Uma brasileira de 40 anos foi localizada na Faixa de Gaza nesta sexta-feira (24). Já fazia mais de duas semanas que seus familiares que vivem em Goiás, buscavam informações. Ela estava sem acesso ao telefone e à internet em decorrência da guerra Israel-Hamas.
Bombardeios e incursões israelenses destruíram a infraestrutura do território palestino, além de deixar mais de 14,8 mil mortos. As ofensivas de Israel são uma resposta aos atentados feitos pelo Hamas em 7 de outubro, que deixaram menos 1.200 vítimas no lado israelense.
A mulher brasileira foi casada com o filho de um dos fundadores do Hamas, de quem se separou recentemente. Eles tiveram sete filhos. As crianças, que têm o passaporte brasileiro, passam bem.
Como sua situação é delicada, a Folha tem se referido a ela como Umm Abdo, que em árabe quer dizer “mãe do Abdo”. Foi o pedido dela quando recebeu a reportagem em sua casa em Gaza em 2014, depois de outra guerra com Israel.
É difícil se comunicar com alguém dentro de Gaza. Mesmo em tempos de relativa paz, o acesso à internet e à eletricidade é instável. Umm Abdo, porém, não dava notícias desde o dia 7. A demora —que coincidiu com o recrudescimento da guerra— preocupava a família.
Os parentes costumavam conversar com Umm Abdo por uma rede social, onde ela raramente faz publicações. As notícias vêm a conta-gotas. Só nesta sexta-feira veio à tona, por exemplo, que a brasileira está segura, na medida do possível. Está abrigada ao sul da Cidade de Gaza, de onde teve de sair devido aos ataques.
Umm Abdo nasceu em Santa Catarina e cresceu no Rio Grande do Sul, em um lar católico. Interessou-se pelo islã quando ainda era criança. Passou a frequentar a mesquita em Brasília, onde foi viver. Ela conheceu o agora ex-marido Said Dukhan pela internet e se mudou para Gaza em 2005. Passou duas décadas no território palestino sob cercos e conflitos.
O ex-sogro de Umm Abdo, Abd al-Fattah Dukhan, morreu aos 87 anos nos primeiros dias da guerra atual devido a causas naturais, segundo informações de pessoas próximas à família Dukhan. Não está claro se, além de ter sido um fundador, Al-Fattah ainda tinha algum papel no Hamas. A liderança da facção vive fora de Gaza, em lugares como o Qatar.
Nos últimos dias, outros brasileiros que vivem em Gaza relataram à Folha uma vida de privações. Com o bloqueio e a guerra, faltam itens básicos como água, comida, remédios, cobertores e travesseiros. Alguns deles tiveram que fugir de casa em meio aos ataques. Estão agora em abrigos temporários.
As notícias do cessar-fogo que entrou em vigor nesta sexta não os tranquiliza. Hamas e Israel concordaram em interromper seus ataques enquanto trocam a soltura de reféns da facção pela libertação de palestinos detidos por Tel Aviv. O governo israelense, porém, prometeu “força militar total” após a trégua de quatro dias. A comunidade internacional pede que o cessar-fogo seja prolongado, auxiliando o trabalho humanitário.
Mas a situação retratada pelos brasileiros em Gaza é de tamanha destruição, com corpos largados nas ruas, que eles não vislumbram nenhuma solução imediata. Eles relatam a sensação de que estão no seu limite após tantos conflitos, dos quais o atual tem sido o mais violento.
Neste mês, o governo brasileiro resgatou 32 pessoas de Gaza. O Itamaraty trabalha agora com uma nova lista de repatriados, que já tem 86 nomes. Não há detalhes sobre essa nova operação de resgate, porém. A retirada de pessoas de Gaza é complicada, já que envolve a coordenação brasileira com as autoridades palestinas, egípcias e israelenses.