A ação terrestre de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza, iniciada na sexta passada (27), transformou a região central da capital homônima do território governado pelo grupo terrorista palestino desde 2007 em uma linha de frente.
Segundo relatos de jornalistas palestinos e de moradores ouvidos por agências internacionais, o Hamas está oferecendo dura resistência, após ver a faixa mais ao norte da capital ser gradualmente ocupada por colunas de tanques e blindados, além da infantaria.
A tática é a esperada desde antes do início desta fase da guerra: o emprego da extensa rede de túneis sob Gaza, estimada pelo Hamas em 500 km antes do início do conflito. Segundo os relatos, os terroristas usam táticas de guerrilha clássicas, saindo rapidamente dos túneis, engajando-se em combates e fugindo por outras saídas.
O maior problema para Israel são os mísseis antitanque russos Kornet, que o Hamas opera em uma quantidade considerada limitada, mas letal, fornecida pelo Irã por meio da Síria ao longo dos anos. Seu uso já destruiu alguns blindados de Tel Aviv na ofensiva.
Vídeos do Hamas e de seus aliados da Jihad Islâmica, que não foram georreferenciados e portanto são de autenticidade ainda duvidosa, mostram o emprego dessas armas e de outros modelos portáteis. A campanha de foguetes de fabricação artesanal contra Israel continua, ainda que não na intensidade do mega-ataque do dia 7 de outubro, que disparou a guerra.
Essa realidade e a presença continuada de civis na cidade, que antes da guerra tinha cerca de 600 mil dos 2,3 milhões de moradores da faixa, eleva ainda mais o custo político e militar da operação. Na manhã desta quinta (2), chegaram a 18 os soldados mortos de Israel, incluindo um comandante de batalhão.
“Nós estamos nos portões da cidade de Gaza”, havia dito na véspera um dos chefes da operação, general Izik Cohen. Ao que tudo indica, suas forças ficarão lá por um tempo, fazendo incursões progressivas principalmente vindas do norte, enquanto por ora os blindados ao sul da capital não avançaram —sugerindo uma barreira de contenção para um movimento de pinça posterior.
Nesta quinta, mais um conjunto de explosões atingiu o campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza. Segundo a agência de notícias Wafa, que é da rival do Hamas Autoridade Nacional palestina, ao menos 29 pessoas morreram, mas não há confirmação independente.
Na terça (31) e na quarta (1), ações semelhantes foram assumidas por Israel horas após acontecerem. A primeira matou 50 pessoas, número citado por ambos os lados, e os palestinos dizem que a segunda vitimou 195 moradores. Tel Aviv afirma que o Hamas é responsável pelas mortes, por esconder seus centros de comando alvejados entre prédios residenciais.
Seja como for, a pressão internacional sobre o Estado judeu cresce, com um enviado da ONU à região sugerindo investigação por crime de guerra em Jabalia. Israel criticou a ideia, lembrando que o uso de escudos humanos também pode ser enquadrado na categoria. Até aqui, morreram cerca de 1.400 israelenses e estrangeiros nas mãos do Hamas, e a retaliação de Tel Aviv matou 9.061, segundo os palestinos.
Nas frentes secundárias da guerra, o Shin Bet (serviço secreto israelense) acelerou sua busca por suspeitos de terrorismo na Cisjordânia, que é administrada pela Autoridade Nacional Palestina. Só nesta noite, foram 49 pessoas presas, 21 delas segundo as autoridades pertencentes ao Hamas.
Desde o começo da guerra, foram 1.220 detidos, 740 deles acusados de serem do grupo palestino. Há denúncias de abusos. A situação tem causado tensão na região, e moradores da capital Ramallah jogaram pedras contra soldados israelenses nesta quinta.
No vilarejo de Deir Sharaf, perto de Nablus, uma turba de colonos judeus atacou lojas palestinas. Já o assentamento judaico de Einav, montado a partir do confisco de terras da palestina Ramin, registrou um ataque com fuzil contra o carro de um de seus moradores, que capotou. Não houve feridos graves nos dois episódios.
No norte do país, houve novos ataques com mísseis antitanque do grupo libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã, e bombardeio de suas posições pelas forças de Israel. A tensão regional e o risco de escalada, ainda que por ora contidos, seguem altas e estão no foco das discussões da nova viagem do secretário de Estado americano, Antony Blinken, à região.
Nesta quinta, ele falou sobre o tema com seu homólogo na Arábia Saudita, país que estava em vias de normalizar relações com Israel antes da guerra. O descarrilamento desse processo e o congelamento de laços promovido por países árabes em paz com Tel Aviv, como Jordânia e Bahrein, são vitórias táticas da guerra do Hamas, e do Irã, até aqui.