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Ativistas LGBTQIA+ palestinos criticam uso da bandeira arco-íris por Israel em Gaza – 24/11/2023 – Mundo

Em meio a uma Faixa de Gaza em ruínas, um soldado israelense exibe a bandeira LGBTQIA+. A foto, publicada pelo perfil oficial do Estado de Israel no X, voltou a levantar o debate sobre “pinkwashing” feito pelo país. O termo se refere à apropriação de imagens e pautas do movimento LGBT+ para fazer propaganda de empresas e Estados.

“A primeira bandeira do orgulho LGBT hasteada em Gaza”, publicou em 13 de outubro Israel. A imagem teve mais de 16 milhões de visualizações.

Tel Aviv é acusada por ativistas dos direitos LGBT+ de se apropriar da causa em sua guerra contra o Hamas. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores israelense, o militar da imagem se chama Yoav Atzmoni e quer “enviar uma mensagem de esperança à população de Gaza que vive sob o jugo do Hamas”.

Outra imagem, de um soldado na frente de um tanque com a bandeira de Israel com as extremidades nas cores do arco-íris, foi publicada no X pelo roteirista britânico Lee Kern. O Exército israelense “é a única força armada que concede aos gays a liberdade de ser quem somos”, diz Atzmoni, citado por Kern. Atzmoni e Kern não responderam a pedidos de comentário da AFP.

As duas imagens também foram publicadas pelo consulado-geral de Israel em São Paulo.

Essas afirmações irritaram ativistas dos direitos LGBT+ mundo árabe e além. A bandeira arco-íris “não tem absolutamente nada a ver com essa guerra”, afirmou à AFP Nas Mohamed, fundador da Alwan, fundação pelos direitos LGBT+ nos países do Golfo.

Para Mohamed, ativista refugiado nos Estados Unidos, “nunca devemos aproveitar a evolução dos direitos de um grupo de pessoas”, neste caso, dos israelenses, “para usá-los como arma contra aqueles” que não se beneficiam deles, em referência aos palestinos.

“A fotografia é repugnante”, diz Ahmad Nawwas, ativista LGBT+ palestino que usa um pseudônimo e vive refugiado na Europa. Reivindicar esse “primeiro momento” quer dizer que “os queer palestinos não existem” ou que “podem ser livres apenas se dependerem de Israel”, diz.

Além disso, Israel estaria reforçando a homofobia entre os palestinos, que podem “associar os homossexuais a algo que é exclusivo de Israel”, acrescenta Nawwas.

Em retaliação ao ataque do Hamas no dia 7 de outubro, que causou 1.200 mortes, principalmente de civis, segundo as autoridades do país, Israel tem realizado ataques incessantes na Faixa de Gaza. O Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, estima que 14.854 palestinos tenham morrido desde então.

Israel usa “os direitos LGBT+ como um cavalo de Troia”, afirma Rasha Younes, pesquisadora dos direitos LGBT+ no Oriente Médio da ONG Human Rights Watch, para se apresentar como “um bastião dos direitos humanos na região”, enquanto o país realiza uma “repressão sistemática dos palestinos”.

Israel possui uma importante comunidade LGBT+, especialmente em Tel Aviv, apelidada de “a capital gay do Oriente Médio”. Embora apenas os casamentos religiosos (e, portanto, heterossexuais) sejam reconhecidos por lei, a união entre pessoas do mesmo sexo feita no exterior é reconhecida pela legislação.

O contraste é imenso com a sociedade palestina, onde a homossexualidade é tabu.

Em um artigo publicado no início de novembro no New York Daily News, o presidente da ONG LGBT Network pediu às pessoas LGBT+ que “apoiassem Israel”. “É uma questão de princípios e sobrevivência”, defendeu David Kilmnick, afirmando que o Hamas, no poder em Gaza desde 2007, “persegue, tortura e mata pessoas LGBT”.

Da mesma forma, na Cisjordânia, “é inegável que a Autoridade Palestina restringe os direitos das pessoas LGBT”, diz Rasha Younes, da Human Rights Watch. “Mas isso não apaga os abusos cometidos pelo governo israelense, que privou muitos palestinos do acesso a serviços básicos e de todo tipo de liberdade, sejam homossexuais ou não”, acrescenta.

Fonte: Folha de São Paulo

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