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Uma das mais conhecidas ativistas pró-democracia de Hong Kong, Agnes Chow deixou Hong Kong anunciou nas redes sociais que vai violar os termos da sua fiança e pedir refúgio no Canadá.
Chow foi presa em 2020 e posteriormente condenada a uma pena de 10 meses de prisão pela participação em “uma assembleia ou reunião não autorizada”. Seu caso é um dos primeiros processados sob a lei de segurança nacional imposta na cidade por Pequim em resposta aos protestos de 2019.
Libertada sob fiança em 2021, com a condição de que se apresentasse regularmente à polícia, ela foi aceita em um programa de mestrado numa universidade em Toronto. Seu passaporte, porém, continuava em poder das autoridades locais.
Nas redes sociais, ela contou no domingo que o documento só foi devolvido após concordar com “uma viagem patriótica” a Shenzhen. A autorização não a desobrigava de se apresentar à polícia, condição que ela agora pretende desrespeitar.
“Várias doenças emocionais colocaram meu corpo e minha mente em um estado muito instável. Não quero mais ser forçada a fazer nada e não quero mais ser forçada a ir para a China continental”, escreveu ela.
A polícia de Hong Kong disse que a ativista arrisca se tornar “uma fugitiva para o resto da vida” e a instou a não “desafiar o Estado de Direito”.
Por que importa: Agnes foi co-fundadora do movimento político Demosito, que incluiu os conhecidos ativistas Joshua Wong, atualmente preso e prestes a responder acusações que podem levá-lo à prisão perpétua, e Nathan Law, que vive como refugiado no Reino Unido e é oficialmente procurado pela polícia de Hong Kong.
Com sua retirada da vida pública e o pedido de refúgio no Canadá, Chow sacramentou o fim do movimento. Grande parte dos líderes das manifestações vive no exterior, impedidos retornarem para casa.
Pare para ver
Autor: De ascendência franco-chinesa, Allante é especialista em aquarelas e faz sucesso nos salões de arte da Europa. Leia mais sobre ele aqui. Os guarda-chuvas eram símbolos da democracia em Hong Kong.
O que também importa
★ Um blogueiro teve sua conta rede social banida após denunciar Hu Xijin, o ex-editor-chefe do tabloide nacionalista Global Times, por usar uma VPN para contornar a censura chinesa. Hu é conhecido pelos comentários ácidos anti-Ocidente nas redes sociais. A polêmica começou quando um tribunal em Sichuan publicou um vídeo no Weibo (Twitter chinês) advertindo internautas quanto ao uso de software para contornar o firewall, considerado ilegal. Em resposta, Xiang Dongliang citou o tribunal de Wenchuan e denunciou Hu às autoridades por usar uma VPN e acessar sites estrangeiros. No dia seguinte, a conta pessoal de Xiang no Weibo foi banida “devido à violação das leis e regulamentos relevantes”.
★ Um cartão de identificação que parece pertencer a um prisioneiro chinês foi encontrado dentro do forro de um casaco comprado por uma inglesa na Black Friday. A roupa da marca britânica Regatta, fabricada na China, veio com o objeto que tinha a foto de um homem aparentemente em uniforme de prisioneiro e o nome de uma prisão. A empresa está sendo acusada de usar mão-de-obra análoga à escravidão. A Regatta não se manifestou sobre o assunto.
★ Uma chinesa foi condenada a quatro anos e meio de prisão mais multa de 48.000 cedis ganeses (R$19.700) por mineração ilegal de ouro em Gana. Aisha Huang, conhecida na imprensa local como “Rainha Falamsey” foi considerada culpada por coordenar a operação de mineração ilegal. Ela se declarou inocente, mas depois assumiu a culpa. A defesa ainda não anunciou se vai recorrer da decisão.
Fique de olho
O Zoológico de Edimburgo, na Escócia, anunciou que vai devolver os pandas gigantes Yang Guang e Tian Tian após uma estadia de quase 12 anos. Os animais chegaram ao país em 2011 e se tornaram uma das atrações mais populares do local.
A devolução se dá após a expiração do contrato com a China. Como a espécie é endêmica do país asiático, todos os pandas do mundo pertencem aos chineses, que apenas emprestam os animais por um período de tempo, usualmente prorrogável.
Os dois pandas se somaram a Tian Tian, Mei Xiang and Xiao Qi Ji, que estavam no zoológico de Washington até o mês passado. Eles também foram devolvidos à China, após um acordo de renovação do empréstimo ter sido recusado.
Durante a cúpula da APEC, porém, Xi Jinping sinalizou que o país estaria disposto a enviar novos pandas para os Estados Unidos e chegou a mencionar a cidade de San Diego como potencial receptora.
O Zoológico de Edimburgo disse que não tem intenção de trazer novos pandas, já que focará esforços na proteção de outros animais em extinção.
Por que importa: presentear países amigos com pandas tornou-se uma das marcas mais célebres da diplomacia chinesa.
A história começou quando a mulher do ex-presidente americano Richard Nixon, Pat Nixon, se encantou com os animais durante a histórica visita do marido a Pequim. O então primeiro-ministro Zhou Enlai prometeu a ela presentear os EUA com dois exemplares.
Nas décadas posteriores, a “diplomacia do panda” se tornou marca registrada de Pequim. A reversão da política agora pode indicar crescente descontentamento chinês com o Ocidente como um todo.
Para ir a fundo
- A UFRGS recebe hoje (5), às 17h, a professora He Congzhi da Universidade de Agricultura da China para falar sobre revitalização rural e urbanização chinesa, com foco nas estratégias governamentais no setor para redução da pobreza. Informações aqui. (gratuito, em inglês).
- Cinco das melhores universidades da China realizam em janeiro um seminário explicando como se candidatar a bolsas de estudo no país. A sessão também vai explicar como funciona o sistema de ensino superior chinês. Inscrições aqui. (gratuito, em inglês).