Em meio a relatos de interferência chinesa nas eleições americanas, Joe Biden e Xi Jinping conversaram por telefone nesta terça-feira (2). Além de alertar Pequim sobre uma suposta influência indevida no pleito de novembro, o americano manifestou preocupação com o apoio chinês aos esforços russos de reconstrução de sua indústria de defesa.
Autoridades do governo Biden afirmam, sob condição de anonimato, que a Casa Branca tem alertado líderes estrangeiros, em todas as suas conversas, contra tentativas de interferir ou influenciar a eleição americana.
Nas redes sociais, chineses estão se passando por apoiadores do ex-presidente Donald Trump para espalhar teorias da conspiração, atacar Biden e fomentar divisões domésticas, segundo reportagem publicada pelo New York Times na última segunda-feira (1º). A estratégia teria semelhanças com a influência russa no pleito de 2016, vencido pelo republicano.
Esse é o primeiro contato direto entre os dois líderes desde a reunião bilateral realizada em novembro passado na Califórnia e o primeiro telefonema desde julho de 2022. O objetivo da conversa desta terça foi dar continuidade aos esforços de aproximação entre as potências após um período de estremecimento das relações.
Membros do governo Biden se dizem crescentemente apreensivos com o impacto da aliança entre Pequim e Moscou sobre a segurança da Europa no longo prazo. Na avaliação dessas autoridades, a China chegou a tomar ações concretas, mas retrocedeu recentemente, fornecendo insumos para a indústria bélica russa em seus esforços contra a Ucrânia.
Em relação ao Oriente Médio, os americanos buscam pressionar a China a usar sua influência sobre o Irã para encerrar os ataques dos rebeldes houthis contra civis no mar Vermelho. O temor dos EUA é que a continuidade dessas ações possa desestabilizar ainda mais a região, palco da guerra entre Israel e Hamas, e afetar rotas comerciais.
Biden também reiterou seu compromisso com a paz e a estabilidade de Taiwan, tendo em vista especialmente a posse do presidente-eleito, Lai Ching-te, em maio. A China vem adotando uma postura crescentemente dura contra a ilha, que considera uma província rebelde.
O presidente americano manifestou também preocupação com a erosão da autonomia de Hong Kong e a violações de direitos econômicos.
Já os temas em que a Casa Branca vê oportunidades para cooperação são combate a narcóticos, inteligência artificial, crise climática e retomada das comunicações entre as forças militares de cada lado.
Segundo membros do governo, desde o encontro presencial no ano passado, a China começou a implementar ações para restringir o fluxo de substâncias químicas utilizadas na fabricação de drogas sintéticas –vem do país asiático boa parte dos insumos para a fabricação de fentanil, por exemplo, narcótico no centro de uma crise de saúde pública nos EUA.
Nas próximas semanas, os países devem promover um diálogo específico sobre os riscos oferecidos pela inteligência artificial e as formas de controlar essa tecnologia. No mês passado, tanto EUA quanto China apoiaram uma resolução aprovada nas Nações Unidas sobre o tema.
Nos próximos dias, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, deve fazer uma visita à China. Nas semanas seguintes, será a vez do secretário de Estado, Antony Blinken.