A polícia do Canadá entrou em confronto no sábado (11) com manifestantes que se recusavam a desmobilizar um acampamento pró-Palestina na Universidade de Alberta, no oeste do país.
Três pessoas foram presas no episódio, nenhuma vinculada à instituição e, de acordo com o grupo que organizava o ato, quatro estudantes se feriram durante os enfrentamentos —as autoridades não confirmaram a informação.
Cerca de cem ativistas estavam acampados na instituição desde quinta-feira (9) em solidariedade ao sofrimento dos palestinos na Faixa de Gaza. Eles exigiam que a universidade revelasse todos os laços que mantinha com Israel e os cortasse, e foram retirados do local a pedido da própria administração.
Vídeos nas redes sociais mostram que os policiais usaram gás de pimenta, cassetetes e bicicletas para agredir os manifestantes.
A operação ocorre dois dias depois da dissolução de um acampamento semelhante na cidade de Calgary, a maior da província de Alberta, na quinta-feira. Também lá houve confronto entre os agentes e os manifestantes —gás lacrimogêneo e granadas de atordoamento foram empregados—, e cinco pessoas foram detidas.
Os acampamentos integram uma onda de protestos estudantis contra a guerra Israel-Hamas que estourou algumas semanas atrás, no final de abril. Acampamentos semelhantes aos de Alberta e de Calgary tomaram espaços universitários que incluíam de Nova York, nos Estados Unidos —onde a Universidade Columbia cancelou sua tradicional cerimônia de formatura por medo de tumultos— ao campus da USP (Universidade de São Paulo), no Brasil.
O destino dos protestos estudantis contra a guerra em Gaza é incerto, com o final do ano letivo no Hemisfério Norte se aproximando e acampamentos erguidos nas últimas semanas sendo desmantelados.
Em um campus em Auraria, em Denver, no Meio-Oeste dos EUA, cerca de 75 barracas continuaram montadas mesmo após a prisão de 45 manifestantes no final de abril. Hoje, os manifestantes fornecem cerca de 200 refeições por dia em uma tenda de refeitório do local, que reúne estudantes da Universidade Colorado-Denver, da Universidade Estadual Metropolitana e da Faculdade Comunitária de Denver.
Os ativistas prometem continuar com a ocupação até que suas demandas sejam atendidas, incluindo um cessar-fogo permanente e a universidade encerre ligações com empresas de alguma maneira ligadas ao conflito.
Pesquisadores dizem que é difícil que a energia dos campi seja mantida até o verão. Preveem, contudo, que o movimento pró-Palestina migrará para as ruas no período, que começa em junho.
Dana Fisher, professora na Universidade Americana, em Washington, e autora de livros sobre ativismo, contou à Reuters que alguns de seus alunos participaram dos protestos no campus da universidade em que leciona.
Ela diz acreditar que o movimento estudantil carece de infraestrutura para se sustentar fora dos campi. Ao mesmo tempo, diz que a resposta policial aos protestos despertou o sentimento ativista entre os estudantes. E antevê um “longo e quente verão de protestos” que tem potencial para se tornar mais tumultuado em razão das eleições presidenciais americanas.
Também à Reuters, o professor de política Michael Heaney, da Universidade de Glasgow, disse que os protestos nos campi são apenas uma faceta do movimento de apoio aos palestinos, que data de décadas. Ele observou que a expansão geográfica dos acampamentos universitários, como no caso de Denver, oferece uma oportunidade para ampliar a mensagem do movimento para novos locais.
Assim como Fisher, ele também acredita que os protestos pró-Palestina pode crescer nos EUA nos próximos meses, especialmente se a ofensiva de Israel em Gaza persistir.