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Como Facebook restringiu notícias de Gaza durante guerra – 18/12/2024 – Mundo

O Facebook restringiu severamente a capacidade dos veículos de notícias palestinos de alcançar o público durante a guerra entre Israel e Gaza, de acordo com uma pesquisa da BBC.

Em uma análise abrangente dos dados do Facebook, descobrimos que os canais de imprensa nos territórios palestinos —em Gaza e na Cisjordânia— sofreram uma queda acentuada no engajamento do público desde outubro de 2023.

A BBC também teve acesso a documentos vazados que mostram que o Instagram —outra plataforma de propriedade da Meta— aumentou a moderação dos comentários de usuários palestinos após outubro de 2023. A Meta, dona do Facebook, afirma que qualquer insinuação de que suprimiu deliberadamente determinadas vozes é “inequivocamente falsa”.

Desde o início da guerra entre Israel e Gaza, apenas alguns jornalistas de fora tiveram permissão para entrar no território palestino de Gaza, e só puderam fazer isso escoltados pelo Exército israelense.

As redes sociais preencheram a lacuna para aqueles que queriam ouvir mais vozes de dentro de Gaza. As páginas do Facebook de canais de notícias, como a Palestine TV, a agência de notícias Wafa e a Palestinian Al-Watan News —que operam a partir do território da Cisjordânia—, se tornaram uma fonte vital de atualizações para muitas pessoas ao redor do mundo.

A BBC News Arabic, serviço de notícias em árabe da BBC, compilou dados de engajamento nas páginas do Facebook de 20 importantes organizações de imprensa baseadas na Palestina no ano que antecedeu os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, e no ano seguinte.

O engajamento é uma medida importante do impacto que uma conta de rede social está tendo e de quantas pessoas estão vendo seu conteúdo. Ele inclui fatores como o número de comentários, reações e compartilhamentos.

Durante um período de guerra, é de se esperar que o envolvimento do público aumente. No entanto, os dados mostraram um declínio de 77% após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023.



A Palestine TV tem 5,8 milhões de seguidores no Facebook. Os jornalistas da emissora compartilharam com a gente estatísticas que mostram uma queda de 60% no número de pessoas que veem suas publicações. “A interação foi totalmente restringida, e nossas postagens deixaram de chegar às pessoas“, diz Tariq Ziad, jornalista do canal de televisão.


No ano passado, os jornalistas palestinos levantaram temores de que seu conteúdo online estivesse sendo alvo de “shadow banning” pela Meta —em outras palavras, sendo restringido ou escondido de usuários, sem que estes o percebam.

Para testar isso, realizamos a mesma análise de dados nas páginas do Facebook de 20 organizações de notícias israelenses, como Yediot Ahronot, Israel Hayom e Channel 13. Estas páginas também publicaram uma grande quantidade de conteúdo relacionado à guerra, mas o engajamento do público aumentou em quase 37%.

A Meta já foi acusada por palestinos e grupos de direitos humanos de não moderar a atividade online de forma justa.

Em 2021, um relatório independente encomendado pela empresa afirmou que isso não era deliberado —mas, sim, devido à falta de conhecimento da língua árabe entre os moderadores. Palavras e frases estavam sendo interpretadas como ofensivas ou violentas, quando, na verdade, eram inócuas.

Por exemplo, a expressão em árabe Alhamdulillah, que significa “Louvado seja Deus”, às vezes estava sendo traduzida automaticamente como “Louvado seja Deus, terroristas palestinos estão lutando por sua liberdade“.

Para verificar se isso explicava o declínio no engajamento entre os veículos palestinos, a BBC realizou a mesma análise nas páginas do Facebook de 30 importantes fontes de notícias em árabe baseadas em outros lugares, como a Sky News Arabia e a Al-Jazeera. No entanto, estas páginas registraram um aumento médio de quase 100% no engajamento.

Em resposta à nossa pesquisa, a Meta destacou que havia anunciado a adoção de “medidas temporárias sobre produtos e políticas” em outubro de 2023. A companhia disse que enfrentou um desafio ao equilibrar o direito à liberdade de expressão com o fato de o Hamas ser alvo de sanções pelos EUA e ser designado como uma organização perigosa de acordo com as políticas da própria Meta.

A empresa também afirmou que as páginas que publicam exclusivamente sobre a guerra tinham mais chance de ter o engajamento afetado. “Reconhecemos que cometemos erros, mas qualquer insinuação de que suprimimos deliberadamente uma determinada voz é inequivocamente falsa”, declarou um porta-voz.

Documentos vazados do Instagram

A BBC também conversou com cinco ex e atuais funcionários da Meta sobre o impacto que, segundo eles, as políticas da empresa tiveram sobre usuários palestinos individuais.

Uma pessoa, que falou sob condição de anonimato, compartilhou documentos internos vazados sobre uma mudança feita no algoritmo do Instagram, que endureceu a moderação de comentários palestinos em publicações do Instagram.

“Uma semana após o ataque do Hamas, o código foi alterado, tornando-o basicamente mais agressivo em relação ao povo palestino”, disse.

Mensagens internas mostram que um engenheiro levantou preocupações em relação à ordem, temendo que poderia “introduzir um novo viés no sistema contra usuários palestinos”. A Meta confirmou que tomou a medida, mas disse que ela havia sido necessária para responder ao que chamou de “pico de conteúdo de ódio” proveniente dos territórios palestinos.

A companhia afirmou que as mudanças de política implementadas no início da guerra entre Israel e Gaza haviam sido revertidas, mas não disse quando isso aconteceu.

Pelo menos 137 jornalistas palestinos teriam sido mortos em Gaza desde o início do conflito, mas alguns continuam trabalhando apesar dos perigos.

“Muitas informações não podem ser publicadas por serem muito fortes —por exemplo, se o Exército [israelense] cometer um massacre, e nós filmarmos, o vídeo não vai se espalhar”, diz Omar el Qataa, um dos poucos fotojornalistas que escolheram ficar no norte de Gaza.

“Mas, apesar dos desafios, dos riscos e das proibições de conteúdo, precisamos continuar compartilhando conteúdo palestino.”

Fonte: Folha de São Paulo

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