Vídeos apoiando uma carta publicada há décadas por Osama bin Laden com críticas aos Estados Unidos e o apoio do país a Israel ganharam popularidade no TikTok na semana passada e se somaram a acusações de que a rede social alimenta a disseminação de conteúdo antissemita. A Casa Branca condenou o ressurgimento da carta.
O texto, intitulado “Carta à América”, foi publicado um ano após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. A carta defende os ataques orquestrados por Bin Laden e diz que os americanos se tornaram “servos” dos judeus, que, segundo ele, controlavam a economia e a imprensa do país. Os contribuintes americanos, escreveu Bin Laden, eram cúmplices em prejudicar os muçulmanos no Oriente Médio.
Alguns usuários do TikTok publicaram vídeos em que dizem ter visto o documento como um despertar para o papel dos EUA no mundo e expressaram sua decepção com o país. Um vídeo popular mostra uma usuária do TikTok escovando o cabelo com a legenda: “Quando você lê a carta de Osama bin Laden para a América e percebe que foi enganada a vida inteira”.
Outro vídeo, com quase 100 mil curtidas, mostrava uma usuária do TikTok na pia da cozinha com a legenda: “Tentando voltar à vida normal depois de ler a ‘Carta de Osama bin Laden’ e perceber que tudo o que aprendemos sobre o Oriente Médio, o 11 de setembro e o ‘terrorismo’ era uma mentira”. Outra publicação, com mais de 60 mil visualizações, mostrava outra pessoa dizendo que a carta mostrou a ela que os EUA eram uma “praga para o mundo inteiro”.
Na última quinta-feira, uma busca por #Lettertoamerica mostrou vídeos com 14,2 milhões de visualizações. Ao meio-dia, quando o TikTok tentou bloquear o conteúdo, as pesquisas no site por “osama bin laden”, “bin laden letter” e “osama letter” e a hashtag #lettertoamerica não mostraram resultados na guia “vídeos” do TikTok, embora alguns vídeos ainda fossem visíveis a partir de outros termos de pesquisa.
Alex Haurek, porta-voz do TikTok, disse que “o conteúdo que promove esta carta claramente viola nossas regras contra o apoio a qualquer forma de terrorismo” e que a empresa está “removendo agressivamente esse conteúdo e investigando como ele chegou à nossa plataforma”.
Ele disse que a maioria das visualizações ocorreu depois que organizações de notícias escreveram sobre os vídeos e que a carta também “apareceu em várias plataformas e na mídia”.
A Casa Branca se manifestou na quinta. “Não há nunca justificativa para espalhar as mentiras repugnantes, malignas e antissemitas que o líder da Al-Qaeda emitiu logo após cometer o pior ataque terrorista da história americana.”
“Ninguém jamais deveria insultar as 2.977 famílias americanas que ainda estão de luto por entes queridos associando-se às palavras vis de Osama bin Laden”, disse Andrew Bates, vice-secretário de imprensa da Casa Branca, em comunicado. “Particularmente agora, em um momento de crescente violência antissemita no mundo, e logo após terroristas do Hamas terem realizado o pior massacre do povo judeu desde o Holocausto em nome das mesmas teorias conspiratórias.”
Uma transcrição da carta de Bin Laden publicada no britânico The Guardian em 2002 se tornou a segunda página mais visualizada em seu site na quarta-feira (15), levando o grupo a removê-la do site.
“A transcrição publicada em nosso site em 2002 foi amplamente compartilhada nas redes sociais sem o contexto completo”, disse Matt Mittenthal, porta-voz do Guardian. “Portanto, decidimos removê-la e direcionar os leitores para o artigo de notícias que a contextualizou originalmente.”
A remoção alimentou mais uma onda de vídeos sobre a carta no TikTok com teorias da conspiração de que o documento de acesso público estava sendo de alguma forma ocultado dos usuários.
A carta também foi mencionada em uma reunião privada entre executivos do TikTok e criadores e celebridades judaicas da rede social na noite de quarta, quando os criadores pediram à empresa que fizesse mais para combater o aumento do antissemitismo e do assédio no aplicativo. “Este aplicativo precisa proibir esta carta”, disse um deles.
A guerra entre Israel e o Hamas colocou o TikTok, que é de propriedade da empresa chinesa ByteDance, novamente na mira de Washington. A companhia foi acusada de amplificar conteúdo pró-Palestina e antissemita, e o aumento de vídeos em torno da carta de Bin Laden fez ressurgir acusações de que o aplicativo trabalha para promover os interesses do regime chinês.
Parlamentares republicanos renovaram apelos para banir o aplicativo do país, como os senadores Marco Rubio, da Flórida, e Josh Hawley, do Missouri, que compartilharam vídeos relacionados à carta nas redes sociais nesta semana. No X, antigo Twitter, Hawley chamou o TikTok de “um gêiser de propaganda terrorista e a ferramenta de vigilância mais eficaz já inventada por um governo estrangeiro”.