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Em conversa com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, o líder chinês Xi Jinping teria dito no ano passado que os Estados Unidos estavam tentando provocar a China até que o país atacasse a ilha de Taiwan.
A fala, desconhecida até então, aconteceu em abril de 2023 durante um encontro entre os dois líderes, segundo reportagem do Financial Times publicada no domingo (16).
O jornal informou ainda que uma mensagem parecida teria sido enviada aos militares chineses. Eles receberam um pedido para que não “mordessem a isca” e exercessem cautela ao lidar com a questão, de acordo com o FT.
Os comentários são muito similares ao que outros líderes governamentais repetiram nos últimos meses.
Em janeiro, por exemplo, o ex-embaixador chinês para os EUA, Cui Tiankai, afirmou em um evento na Asia Society que a China “não cairia na armadilha que alguém pode estar a preparar para nós”, referindo-se a Taiwan.
O clima no entorno da ilha autogovernada esquentou consideravelmente desde a visita da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em 2022. Pequim passou a coordenar vários exercícios militares no estreito e chegou a expressar publicamente a rejeição a Lai-Ching Te, eleito presidente de Taiwan no ano passado.
Por que importa: por mais que afirme frequentemente a necessidade de “resolver a questão de Taiwan” o mais breve possível, Xi calcula o altíssimo custo militar e econômico que uma invasão à ilha traria para a economia chinesa.
Mesmo assim, há certas linhas vermelhas que, se cruzadas, não poderiam passar sem resposta militar sob pena da liderança na China ter seu poder questionado. É o caso de declarações de independência.
- A fala de Xi pode ser interpretada como uma tentativa de usar interlocutores europeus para clamar por moderação em Washington.
- É possível também que o líder quisesse apenas afastar os europeus da estratégia diplomática americana para a ilha.
pare para ver
“Senhora com um leque”, ilustração do artista Zhan Yian. Natural de Qingdao, Zhan se notabilizou pelos trabalhos em que retratou mulheres chinesas com estilo sob forte influência do modernismo europeu. Outras telas podem ser conferidas aqui.
o que também importa
★ O Ministério de Segurança da China revelou na quinta (13) que um homem encontrou e comprou em um sebo quatro livros com dezenas de documentos militares secretos. O homem, identificado apenas como Zhang, é um ex-funcionário de uma empresa estatal e teria adquirido os livros ao custo de ¥ 6 (cerca de R$ 4,50). Investigadores descobriram que os volumes deveriam ter sido destruídos, mas foram vendidos por militares para reciclagem. Os livros foram apreendidos.
★ A Adidas abriu uma investigação para apurar alegações de que seus executivos na China estariam envolvidos em um esquema de suborno. A empresa recebeu uma denúncia anônima que apontou funcionários que estariam cobrando propinas de prestadores externos, com valores que chegavam aos “milhões em dinheiro e até imóveis”, reportou o Financial Times. Consultores jurídicos externos foram contratados para investigar o potencial crime, mas a marca não informou qual seria o motivo das propinas.
★ A Guarda Costeira da China anunciou novas regras para dissuadir a presença de estrangeiros no disputado mar do Sul da China. A partir de agora, “suspeitos de violar a gestão de entrada e saída de fronteiras” no mar podem ser detidos por até 60 dias. A regra vale para “navios estrangeiros que entraram ilegalmente nas águas territoriais da China e nas águas adjacentes”. A medida foi interpretada como uma tentativa de assustar filipinos que pescam na região. Em resposta, o chefe militar das Filipinas, Romeo Brawner instou os pescadores a “prosseguirem com suas atividades normais” na área.
fique de olho
Uma jovem de 19 anos se matou após ser forçada pela família a seguir com um noivado arranjado na província de Henan. A história foi relatada pelo South China Morning Post depois de o caso ser divulgado nas redes sociais.
A noiva teria sido pressionada pela mãe a se casar com o pretendente. A família do noivo pagou um dote de ¥ 270 mil (R$203 mil) pelo matrimônio, e a casamenteira recebeu uma comissão de ¥ 4.800 (R$3.450).
A jovem tentou romper o acordo, mas foi coagida pela casamenteira e pela mãe, que já havia recebido o dinheiro. Após morte, o noivo exigiu a devolução do pagamento. A mãe concordou, mas não depositou o valor integral.
Ela alegou que o homem mentiu a idade para a casamenteira (disse ter 23 anos, quando teria 27). A família do noivo, porém, insistiu em receber todo o dinheiro.
Por que importa: casamentos arranjados são ilegais na China desde 1950, parte das reivindicações da primeira geração de feministas do Partido Comunista que também conseguiram o direito ao divórcio e o fim da poligamia.
A prática, porém, nunca foi totalmente abandonada e se acentuou durante a vigência da política do Filho Único. Como herdeiros do sexo masculino são mais valorizados na cultura chinesa, várias meninas foram abortadas durante os anos em que a lei imperou.
Isso gerou uma disparidade demográfica: há mais homens que mulheres no país, e rapazes têm dificuldade em se casar nas vilas e cidades do interior.
para ir a fundo
- Estão abertas as inscrições para o 8º Seminário Pesquisar China Contemporânea que será organizado por pesquisadores da Unicamp entre os dias 1 e 4 de outubro. O seminário será híbrido e aberto a alunos, pesquisadores, professores e à comunidade em geral. As inscrições e submissões de trabalhos vão até o dia 18 de julho. Informações aqui. (gratuito, em português)
- A rede Observa China realiza no sábado (22) mais um evento para discutir as relações de Brasil e Portugal com o país asiático. O painel terá transmissão simultânea no YouTube. Interessados em se registrar no evento podem obter mais informações aqui. (gratuito, em português)
- A FIAP realizou na semana passada um evento virtual para discutir tecnologia e inovação. O encontro contou com participação de Alexandre Coelho, doutor em Relações Internacionais pela USP. Assista a gravação aqui. (gratuito, em português)
- O pesquisador Paulo Filho realiza no próximo sábado (22) um evento virtual para discutir a questão taiwanesa da perspectiva militar. Interessados podem se inscrever aqui. (pago, em português)