Um dia após um ataque de Israel matar 50 pessoas, o campo de refugiado de Jabalia voltou a ser alvo nesta quarta (1º) de explosões que a rede qatari Al Jazeera afirmou terem sido provocadas pela Força Aérea de Tel Aviv.
Ainda não houve confirmação independente do que ocorreu, até porque a Faixa de Gaza, onde fica Jabalia, está com blecaute parcial de telefonia e internet devido a ataques à rede das operadoras Jawwal e Paltel. Israel ainda não comentou o episódio.
O Hamas, grupo terrorista que administra a região desde 2007, disse à Al Jazeera que há pessoas sob escombros. O chefe da sucursal da TV em Gaza, Wael Dahdouh, relatou ter visto vários prédios em uma região residencial irem ao chão. O jornalista, que perdeu sua família em um bombardeio na semana passada, afirmou que foram empregadas bombas e mísseis.
Na véspera, as Forças de Defesa de Israel atingiram com um bombardeio aéreo a região central de Jabalia, dizendo ter matado 50 integrantes do Hamas, inclusive o importante comandante local Ibrahim Biari.
O Hamas contou a mesma cifra de vítimas, mas se referiu a elas apenas como “mártires”, jargão para quem morre lutando contra os adversários no islamismo, sem especificar se havia civis como sugeriram relatos dos hospitais da região.
O grupo também afirmou, nesta quarta, que a ação matou sete reféns sequestrados na ação que detonou a atual guerra, o mega-ataque terrorista dos palestinos em 7 de outubro, que deixou mais de 1.300 mortos. O Hamas diz que chegou a ter 250 pessoas em suas mãos, mas já falou na morte de 57 delas. Israel conta hoje 240 desaparecidos.
A retaliação israelense ao ataque virou uma guerra para destruir o Hamas, nas palavras do premiê Binyamin Netanyahu. Após quase três semanas de bombardeios, a ação passou para uma fase terrestre gradual, com incursão de colunas blindadas e de infantaria pelo norte e sul da área norte da Faixa de Gaza, que inclui a capital homônima.
Israel já perdeu 13 soldados na ação, 11 só nesta terça (31), quando blindados seus foram atingidos por mísseis antitanque. Não há números fechados por parte do Hamas, mas estima-se que as mortes estejam na casa dos milhares de seus talvez 25 mil integrantes. O grupo só divulga números gerais, e afirma que 8.796 palestinos já morreram na ação.
Jabalia é 1 dos 8 campos de refugiados na região, e tinha antes da guerra 116 mil moradores, diz a ONU. A definição do local é algo imprecisa, por ser decorrente da origem das primeiras famílias que o habitaram. Gaza fazia parte da antiga Palestina britânica, e foi ocupada de 1948 a 1967 pelo Egito, sendo então tomada por Israel.
Nessas guerras em torno da discordância sobre a partilha proposta pela ONU do território entre judeus e ár abes, milhares de palestinos foram expulsos de suas terras —acabando em campos de refugiados clássicos, com tendas. No caso de Jabalia e outros, o fato de a situação ter se eternizado transformou a ocupação em bairros e cidades urbanizadas, ainda que de forma bastante precária em termos de infraestrutura.
A Autoridade Nacional Palestina, que controla a Cisjordânia e foi expulsa de Gaza pelo Hamas em 2007, calcula que 60% dos 2,3 milhões de moradores da faixa sejam de famílias de refugiados.
Israel reforça mar Vermelho
Também nesta quarta, Israel enviou um navio-patrulha equipado com mísseis para a costa de Eilat, no sul do país. Na véspera, a região havia sido alvo do terceiro ataque promovido por rebeldes houthis do Iêmen, que lançaram um míssil balístico e dois drones contra o balneário.
Os houthis são apoiados pelo Irã, que banca o Hamas e o Hezbollah libanês, além de outros grupos contrários a Israel e a Síria, todos dentro do que Teerã chama de Eixo da Resistência.
Na terça, o sistema de defesa de longa distância israelense Arrow (flecha) foi usado pela primeira vez nesta guerra, interceptando o míssil. Já os drones foram derrubados por caças. Segundo as IDF (Forças de Defesa de Israel), houve um quarto incidente aéreo nesta noite, mas não foi detalhado o que ocorreu.
O mar Vermelho se une ao norte de Israel como frente secundária da guerra em Gaza. A região tem dois destróieres americanos, integrantes do grupo de porta-aviões liderado pelo maior navio de guerra do mundo, o USS Gerald Ford, que está no Mediterrâneo.
Um deles, o USS Carney, abateu há duas semanas uma salva de mísseis e drones lançadas pelos houthis a partir da costa que dominam no norte do Iêmen, país em guerra civil desde 2014. Ruma para a região um segundo grupo de porta-aviões, esse encabeçado pelo USS Dwight Eisenhower.
Todo esse poder de fogo, aliado ao reforço em bases americanas na região, visa dissuadir o Irã e seus aliados regionais a escalarem a guerra. Tem dado relativamente certo: no norte de Israel, o Hezbollah tem intensificado suas ações contra as IDF, mas nada parecido com uma entrada total no conflito.
Isso se dá por considerações domésticas também, dado que o Líbano passa por uma grave crise econômico e uma nova guerra, como a de 2006, poderia ser fatal para o prestígio político do Hezbollah, que é também um partido. Mas a ameaça fica no ar, e o grupo é bem mais forte que o Hamas em termos militares.
Enquanto isso, o Irã segue pedindo que o mundo islâmico reaja aos ataques de Israel a Gaza, tendo sugerido nesta quarta um boicote a produtos do Estado judeu.