Uma emissora de rádio do Wisconsin, nos Estados Unidos, afirmou nesta quinta-feira (11) que uma entrevista com o presidente Joe Biden que ela veiculou na semana passada foi editada a pedido da campanha do democrata.
O episódio se dá em um momento em que a capacidade do líder de 81 anos de concorrer novamente à Presidência é cada vez mais questionada devido a repetidas demonstrações de confusão mental.
As solicitações de mudança foram feitas em 3 de julho, mesma data que o presidente deu uma entrevista ao apresentador Earl Ingram. A versão editada foi então veiculada no dia seguinte, 4 de julho. A rede em questão, Civic Media, afirmou que só soube dessas mudanças na segunda-feira (8), no entanto.
Em comunicado, a emissora afirmou que as edições feitas não atendem aos padrões jornalísticos que espera de entrevistas como essas. Declarou ainda que considerou um erro a decisão da equipe do programa de atender aos requerimentos da campanha de Biden e disse que aproveitou a oportunidade para esclarecer suas orientações nesse sentido.
Por fim, a rede disponibilizou os segmentos que haviam sido cortados e tornou a entrevista completa disponível ao público. “Dada a gravidade do momento político atual, as implicações desta eleição e a importância do escrutínio público de funcionários públicos de alto escalão, acreditamos que é importante compartilhar esta informação”, disse.
Questionada pelo jornal The New York Times, a porta-voz da campanha, Lauren Hitt, não respondeu diretamente a perguntas sobre as edições ou se a campanha havia feito pedidos semelhantes a outros veículos de mídia. Em nota, limitou-se a dizer que “apresentadores sempre foram livres para fazer as perguntas e transmitir os segmentos que achassem melhor para os seus ouvintes”.
As mudanças, feitas antes da transmissão do segmento, omitiam 16 segundos da gravação original.
Em um dos trechos suprimidos, o presidente afirmou ter mais pessoas negras em sua administração “do que qualquer outro presidente, [do que] todos os outros presidentes combinados, e em posições importantes”.
Uma reportagem da rádio pública americana NPR publicada no início do mandato do presidente, em 2021, indicou que o então recém-formado gabinete do líder democrata era mais diverso em termos de etnia do que os de seus dois antecessores, Donald Trump e Barack Obama, ao assumirem. Segundo a análise, 55% dos membros do primeiro escalão do governo Biden eram não brancos, contra 18% na gestão Trump e 45% na de Obama.
Não há, no entanto, dados imediatos disponíveis sobre a quantidade de pessoas negras em cada um dos gabinetes presidenciais dos EUA ao longo da história. A campanha de Biden tampouco confirmou a veracidade da afirmação do presidente na entrevista ao ser questionada pelo New York Times, recusando-se a comentar o assunto.
O outro trecho suprimido trazia Biden tropeçando nas palavras —um tipo de deslize que vem atraindo cada vez mais atenção negativa para o presidente e levado mais e mais apoiadores a pressionarem-no a desistir da candidatura à reeleição.
“Nem sei se eles chegaram a pedir a execução dele ou não, mas ele… Mas eles disseram… condenados por assassinato”, afirmou o presidente, de forma ininteligível, na entrevista.
Biden comentava declarações de Trump sobre um caso conhecido como “Central Park Five”, ocorrido em Nova York em 1989. Então, cinco adolescentes negros e hispânicos foram condenados injustamente pelo estupro de uma mulher.
A decisão foi um marco na história das tensas relações raciais dos EUA. Na época, Trump foi a público pedir que os jovens fossem sentenciados à pena de morte.