A erupção do Monte Santa Helena, em Washington (EUA), em 1980, fez qualquer sinal de vida desaparecer sob a lava. A paisagem foi destruída, e espécies foram dizimadas num raio de dezenas de quilômetros ao redor do vulcão. Quando a poeira tóxica baixou, os cientistas deram início a um experimento: eles espalharam esquilos pelo território, para acelerar a recuperação do espaço de forma natural. Na época, os resultados impressionaram. Mas o que ninguém esperava era que, 40 anos depois, os benefícios ainda seriam visíveis.
Um estudo publicado na semana passada na revista científica Frontiers in Microbiomes detalha a mudança duradoura nas comunidades de fungos e bactérias onde os pequenos roedores foram temporariamente introduzidos, em comparação com as terras ao redor.
Experimento original
Em 1983, os pesquisadores Michael Allen e James McMahon voaram de helicóptero por uma área onde a lava havia transformado a terra em uma cobertura de pedra-pomes porosa. Por lá, eles perceberam que, três anos após a explosão, apenas cerca de uma dúzia de plantas surgiu a partir de sementes derrubadas por pássaros.
Dessa forma, surgiu a ideia de usar os esquilos – considerados “agricultores” por natureza – para tentar recuperar o ecossistema. Esses mamíferos são conhecidos por seu hábito de escavar a terra e esconder sementes embaixo da terra, o que basicamente estimula o seu plantio.
“Frequentemente, os esquilos são considerados pragas”, lembra Allen, em comunicado. “Mas pensamos que eles poderiam escavar o solo infértil até encontrar a terra mais velha e a mover para a superfície. Tal processo poderia ser o pontapé para a recuperação da região”.
Como em um passe de mágica, a terra voltou a ter vida em duas áreas de pedra-pomes após um único dia em que os animais foram introduzidos. Seis anos após o experimento, por exemplo, o terreno que antes tinha algumas poucas amostras orgânicas, agora apresentava mais de 40 mil plantas.
Agentes biológicos além dos esquilos
O novo estudo revela que, além dos esquilos, a atuação de outros agentes biológicos na região foi fundamental para o sucesso da recuperação da região. Isso foi possível também por causa de algo que nem sempre é visível a olho nu: os fungos micorrízicos.
Esses organismos costumam penetrar nas células das raízes das plantas para trocar nutrientes. Desta forma, ajudam a proteger as plantas de patógenos no solo e a fornecer recursos essenciais para a vida em ambientes extremos, onde as espécies vegetais podem encontrar maior dificuldade para prosperar.
“Com exceção de algumas ervas daninhas, não há como a maioria das raízes das plantas serem eficientes o suficiente para obter todos os nutrientes e água de que precisam por si mesmas. Os fungos transportam essas coisas para a planta e obtêm o carbono de que precisam para seu próprio crescimento em troca”, explica Allen.
Um segundo aspecto da pesquisa ressalta ainda mais o quão críticos esses micróbios foram para o recrescimento da vida vegetal após o desastre. De um lado da montanha havia uma floresta antiga, a qual foi fortemente afetada pelas cinzas do vulcão. Sem a luz solar, as folhas das plantas superaqueceram e caíram, o que poderia levar ao seu colapso.
Porém, não foi bem isso o que aconteceu. “Essas plantas têm seus próprios fungos micorrízicos que pegaram nutrientes das folhas caídas e ajudaram a alimentar o rápido crescimento das árvores”, indica Emma Aronson, coautora do novo artigo. “Os espécimes voltaram quase imediatamente em alguns lugares. Nem tudo morreu como pensávamos”.
Tais resultados ressaltam o quanto ainda há para se aprender sobre o resgate de ecossistemas em perigo. “Não podemos ignorar a interdependência de todas as coisas na natureza, especialmente as coisas que não podemos ver, como micróbios e fungos”, conclui Mia Maltz, também autora da pesquisa recente.