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A China acompanhou as eleições da Argentina de perto, diante de uma campanha marcada por ataques unilaterais do ultraliberal Javier Milei , presidente eleito no domingo (19). Nos últimos anos, os dois países estreitaram suas relações comerciais e diplomáticas, o que foi questionado pelo vencedor nas urnas.
Assessores de Milei começam a dar indícios de como o país vai se portar nas suas relações internacionais a partir do dia 10 de dezembro, data da posse. Uma das principais conselheiras do presidente eleito e favorita ao posto de chanceler, Diana Mondino tentou suavizar o discurso.
Ainda durante durante a campanha, há duas semanas, ela prometeu que o novo governo não romperá laços com a China. Alguns números explicam esse movimento:
- A Argentina teve US$ 1,34 bilhão (R$ 6,5 bilhões) em investimentos chineses em 2022, segundo dados do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC);
- A potência asiática é o segundo principal parceiro comercial do país sul-americano, atrás apenas do Brasil.
O que o entorno de Milei defende é que “acordos secretos” assinados pelos atuais ocupantes da Casa Rosada com a China sejam revistos. Entre eles está o que confere aos chineses os direitos de cooperar com uma base de pesquisa espacial na província de Neuquén.
A imprensa argentina revelou que oficiais do exército chinês trabalhavam no local e que o acordo impedia que argentinos acessassem parte das instalações. Os EUA expressaram preocupação quanto ao potencial uso militar das instalações, algo que tanto a Argentina quanto a China negam.
Até o fechamento da newsletter, a China ainda não tinha parabenizado Milei pela vitória. Durante a campanha, a diplomacia do país evitou responder aos ataques do então candidato.
Por que importa: bravatas à parte, a Argentina não pode se dar ao luxo de abandonar a China. Sem dólares ou reservas internacionais, os contratos de swap cambial com os chineses são uma das últimas opções para o país com uma economia quebrada e fama de mau pagador.
Além disso, a despeito da vontade de Milei de fortalecer laços comerciais e diplomáticos com os EUA, a matriz agroexportadora da Argentina mais compete do que se complementa à economia americana. Fatores que tornam o país dependente de Pequim.
Pare para ver
O autor: Cai é conhecido por usar fogos de artifício nas apresentações. Nascido em Quanzhou, na província de Fujian, suas obras já foram comissionadas por entidades culturais do mundo todo. Leia mais sobre ele aqui.
O que também importa
★ A China sediou na segunda (20) uma reunião com ministros das Relações Exteriores de países árabes e muçulmanos para discutir o fim do conflito entre Israel e o Hamas. A iniciativa contou com representantes da Liga Árabe, da Organização de Cooperação Islâmica e do Conselho de Cooperação do Golfo. O chanceler chinês, Wang Yi, expressou a disposição de Pequim em mediar um cessar-fogo e fornecer ajuda humanitária aos palestinos, além de defender a criação de um Estado palestino independente.
★ O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, acusou um navio de guerra chinês de um ato “intimidador” que feriu um mergulhador da Marinha. O incidente ocorreu quando uma fragata australiana navegava por águas da zona econômica exclusiva do Japão. Avisado que se tratava de uma missão de mergulho, o destróier chinês “fechou” a embarcação e ativou o sonar de forma considerada “perigosa, insegura e pouco profissional” pelo premiê. Camberra não deu maiores informações sobre o estado de saúde do militar.
★ A China iniciou na segunda (20) um exercício militar conjunto com cinco países do sudeste asiático. A informação foi divulgada pela agência de notícias estatal Xinhua. Forças do Camboja, Laos, Malásia, Tailândia e Vietnã participaram da ação na província de Guangdong, no sul do país. Os países convidados enviaram destacamentos terrestres e embarcações navais, segundo o ministério da Defesa. Ainda segundo a Xinhua, o foco da atividade será contraterrorismo, anti-pirataria e segurança marítima.
Fique de olho
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, afirmou na segunda que as questões de segurança envolvendo o TikTok, de propriedade chinesa, “ainda estão em aberto”.
Ela reconheceu que proteger os dados dos usuários dos EUA no aplicativo representa “um desafio” e afirmou que busca uma solução que não prejudique a inovação e a concorrência.
A fala de uma das principais oficiais do gabinete de Joe Biden ocorre no momento em que a Casa Branca revisa políticas da era Trump e considera banir o aplicativo, movimento criticado à época por democratas.
Por que importa: Banir o TikTok não será tão fácil nos EUA como foi na Índia em 2020. Existem uma série de barreiras constitucionais e o caso certamente chegará à Suprema Corte, a quem caberá decidir de vez se a presidência tem ou não o poder de censurar sozinha um aplicativo.
- Se prosperar, Biden arrisca comprar uma briga com eleitores jovens, público essencial para sua campanha de reeleição no ano que vem;
- Pesquisa realizada pelo YPulse em junho mostrou que 76% dos jovens da Geração Z nos EUA usam o aplicativo ao menos uma vez ao dia.
Para ir a fundo
- O Instituto Confúcio da Unicamp dá início na quinta-feira à sua primeira mostra de cinema chinês. O evento, que vai até o dia 26, acontece no Cine-Teatro Denoy de Oliveira e contará com a exibição de oito longas chineses. Mais informações aqui. (gratuito, em português).
- Continuam abertas as inscrições para a China Homelife Brasil, maior feira de fornecedores chineses do país. O evento acontece nos dias 11, 12 e 13 de dezembro em São Paulo e deve reunir 1000 expositores. Inscrições aqui. (gratuito, em português).
- O CEBRI lançou nesta semana o relatório “Perspectivas para as relações sino-brasileiras no novo mandato presidencial”, uma iniciativa em parceria com a Embaixada da China que ouviu vários líderes da área em fevereiro e março para a construção do documento. Leia aqui. (gratuito, em português).