Para os solitários e aposentados de Xangai, o amor é elusivo. Pessoas divorciadas ou viúvas se reúnem em um lugar para encontros no Parque do Povo todos os fins de semana em busca de uma conversa. Eles circulam por uma cantina da Ikea, uma multinacional sueca, às terças-feiras em busca de diversão.
Eles chegam mais bem vestidos do que o habitual e prontos para falar sobre suas virtudes, suas experiências e o futuro. “Sou simples. Não fumo cigarros nem jogo mahjong [tradicional jogo de tabuleiro]”, disse Xu Xiaoduo, 70, um ex-professor primário divorciado duas vezes que se voluntaria a detalhar sua pensão (cerca de US$ 1.250 por mês) e suas habilidades de dança (muito boas).
“Mas não consigo encontrar o verdadeiro amor”, acrescentou com um suspiro. Outros compartilham suas frustrações, mas minimizam qualquer anseio por encontrar o amor. Alguns dizem ter perdido a esperança.
Não deveria ser tão difícil. Há mais pessoas acima de 65 anos na China do que em qualquer outro país. E Xangai tem mais idosos do que qualquer outra cidade chinesa. A maioria dessas pessoas parou de trabalhar há muito tempo porque a China tem uma das idades de aposentadoria mais baixas do mundo, e muitos são viúvos ou divorciados. Todos parecem estar solitários, e têm seus filhos e netos ocupados demais com suas próprias vidas.
O número de solteiros idosos na China está aumentando. Nas próximas três décadas, espera-se que a população com 65 anos ou mais alcance 400 milhões, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.
À medida que as pessoas na China vivem mais tempo e as ideias sobre casamento mudam, mais pessoas estão em busca de uma segunda ou terceira chance no amor. Para ajudar a preencher o vazio, programas de encontros surgiram com títulos como “Não é Tarde Demais para o Destino”. Na internet existem salas de bate-papo, casamenteiros com transmissões ao vivo e aplicativos de namoro para idosos e solteiros.
Mas não há nada que substitua um relacionamento. Todas as semanas em Xangai, centenas de idosos voltam aos mesmos lugares designados dos parques públicos e, por algum motivo que ninguém conseguiu explicar, a uma área de refeições em uma loja da Ikea, especializada em móveis e decoração, no distrito de Xuhui, esperançosos em encontrar um futuro cônjuge.
Os encontros são eventos sociais —as pessoas levam equipamentos de karaokê e alto-falantes ao parque para dançar e cantar. Elas também levam garrafas térmicas à Ikea para encher com café grátis e trocam histórias sobre suas infâncias ao redor de mesas brancas.
Um terreno arborizado no centro de Xangai, o Parque do Povo tem uma longa história de servir como ponto de encontro, primeiro para jogadores, depois para estudantes manifestantes e também para quem quer praticar inglês.
Hoje é mais conhecido por seu “mercado de casamentos”, um lugar onde os pais retornam fim de semana após fim de semana com um otimismo implacável sobre encontrar um par para seus filhos solteiros. Eles trazem currículos com detalhes pessoais como altura e peso de seus filhos e se gabam de atributos como nível de QI, diplomas universitários e notas em testes.
Parecia natural que o parque também pudesse se tornar um ponto de encontro para outro tipo de pessoa: os aposentados e entediados.
“Aos poucos, alguém pensou que, se as crianças pudessem encontrar um parceiro, os pais também poderiam”, disse Liu Qiyu, que estava vestido com um conjunto de veludo azul e acessórios que incluíam relógio dourado, correntes e lenço de seda.
Enquanto homens e mulheres mais velhos começavam a se aglomerar em grupos próximos, Liu explicou que ele não estava procurando alguém para si mesmo. “Eu vim aqui uma ou duas vezes, procurando a outra metade, mas não consegui encontrar.”
Assim como os encontros nos parques aos fins de semana, as terças-feiras na Ikea tendem a atrair pessoas de 60 a 80 anos em busca do que se tornou conhecido na China como “amor crepuscular”.
Por algumas horas à tarde, a loja de móveis sueca tem a sensação de um clube social. O segundo andar da loja tem parte do tráfego habitual de dias úteis —compradores que passeiam pela cafetaria passando pelos estandes de metal escolhendo as famosas almôndegas, bolos de amêndoa e sucos.
Mas muitos vieram em busca de algo além da culinária sueca, alguns trazendo sua própria comida e vagando de mesa em mesa, puxando cadeiras para onde estão sentados amigos e conhecidos.
No banheiro bem iluminado, ao lado do piso da loja, as mulheres se reúnem para fofocar. Uma está passando batom.
Encontros online não são considerados pelos homens e mulheres no local. Eles têm smartphones ou pelo menos os meios para comprar um, mas a maioria diz que não quer procurar um parceiro na internet.
“Quando se trata de comprar coisas, eu vou online”, disse Li Zhiming, 69, que havia estilizado seu cabelo preto com gel e estava usando delineador e calças boca de sino. “Eu não acho que encontros online sejam confiáveis.”
Li disse que sua esposa o deixou para ir ao exterior em 1996, nos primeiros anos da reforma e abertura econômica da China. Ele tem ficado sozinho desde então. Depois de se aposentar de um emprego como engenheiro há nove anos, começou a planejar seus dias com atividades. Ele joga cartas, dança ao som de música latina e sabe cantar.
“Tenho meu próprio apartamento, uma pensão e um corpo saudável”, disse Li. Ele disse que queria encontrar uma mulher “jovem e bonita”. Em troca, prometeu cozinhar e cuidar dela. “Estou solitário em casa.”