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Brasil tenta preservar Rússia e Israel em texto do G20 – 14/11/2024 – Mundo

O governo Lula (PT) costura no G20 uma declaração que preserva a Rússia e Israel de críticas diretas pelas guerras na Ucrânia e em Gaza, respectivamente, numa tentativa de superar o impasse que existe entre as principais economias do globo.

Negociadores dos países membros do grupo estão reunidos no Rio de Janeiro para tentar elaborar uma proposta de declaração final que possa ser chancelada pelos líderes que, nos dias 18 e 19, participam da cúpula do G20.

O principal ponto de discordância é o trecho do documento que aborda as guerras na Ucrânia e em Gaza, que vem sendo debatido em reuniões restritas. A Arábia Saudita pressiona para que Israel seja mencionado na referência ao conflito do Oriente Médio, algo que seria vetado pelos EUA.

Já países europeus querem que seja dado o mesmo peso para as duas guerras, na Ucrânia e em Gaza, enquanto nações árabes insistem em maior veemência na condenação da morte de civis palestinos.

Uma versão dos parágrafos vista pela Folha não faz referências a Rússia e a Israel como responsáveis pelas guerras. O trecho enfatiza que os diferentes países do G20 já expressaram suas posições nacionais sobre os dois conflitos e faz um chamamento para que princípios da Carta das Nações Unidos sejam respeitados.

O texto afirma ainda que há preocupação pelo sofrimento causado e destaca que todas as partes envolvidas precisam respeitar e seguir o direito internacional, inclusive o direito humanitário.

No caso de Gaza, o texto reforça a necessidade de que seja garantida a proteção e civis e a assistência humanitária.

Sobre a Ucrânia, enquanto ressalta as consequências negativas que a guerra causou em cadeias globais de suprimentos, volta a afirmar que o uso ou ameaça de armas nucleares é inadmissível.

A expectativa é que as negociações sigam até a chegada dos líderes ao Rio de Janeiro. Há pressões em diferentes frentes.

Além de países árabes que atuam para que haja uma condenação muito mais veemente às mortes de civis em Gaza —o conflito deixou mais de 40 mil palestinos mortos—, França e Alemanha pressionam para que também haja uma condenação enérgica às mortes de civis na Ucrânia, de acordo com pessoas a par do assunto.

O objetivo de não mencionar no texto nem a Rússia nem Israel é evitar vetos. No caso de Moscou, os russos são membros do G20 e bloquearão qualquer trecho que os culpe pelo conflito no Leste da Europa. No caso israelense, o veto viria dos Estados Unidos.

Um dos pontos em discussão é que a delegação da Arábia Saudita tem insistido que Israel deveria ser responsabilizado na declaração.

Os conflitos geopolíticos têm sido o principal impasse na presidência brasileira do G20. Em fevereiro, durante uma reunião de ministros das Relações Exteriores no Rio, as divergências ficaram evidentes.

Nas duas últimas edições do G20, na Índia e na Indonésia, uma ofensiva diplomática liderada por Estados Unidos e aliados para condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia paralisou praticamente todas as reuniões ministeriais.

As declarações de líderes foram negociadas até o último momento e, em parte, foram aprovadas para evitar que o fórum perdesse relevância.

A eclosão da guerra em Gaza em outubro do ano passado acabou servindo como um argumento para que países em desenvolvimento reagissem à ofensiva do Ocidente.

Países do Sul Global, entre eles o Brasil, passaram a exigir que Israel também fosse criticado pela guerra em Gaza.

O argumento era que não poderia haver dois pesos e duas medidas no direito internacional.

“Em termos de gravidade, o que ocorre hoje na Palestina é muito pior [do que na Ucrânia]. O número de vítimas civis é muito pior”, disse à Folha em julho Zane Dangor, negociador-chefe da África do Sul, país que assume a presidência do G20 em 2025.

“Não podemos adotar dois pesos e duas medidas. Todos nós defendemos a libertação dos reféns, criticamos o que ocorreu em 7 de outubro [data do mega-ataque do Hamas], mas não há o mesmo nível de crítica do Ocidente em relação às ações de Israel”, afirma Dangor.

Fonte: Folha de São Paulo

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