Um tribunal chinês condenou, nesta sexta-feira (29), um editor e colunista de alto escalão de um importante jornal do Partido Comunista a sete anos de prisão por acusações de espionagem. Sua família afirma que a detenção serve para punir o profissional por textos críticos ao regime e amedrontar cidadãos chineses em relação ao envolvimento com estrangeiros.
O jornalista, Dong Yuyu, 62, foi preso em Pequim em 2022 no momento em que almoçava com um diplomata japonês, também brevemente detido.
Como parte de seu trabalho, Dong se encontrava regularmente com diplomatas estrangeiros e jornalistas. Ele também era um escritor produtivo e frequentemente expressava apoio ao Estado de Direito e à democracia, ideias que o Partido Comunista diz apoiar, mas na realidade suprimiu. Alguns de seus textos criticavam a versão da história chinesa propagada pelo partido, que costuma minimizar seu papel em períodos sombrios, como o da Revolução Cultural.
Tais críticas eram comuns entre intelectuais chineses. Mas desde que o atual líder da China, Xi Jinping, assumiu o poder, em 2012, a sigla praticamente eliminou qualquer espaço para opiniões dissidentes e pediu aos cidadãos para desconfiarem de influências estrangeiras em nome da segurança nacional.
A suposta espionagem estrangeira se tornou uma fixação particular para o regime. No ano passado, a China ampliou sua já abrangente definição de espionagem, e a agência de segurança do Estado pediu uma “mobilização de toda a sociedade” contra espiões.
Membros da família de Dong divulgaram uma declaração nesta sexta chamando sua condenação de “grave injustiça” não apenas com ele, mas com “todo jornalista chinês de pensamento livre e todo cidadão chinês comprometido com o engajamento amigável com o mundo”.
“Yuyu está sendo perseguido pela independência que demonstrou durante toda uma vida como jornalista”, continuou a família. “Yuyu agora será conhecido como um traidor em seu próprio país, em vez de ser reconhecido como alguém que sempre lutou por uma sociedade chinesa melhor.”
Após a detenção de Dong, em 2022, ele ficou incomunicável por seis meses antes de ser formalmente preso, e não foi a julgamento até julho de 2023, segundo sua família. O tribunal então adiou repetidamente seu veredicto e sentença.
Acusações relacionadas à segurança nacional são envoltas em segredo, e os julgamentos são realizados a portas fechadas. A declaração da família disse que o veredicto, lido em tribunal mas não compartilhado com os advogados de Dong, citou seus contatos com um ex-embaixador japonês na China, Hideo Tarumi, e outro diplomata japonês como prova de que ele havia se encontrado com agentes de uma organização de espionagem.
A Embaixada do Japão em Pequim não respondeu imediatamente a um pedido de comentário do jornal americano The New York Times.
A família disse ainda que as autoridades também examinaram bolsas e intercâmbios nos quais Dong havia participado no Japão e nos Estados Unidos. As acusações “colocam dezenas de milhares de acadêmicos e profissionais chineses que estiveram em intercâmbio no exterior em perigo”, dizem seus familiares.
A carreira de Dong floresceu em um período em que as interações com o mundo exterior não apenas eram aceitas, mas incentivadas pelas autoridades chinesas, à medida que o país abria sua economia. Ele ingressou no Guangming Daily, o segundo jornal do Partido Comunista, em 1987, após se formar na prestigiosa faculdade de direito da Universidade de Pequim.
Ele subiu na hierarquia e ganhou prêmios de jornalismo por reportagens que escreveu ou editou sobre funcionários corruptos, empréstimos para estudantes pobres e outros temas.
Além de seu trabalho no Guangming Daily, ele contribuiu para publicações chinesas de tendência progressista, que desde então foram fechadas, e escreveu artigos para o site em chinês do The New York Times sobre a priorização do regime ao crescimento econômico em detrimento de questões como poluição e sobre o desejo de enviar seu filho para estudar no exterior.
A partir de 2006, Dong passou um ano na Universidade Harvard com uma bolsa de jornalismo Nieman; nos anos seguintes, foi pesquisador visitante em duas universidades japonesas.
Após Xi assumir o poder, o espaço para expressão individual na China diminuiu rapidamente, e ele exigiu que veículos de notícias servissem ao partido. Jornalistas chineses não podem mais escrever para publicações estrangeiras, e muitos acadêmicos devem obter permissão de superiores antes de se encontrarem com estrangeiros, mesmo em particular.
Em 2017, funcionários do partido no Guangming Daily rotularam parte do trabalho de Dong como “antissocialista”, disse sua família. (Dong, ao contrário da maioria dos funcionários do jornal, não é membro do partido.) Ele continuou escrevendo, mas frequentemente usava um pseudônimo.
Em 21 de fevereiro de 2022, Dong e o diplomata japonês com quem estava jantando foram detidos em um restaurante de hotel. O diplomata foi liberado após protestos do governo japonês.
A família disse que Dong estava fazendo 200 flexões e 200 elevações de perna por dia na prisão. Ele planejava recorrer da sentença. Dezenas de acadêmicos, jornalistas e defensores da liberdade de imprensa no exterior pediram sua libertação.
Outros cidadãos chineses foram recentemente alvo das autoridades depois de se envolverem com diplomatas estrangeiros. Dois ativistas de direitos humanos, Yu Wensheng e Xu Yan, que são casados, foram presos em 2023 enquanto se dirigiam para se encontrar com diplomatas da União Europeia. No mês passado, foram condenados a penas de prisão de três anos e um ano e nove meses, respectivamente, sob acusações de incitar a subversão do poder estatal.