O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, planeja enviar uma delegação de alto nível de ex-altos funcionários a Taipé após as eleições em Taiwan, marcadas para o sábado (13), em uma ação que pode complicar os esforços dos EUA e da China para estabilizar suas relações, marcadas por tensão.
A Casa Branca escolheu James Steinberg, ex-vice-secretário de Estado democrata, e Stephen Hadley, ex-conselheiro de segurança nacional republicano, para liderar a delegação bipartidária, de acordo com cinco pessoas familiarizadas com os planos. A Casa Branca se recusou a comentar sobre a delegação planejada.
Biden já havia enviado duas delegações de alto nível de ex-funcionários a Taipé para tranquilizar Taiwan quanto ao apoio dos EUA diante de pressões vindas da China. Mas enviar tal delegação imediatamente após uma eleição presidencial é incomum e pode irritar autoridades chinesas.
A eleição de Taiwan coloca Lai Ching-te, candidato do governista Partido Democrático Progressista (PDP), contra Hou Yu-ih, candidato da principal legenda de oposição, o Kuomintang (KMT), e Ko Wen-je, do Partido do Povo de Taiwan (TPP). A China desconfia muito de Lai, que está associado à ala do PDP que defende a formalização da independência de Taiwan —ilha que é vista como uma província rebelde por Pequim.
A missão também ocorre enquanto os EUA e a China tentam estabilizar os laços que estão em seu pior estado desde que os países normalizaram as relações diplomáticas em 1979. Biden realizou em novembro uma cúpula com o líder chinês, Xi Jinping, em São Francisco na qual discutiram a necessidade de amenizar a turbulência no relacionamento entre as duas nações.
Um ex-funcionário dos EUA afirmou que a decisão de Biden de enviar a delegação a Taipé logo após a eleição é uma jogada arriscada que pode dar errado.
“O objetivo máximo de Washington neste momento sensível deveria ser incentivar a contenção tanto por Pequim quanto por Taipé”, disse ele. “Enviar uma delegação de alto nível parece um abraço afetuoso em Taipé, dando a Pequim justificativa para reagir com exageros. Precisamos de ações mais sutis para sermos eficazes.”
Outra pessoa familiarizada com a viagem disse que o envio da delegação era uma má ideia, dada a possibilidade de que tanto Taiwan quanto China pudessem usá-la para promover suas agendas próprias de maneiras que poderiam complicar os EUA.
Essa pessoa disse ainda que Pequim ficaria “desconfiada” de quaisquer garantias que recebesse dos EUA sobre a missão de forma privada, especialmente se Lai vencer. Essa pessoa afirma também que os políticos taiwaneses “distorceriam a visita para seus próprios propósitos, e isso poderia inflamar a tensão no estreito de Taiwan”.
Outros, porém, afirmam que a delegação é uma boa ideia que ajudaria Taiwan. “Enviar mensagens de nosso apoio à democracia de Taiwan e ao novo presidente é importante, e fazer isso de forma bipartidária é benéfico”, disse Bonnie Glaser, especialista em China e Taiwan do Fundo German Marshall
Há dois anos, Biden enviou Michael Mullen, ex-presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, e Michèle Flournoy, ex-alta funcionária do Pentágono, a Taiwan. Essa delegação tinha como objetivo tranquilizar Taipé diante da preocupação de que Pequim pudesse tentar aproveitar o foco de Washington na invasão da Rússia à Ucrânia para aumentar a pressão sobre a ilha.
No início de seu governo, quando a China aumentava os número de voos de aviões de guerra ao redor de Taiwan, Biden enviou outra delegação bipartidária que incluía Steinberg e o ex-secretário de Estado republicano Richard Armitage.