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China reconstrói base para testes nucleares; veja – 23/12/2023 – Mundo

No deserto remoto onde a China detonou sua primeira bomba atômica há quase 60 anos, um poço vertical profundo que se estima descer pelo menos 860 metros foi perfurado recentemente.

É a evidência mais forte, até agora, de que Pequim está considerando testar uma nova geração de armas nucleares que poderiam aumentar a letalidade de sua força de mísseis em rápida expansão.

Por anos, relatórios do governo dos Estados Unidos e especialistas independentes expressaram vaga preocupação sobre a antiga base de Lop Nur. Os documentos falam sobre possíveis preparativos para operações durante todo o ano e uma “falta de transparência”.

Agora, imagens de satélite revelam que a base militar tem poços recém-perfurados, ideais para conter tempestades de fogo de radiação mortal de grandes explosões nucleares, bem como outras melhorias.

“Todas as evidências apontam para a China fazendo preparativos que permitiriam retomar os testes nucleares”, diz Tong Zhao, especialista nuclear do Carnegie Endowment for International Peace.

Siegfried S. Hecker, ex-diretor do laboratório de armas de Los Alamos, no Novo México, descreveu a reconstrução de Lop Nur como incomum. “Russos e americanos continuaram a atividade em seus locais de teste”, disse ele, “mas nada parecido com isso”.

Analistas dizem que a atividade em Lop Nur sinaliza uma ampla modernização do estabelecimento nuclear da China, alertando que isso poderia desencadear uma nova era de rivalidade atômica.

Eles acrescentam que as ações da China, juntamente com as de outras potências nucleares, podem minar a proibição global de testes iniciada em 1996. As potências atômicas assinaram o acordo após a Guerra Fria como uma forma de conter uma custosa corrida armamentista nuclear.

As novas evidências em Lop Nur foram descobertas por Renny Babiarz, ex-analista da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial, braço do Pentágono. Especialista em reconhecimento por satélite, bem como no programa nuclear de Pequim, Babiarz diz que as detonações nos poços profundos podem acelerar o esforço para aperfeiçoar novos tipos de armas nucleares.

Especialistas independentes que examinaram as imagens de satélite e as análises de Babiarz compartilham suas preocupações.

A atividade em Lop Nor ocorre em um dos momentos mais sensíveis das relações entre EUA e China. O presidente Joe Biden disse que está tentando “estabilizar” uma relação cada vez mais contenciosa e, em uma reunião no mês passado com Xi Jinping, buscou um acordo.

Autoridades de inteligência dos EUA dizem que têm acompanhado o renascimento de Lop Nur há anos. Embora a construção seja óbvia, dizem eles, seu propósito não é.

A China pode estar se preparando para um teste nuclear, admitem. Mas eles acrescentam que Xi pode não ter a intenção de avançar a menos que os EUA ou a Rússia o façam primeiro. Autoridades dizem que Xi pode estar se precavendo, perfurando os poços verticais profundos para que, se necessário, a China possa agir rapidamente.

Na última segunda-feira (18), a chancelaria em Pequim respondeu a perguntas sobre as melhorias em Lop Nur, descartando-as em um comunicado como “agarrar sombras, agitar sem fundamento uma ‘ameaça nuclear da China'”. E chamou tais alegações de “totalmente irresponsáveis”. O ministério também enfatizou o compromisso de Pequim com a proibição de testes nucleares. A China, disse, não poupará “esforços para realizar a nobre aspiração de proibir e erradicar as armas nucleares”.

Lop Nur é uma base militar extensa, com uma área aproximadamente do tamanho da Virgínia, na região árida de Xinjiang, no extremo oeste da China. A área foi escolhida para testes nucleares porque era árida e isolada, sem nenhum residente permanente.

Mas a região mais ampla de Xinjiang é o lar dos uigures, um grupo étnico em grande parte muçulmano que recentemente sofreu detenções em massa e controles de segurança generalizados.

Os uigures há muito protestam contra as ameaças à saúde dos testes nucleares no local, que começaram em 1964, depois que Mao Zedong decidiu construir a bomba. A China realizou seu primeiro teste nuclear subterrâneo em 1969.

Inicialmente, a China usava túneis horizontais rasos. Foi tardia em perfurar poços verticais suficientemente profundos para conter de forma confiável a radiação mortal, especialmente para grandes explosões. Seu primeiro teste desse tipo de poço ocorreu em 1978.

Após a Guerra Fria, o local de teste de Lop Nur encerrou suas grandes explosões e se tornou um local relativamente esquecido.

Isso começou a mudar após 2012, quando Xi chegou ao poder. O líder chinês viu a Força de Foguetes, que ele criou no final de 2015, como uma de suas glórias. A organização de elite, guardiã das armas nucleares da China, incorporava as ambições de Xi de elevar seu país como uma grande potência pronta para enfrentar os EUA.

A ascensão política de Xi coincidiu com o renascimento de Lop Nur. Especialistas nucleares dizem que não veem sinais de um teste chinês iminente e argumentam que Pequim pode não fazer nada.

A reconstrução da base militar pode ser apenas um aviso ao Ocidente, dizem eles. Especialistas chineses sugeriram o mesmo. Outros analistas discordam, argumentando que as frotas de novos bombardeiros, submarinos e silos de mísseis da China anunciam um impulso para novos armamentos.

Segundo o Pentágono, a China poderia ter 1.500 ogivas nucleares até 2035, com base em seu ritmo atual de expansão. Especialistas americanos afirmam que cientistas chineses estão planejando os armamentos específicos que consideram mais adequados para essa expansão e podem aprender muito com explosões de teste.

O que a China mais deseja, dizem, é a miniaturização. Com mísseis mais precisos que atingem alvos específicos, seus cientistas podem reduzir o poder, o tamanho e o custo das ogivas.

A miniaturização poderia tornar os mísseis submarinos da China mais letais. Também poderia ajudar no desenvolvimento de ogivas hipersônicas para evitar as defesas dos EUA.

Especialistas americanos veem a modernização de Lop Nur como um sinal de até onde os chineses podem estar dispostos a ir. “Devemos perceber que eles tinham uma postura conservadora”, disse Terry C. Wallace, ex-diretor de Los Alamos que há muito estuda o programa de experimentação nuclear da China. “Isso está mudando”.

Fonte: Folha de São Paulo

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