O Brasil vive um aumento alarmante de eventos climáticos extremos, que se tornaram mais frequentes e intensos. Em 2024, desastres como as enchentes no Rio Grande do Sul afetaram 875 mil pessoas, enquanto fortes chuvas em São Paulo e inundações no Rio de Janeiro geraram apagões e desalojaram milhares. Seca recorde e incêndios florestais cobriram 60% do território nacional com fumaça, agravando problemas de saúde e ambientais. Esses eventos, que refletem uma nova normalidade, já haviam sido precedidos por ondas de calor e chuvas torrenciais em 2023.
Uma pesquisa do Observatório Interdisciplinar das Mudanças Climáticas (OIMC) e do Observatório Político e Eleitoral (OPEL) e do Instituto Clima e Sociedade (ICS), no primeiro semestre de 2024, utilizando a metodologia de grupos focais, analisou as percepções da população sobre a crise climática em seis cidades brasileiras: Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Niterói. São Paulo, Diadema e Osasco.
Os resultados são reveladores e apontam para um amplo reconhecimento da gravidade das mudanças climáticas e de sua origem antropogênica. Entretanto, os sentimentos predominantes nas pessoas variam entre o pessimismo, a impotência e, quando muito, a intenção em adotar ações individuais no cotidiano, como economia de água e reciclagem. A disposição para um engajamento em dinâmicas de cidadania coletiva no território foi rara.
As percepções dos entrevistados revelam que as populações mais pobres são as mais vulneráveis, especialmente em áreas urbanas periféricas, onde a infraestrutura precária intensifica os impactos de desastres como enchentes e ondas de calor. Há uma frustração generalizada com a falta de ações concretas do poder público para prevenção de desastres e adaptação climática.
A pesquisa também destaca a confiança na ciência como um eixo central para o enfrentamento da crise climática, apesar do negacionismo oficial recente. A educação é vista como uma área essencial para o desenvolvimento de alternativas sustentáveis, embora persista o ceticismo quanto ao compromisso do governo e empresas com uma transição energética justa.
Outro desafio identificado é a necessidade de fortalecer o engajamento político e coletivo, especialmente entre populações periféricas e jovens, que enfrentam dificuldades particulares diante da emergência climática. Políticas mais acessíveis e conectadas às realidades locais são fundamentais para combater a sensação de desamparo e criar soluções inclusivas.
O estudo conclui que a crise climática já redefine a vida de milhões de brasileiros, exigindo uma transformação radical do modelo de desenvolvimento do país. Medidas simbólicas não bastam: é urgente enfrentar interesses poderosos e implementar ações concretas para reduzir emissões, preservar biomas e proteger os mais vulneráveis, priorizando justiça social. A transição para um modelo sustentável deve equilibrar desenvolvimento e proteção ambiental, com planejamento de longo prazo e um compromisso real com a mudança.
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