Após 25 dias encurralado em uma zona de guerra, o brasileiro Hasan Rabee, 30, esperava conseguir sair da Faixa de Gaza com sua família nesta quarta-feira (1º), quando o trânsito de pessoas na passagem de Rafah, para o Egito, foi liberado pela primeira vez desde o início do conflito entre Israel e o Hamas.
Brasileiros, porém, ainda não foram autorizados a sair da região, bombardeada quase sem interrupções desde os ataques do grupo terrorista Hamas em solo israelense no último dia 7. “Até o momento, não existe informação de quando os brasileiros na Faixa de Gaza vão sair”, disse Rabee em vídeo. “O governo federal não está fazendo esforço para tirar os brasileiros. […] Infelizmente a gente vai ficar aqui. Terror.”
O embaixador brasileiro na Cisjordânia, Alessandro Candeas, confirmou que não há brasileiros na lista das pessoas autorizadas a deixar o território palestino nesta quarta. “Acredito que em breve novas listas serão publicadas, e espero que nossos brasileiros estejam nelas”, afirmou.
Civis foram autorizados a entrar em Rafah às 9h45 locais, depois que autoridades do Cairo anunciaram uma abertura excepcional para quase 90 feridos e mais de 540 pessoas de países como Austrália, Jordânia, Indonésia e Finlândia, além de profissionais de ONGs e da Cruz Vermelha. Ainda não é possível, porém, determinar quantas pessoas conseguiram sair do território devastado pela guerra.
Os que ficam continuam lidando com a crise humanitária que se desenrola em Gaza. Rabee, por exemplo, enfrentou dificuldades para encontrar remédios para as suas filhas de 3 e 6 anos, que estão com febre há dois dias. Ele diz que foi a 11 farmácias, e que os medicamentos ainda não aliviaram os sintomas.
Uma das crianças caiu na noite desta terça (31) após se assustar com um bombardeio na escuridão, segundo o palestino, e machucou a cabeça e a boca. “A gente está passando por um massacre, uma miséria”, diz ele. “As bombas não param de cair e estamos sem energia e sem luz.”
Israel impôs um cerco completo ao território palestino como retaliação ao ataque do Hamas, o que deixou uma população de mais de 2 milhões de pessoas com acesso restrito a água, comida e energia.
No último dia 21, toneladas de suprimentos entraram em Gaza por Rafah pela primeira vez desde o começo da guerra. Desde então, 217 caminhões com ajuda humanitária chegaram no território, o que é considerado insuficiente por organizações de direitos humanos —segundo a ONU, antes da guerra, em média cem caminhões entravam por dia em Gaza, que já registrava condições precárias e alto índice de desemprego.
“O nível de assistência humanitária permitida em Gaza até este momento é completamente inadequado e incondizente com as necessidades das pessoas”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta terça. Desde o início do conflito, mais de um terço dos hospitais locais e quase dois terços das clínicas de atendimento primário foram fechados devido a danos ou falta de combustível.
Não é a primeira vez que Rabee vive momentos de terror na região. Nascido em Gaza, ele teve de fugir da região em 2014, quando as forças israelenses lançaram a operação Margem Protetora para destruir foguetes e túneis usados pelos terroristas. Em 50 dias de confronto, 2.270 palestinos e 82 israelenses morreram.
Rabee então veio para o Brasil, onde recebeu o status de refugiado e arrumou emprego na cidade de São Paulo como vendedor de acessórios para celulares. Em setembro, voltou a Gaza pela primeira vez em nove anos para visitar parentes, mas acabou surpreendido pelo confronto e ficou encurralado.