O presidente americano, Joe Biden, afirmou nesta quarta-feira (25) que não demandou de Israel atrasar a ofensiva terrestre na Faixa de Gaza enquanto os reféns mantidos pelo Hamas não fossem libertados. O democrata disse que a decisão de adiar a incursão foi tomada pelo governo de Binyamin Netanyahu.
“Foi decisão dele, eu não exigi. O que indiquei é que se é possível tirar estas pessoas [reféns] de forma segura [de Gaza], é isso que deve ser feito”, disse Biden.
Nesta segunda, a agência de notícias Reuters afirmou que Washington aconselhou Israel a adiar a ofensiva, citando fontes familiarizadas com as discussões. Enquanto em público defende o direito do Estado judeu de se defender, os Estados Unidos negam que pedido ou exigido de Tel Aviv um adiamento da invasão.
De acordo com a agência, a Casa Branca, o Pentágono e o Departamento de Estado têm intensificado apelos privados à cautela em conversas com os israelenses, à medida que o bloqueio de Gaza por Israel agrava a crise humanitária no território e o número de mortos em ataques aéreos à região ultrapassa 6.500, segundo autoridades locais.
Biden ressaltou nesta quarta que Israel precisa defender seus cidadãos ao mesmo tempo em que protege civis em Gaza em meio ao conflito. As falas foram feitas durante entrevista coletiva, na Casa Branca, por ocasião da visita do premiê australiano, Anthony Albanese.
O direito de autodefesa do Estado judeu tem sido um dos pontos levantados pelos Estados Unidos em falas de apoio a Tel Aviv desde o início do conflito. A ausência desse direito em propostas de resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas é uma das justificativas principais para que Washington vete os textos —caso da resolução levada pelo Brasil à reunião.
O presidente americano também expressou ceticismo em relação ao número de mortos divulgados pelas autoridades palestinas na explosão do hospital al-Ahli Arab —o ministério da Saúde local fala em 473 óbitos, mas setores de inteligência estimam de 50 a 500 mortes.
O conflito de versões sobre a explosão, que Israel afirma ser resultado de um foguete desgovernado do grupo Jihad Islâmico —a facção terrorista rejeita a acusação— alimenta dúvidas sobre o episódio. As estimativas, de todo modo, ainda fazem da destruição no hospital um dos eventos mais letais na Faixa de Gaza desde que Tel Aviv declarou guerra ao Hamas após os atentados do dia 7 de outubro, que deixaram mais de 1.400 mortos em Israel.
Biden afirmou nesta quarta que o Oriente Médio deve se preparar para o fim do conflito entre Israel e Hamas e “o que vem depois”, antes de ressaltar que os Estados Unidos mantêm a defesa da chamada solução de dois Estados, para israelenses e palestinos, na região. Para o presidente americano, não há possibilidade de um retorno à situação anterior à guerra.
Em momento de crítica mais aberta a Israel, o democrata expressou preocupação com o que chamou de colonos extremistas que atacam palestinos na Cisjordânia, acusando-os de adicionar combustível ao fogo do conflito. “Eles estão atacando os palestinos em lugares onde eles têm direito de estar”, disse Biden.
Após o ataque do Hamas, a violência na Cisjordânia tem crescido, com ataques a palestinos e confrontos com forças de segurança de Israel. Segundo dados compilados pela organização de direitos humanos B’Tselem cobrindo os primeiros seis dias após os atentados de 7 de outubro, foram ao menos 46 incidentes em que colonos teriam ameaçado, atacado fisicamente ou danificado propriedades de palestinos na Cisjordânia.