A divulgação pela China de um novo mapa com traçado mais amplo das fronteiras nacionais e que incorpora áreas em disputa aumentou a tensão regional e gerou protestos de vizinhos do gigante asiático.
Em tom duro, Índia, Filipinas, Malásia, Taiwan e Vietnã disseram que o documento não tem fundamento e acusaram Pequim de adotar uma postura expansionista com a reivindicação de áreas contestadas, incluindo o mar do Sul da China, região estratégica cuja soberania é disputada por vários países.
O mapa foi divulgado na segunda (28) pelo Ministério de Recursos Naturais chinês. Pequim diz que o novo tracejado é baseado em documentos históricos e que foi estabelecido com base critérios racionais. Desde 2006 a China publica anualmente novas versões para corrigir “mapas problemáticos”, segundo Pequim.
Em nota divulgada nesta quinta (31), o governo das Filipinas instou o vizinho a agir de “forma responsável” e a respeitar o entendimento do tribunal em Haia, que em 2016 apontou que Pequim não têm base legal para reivindicar “direitos históricos” sobre a maior parte do mar do Sul da China.
O regime chinês diz que não reconhece a legitimidade da sentença e reivindica grande parte do território pelo qual transitam trilhões de dólares em mercadorias por ano. “[A divulgação do mapa] é a mais recente tentativa de legitimar a suposta soberania da China sobre as características e zonas marítimas das Filipinas, sem base no direito internacional”, disse o Ministério das Relações Exteriores filipino.
Antes, outros países asiáticos já haviam apresentado protestos diplomático contra o mapa. O Ministério das Relações Exteriores do Vietnã disse que as reivindicações chinesas não têm valor e violam as leis internacionais. Pham Thu Hang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, ainda acusou Pequim de usar a força contra barcos de pesca vietnamitas que navegam no mar do Sul da China.
A Índia foi a primeira a reclamar, na terça (29), quando protestou contra a incorporação em território chinês do estado indiano de Arunachal Pradesh, localizado no noroeste do país, mas contestado pela China por considerar parte da região autônoma do Tibete, além da região de Aksai-Chin, situado na Caxemira e disputada por Índia e Paquistão e com uma pequena parte administrada pela China.
Segundo o ministro das Relações Exteriores indiano, Subrahmanyam Jaishankar, o mapa apresentado pela China é absurdo. “No passado, a China já havia publicado mapas que reivindicam territórios que não são da China, que pertencem a outros países. Este é um hábito antigo deles”, afirmou ao canal local NDTV.
O novo mapa chinês ainda incorpora a ilha de Taiwan, província considerada rebelde por Pequim. Questionado sobre o documento, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores taiwanês, Jeff Liu, disse que a ilha “absolutamente não faz parte da República Popular da China”. “Não importa o quanto o a China distorça a posição sobre Taiwan, eles não podem mudar o fato da existência do nosso país”.
Nos últimos meses, o regime de Xi Jinping aumentou as pressões militar e política sobre Taiwan, prometendo retomar a ilha à força se necessário. O ápice das tensões aconteceu em agosto passado, quando a então presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, fez a primeira visita de uma alta autoridade americana em 25 anos a Taipé. Em resposta, as forças chinesas simularam um “cerco total” a ilha.
A China está realizando uma “semana nacional de publicidade para conscientização de mapas”, segundo a emissora estatal China Central Television. Questionado sobre o motivo das mudanças no tracejado, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, limitou-se a dizer que o posicionamento de Pequim sobre seus territórios sempre foi “inequívoco”.
“A posição da China sobre a questão do mar do Sul da China sempre foi clara. As autoridades competentes atualizam e divulgam regularmente vários tipos de mapas padrão todos os anos”, disse ele.
No começo do mês, a tensão no mar do Sul da China aumentou após a Guarda Costeira chinesa usar canhões de água contra navios filipinos que escoltavam embarcações com suprimentos para suas tropas mobilizadas no banco de areia Ayungin, ou Second Thomas, como também é chamado. Ninguém ficou ferido durante o incidente, mas um dos dois barcos filipinos que transportavam suprimentos não conseguiu completar sua missão.
O episódio minou os esforços para fortalecer a confiança entre Manila e Pequim. Os elos entre as nações ficaram tensos sob a gestão do atual presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos, que voltou sua atenção para seu aliado tradicional, os EUA.