniformes militares”, ela disse.
As pessoas tentaram fugir do local, correndo pela areia e entrando em seus carros para tentar ir embora – mas os participantes da festa disseram que havia jipes cheios de homens armados atirando nos carros.
“Eles dispararam rajadas e chegamos a um ponto em que todos pararam seus veículos e começaram a correr. Eu me escondi em uma árvore, um arbusto, e eles simplesmente começaram a atirar nas pessoas. Eu vi muitas pessoas feridas sendo jogadas e observava tentando entender o que estava acontecendo.”
O local do festival – com três palcos, uma área de acampamento e uma área de bar e comida – estava no deserto de Negev, perto do Kibbutz Re-im. Não está longe da Faixa de Gaza, de onde os combatentes do Hamas cruzaram ao amanhecer para lançar seu ataque. Eles infiltraram-se em cidades e vilas, fazendo reféns dezenas de pessoas.
O participante do festival Adam Barel disse ao Haaretz que todos na rave estavam cientes de que havia uma chance de foguetes na área, já que o local fica próximo à faixa de Gaza – mas os tiros foram um choque.
Como muitos outros, ele tentou escapar em seu carro – mas os homens armados estavam atirando, então ele saiu e correu.
“Pessoas foram atingidas”, ele disse. “Nos escondemos. Cada um correu para algum lugar diferente.”
Esther Borochov disse à Reuters que estava dirigindo quando seu veículo foi atingido.
Ela viu um jovem dirigindo outro carro, que lhe disse para entrar. Ela entrou – mas o homem foi então baleado à queima-roupa.
Esther disse que fingiu estar morta até ser finalmente resgatada pelo exército israelense.
“Não conseguia mexer as pernas”, disse ela à Reuters no hospital. “Soldados vieram e nos levaram para os arbustos.”
Muitos participantes do festival – como Ortel – se esconderam em arbustos e pomares próximos por horas, esperando que o exército chegasse e os resgatasse.
“Coloquei o telefone no modo silencioso e comecei a rastejar por um pomar de laranjeiras”, disse Ortel. “Os tiros estavam passando por cima de mim.”
Gili Yoskovich contou à BBC como se escondeu em um pomar de pomelos. “Eles estavam indo de árvore em árvore e atirando. Vi pessoas morrendo ao meu redor. Fiquei muito quieta. Não chorei, não fiz nada.”
Finalmente, depois de três horas, ela ouviu vozes de soldados israelenses e decidiu correr para a segurança.
Outra testemunha disse ao Canal 12 que foram “quatro a cinco horas de um filme de terror… Corremos como loucos, foi simplesmente insano.”
O número de pessoas mortas e feridas no festival ainda não está claro. Também não se sabe se o Hamas fez pessoas que estavam lá de reféns, como fizeram em outras cidades e vilas.
Mas Yaniv, um socorrista de emergência que foi chamado para o evento, disse à emissora pública Kan News: “Há pelo menos 200 corpos de israelenses na área onde eu estava.”
“Foi um massacre”, ele disse. “Nunca vi nada parecido na minha vida. Foi uma emboscada planejada. À medida que as pessoas saíam pelas saídas de emergência, esquadrões de terroristas estavam esperando por elas lá e começaram a atirar nelas.
“Tinham 3.000 pessoas no evento, então provavelmente sabiam disso. Tinham informações de inteligência.”
Este texto foi originalmente publicado aqui.